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Sánchez chega-se ao Podemos e pede "união de forças" por Espanha
No debate de investidura, o primeiro-ministro em funções fez um longo discurso em que deixou de fora uma das questões centrais (Catalunha) para Espanha e que mais divisões provoca entre o PSOE e o Unidas Podemos. Pedro Sánchez abordou questões sociais que o aproximam do Podemos, a quem pede uma "união de forças" para "mudar a história de Espanha".
No arranque de uma semana decisiva para o primeiro-ministro espanhol ainda em funções, Pedro Sánchez fez um demorado discurso no início do debate de investidura que espera poder concluir com a formação de um novo governo em Espanha.
O secretário-geral do PSOE falou sobretudo de questões sociais que aproximam os socialistas do Podemos de Pablo Iglesias e, já perto do final da intervenção, apelou diretamente a que aliança de esquerda radical Unidas Podemos diga sim a um governo que promova um "progresso economicamente sustentável e uma distribuição equitativa da riqueza".
"Unamos as nossas forças, a nossa sensibilidade, a nossa inteligência e a nossa experiência para melhorar a vida dos espanhóis e assim mudar a história de Espanha", atirou Sánchez dirigindo-se ao Unidas Podemos.
De acordo com o La Vanguardia, Iglesias em momento algum aplaudiu as palavras ditas pelo líder do executivo espanhol que venceu de forma clara as eleições gerais do passado dia 28 de abril, porém distante da maioria absoluta, possibilidade cada vez mais difícil tendo em conta a fragmentação do parlamento espanhol.
Desde então, e dado que o Cidadãos de Albert Rivera mantém o veto a qualquer tipo de aliança com os socialistas, Pedro Sánchez tem tentado assegurar o apoio do Unidas Podemos. Primeiro deu prioridade a um governo do PSOE assente no apoio parlamentar do Unidas Podemos, porém Iglesias rejeitou conferir apoio a um executivo sem poder condicionar as políticas do mesmo, o que só considera ser possível integrando-o.
Sánchez foi sempre rejeitando tal hipótese até que, nos últimos dias, Iglesias abdicou da exigência de ele próprio ser ministro, exigindo apenas poder indicar nomes do seu partido para o governo.
Ainda sem um governo resultante das últimas eleições, e para evitar que se realizem as quartas eleições gerais em menos de quatro anos, o líder do PSOE, que começou por rejeitar a participação de ministros "políticos" do Unidas Podemos, preferindo a opção por nomes "tecnocratas", também cedeu para, segundo a imprensa espanhola, aceitar a possibilidade de ter no seu governo nomes como os de Irene Montero ou Pablo Echenique.
"Somos de duas tradições distintas da esquerda. Até agora falámos muito das nossas diferenças e estamos a confirmar não ser fácil encontrar um ponto de encontro", reconheceu Sánchez ao início desta tarde para depois salientar que vale muito a pena o esforço, desde logo para corresponder à "esperança depositada por milhões de compatriotas".
Quase sem abordar o tema mais divisivo da política espanhola, e um dos elementos de fratura entre PSOE e Unidas Podemos, Pedro Sánchez limitou-se a falar da questão da Catalunha para sustentar não fazer sentido impor "fronteiras internas" que vão contra a história espanhola.
Se pouco falou do processo soberanista catalão, Sánchez não deixou de falar e muito da forma como o PP e o Cidadãos se deixaram capturar pela extrema-direita (Vox) e, apontando a Rivera, disse não perceber o cordão sanitário levantado pelos liberais espanhóis ao PSOE para depois se aproximarem da direita radical.
Certamente sem grandes esperanças, Sánchez apelou a um "pacto de Estado" que permita responder à atual "realidade parlamentar" – um parlamento muito fraturado – com a sua investidura como primeiro-ministro logo à primeira votação, cenário de todo improvável.
Quando terminar o debate de investidura iniciado esta segunda-feira, na tarde de terça-feira a câmara baixa do parlamento realiza uma primeira votação de investidura, sendo necessária uma maioria absoluta (pelo menos 176 apoios) para investir Sánchez como primeiro-ministro.
Mesmo juntos, PSOE e Unidas Podemos somam apenas 165 deputados, pelo que se alcançarem acordo para uma aliança de governo só poderão investir Sánchez como primeiro-ministro numa segunda votação a realizar 48 horas depois do início da primeira, em que basta apenas uma maioria relativa (mais votos a favor do que contra) sendo precisas, ainda assim e no mínimo, algumas abstenções.