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Itália já tem governo a caminho mas investidores temem programa 5 Estrelas-Liga

Apesar de se aproximar o fim do bloqueio político em Itália, os investidores mostram apreensão quanto ao programa político do futuro governo, atirando a bolsa transalpina para o vermelho e elevando os juros para máximos de Março.

10 de Maio de 2018 às 14:43
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Foram dados "passos significativos em frente" com vista à formação de uma coligação de governo entre o Movimento 5 Estrelas e a Liga. Foi esta a mensagem principal saída do encontro entre os líderes destas forças, Luigi Di Maio e Matteo Salvini, que decorreu na manhã desta quinta-feira, 10 de Maio, no parlamento transalpino.

 

Mais do que discutir o elenco governativo, que Di Maio e Salvini querem apresentar ao presidente italiano Sergio Mattarella até à próxima segunda-feira, esta manhã os líderes do 5 Estrelas e da Liga começaram já a "definir o programa e as prioridades do governo", adianta o La Repubblica. Nesse sentido, equipas técnicas dos dois partidos vão reunir-se esta tarde para começar a preparar um acordo programático.

 

No entanto, apesar dos sinais que antecipam que poderá estar para breve o fim do bloqueio político saído das eleições gerais de 4 de Março, os investidores estão a reagir com desconfiança, o que poderá dever-se ao receio quanto ao programa político de duas forças que, apesar das diferenças ideológicas, partilham uma índole populista.

Assim, a bolsa italiana segue a recuar mais de 1% depois de já ter perdido mais de 1,5% durante a manhã, enquanto os juros da dívida pública transalpina estão em alta generalizada, sendo que no prazo de referência a 10 anos a "yield" sobe 2,4 pontos base para 1,91%, um máximo de 20 de Março.

Em causa poderão estar as propostas-bandeira do 5 Estrelas (rendimento de cidadania) e da Liga ("flat tax", uma taxa plana de IRS de 15%), já que ambas exigem um forte aumento da despesa orçamental. O La Stampa escreve apesar de o 5 Estrelas ser contra a "flat tax" por beneficiar os rendimentos mais altos, os "grillini" poderão aceitar uma taxa fixa desde que assegurados "mecanismos de progressividade".

Quanto ao rendimento de cidadania – que os cálculos apontam para um custo anual de 30 mil milhões de euros -, o Il Sole 24 Ore adianta que os dois partidos estarão a trabalhar numa solução intermédia entre a proposta do 5 Estrelas (1.560 euros para famílias com três pessoas e 1.950 para famílias com quatro) e a medida defendida pela Liga (750 euros por mês para desempregados, conferido durante três anos sob a forma de empréstimo com 0% de juros).

A solução de compromisso poderá passar por um "rendimento de autonomia", tal como o já existente na Lombardia, e que consiste na atribuição de um rendimento mensal de 800 euros para as famílias com dificuldades (e atribuível apenas nos casos em que se verifique uma procura activa de emprego).

Contudo, aplicado ao nível nacional e não circunscrito a uma região do norte do país, tal rendimento também teria enorme peso nas contas públicas transalpinas.

Outra vontade política com potencial para provocar um rombo no orçamento é acabar com o sistema de pensões resultante da "reforma Fornero" (nome de Elsa Fornero, ministra do Trabalho do governo de Mario Monti). Salvini quer revogar as normas então instituídas enquanto, numa abordagem mais moderada, Di Maio propõe "reformar a reforma Fornero".

Nas discussões que terão lugar nas próximas horas e dias, o objectivo passará por recuperar a modalidade de pensões por velhice, regressando às pensões para os trabalhadores com pelo menos 40 anos de contribuições. Estará também em discussão a adopção da "quota 100" e da "quota 41". No primeiro caso, é concedida pensão quando a soma dos anos de descontos e da idade do trabalhador for de pelo menos 100, e no segundo caso é atribuída pensão quando o trabalhador tiver pelo menos 41 anos de descontos.

 

Outro ponto determinante da discussão programática vai incidir na gestão da imigração, um tema que marcou a última campanha eleitoral e que é especialmente caro à Liga. O objectivo de Salvini é reforçar e agilizar os mecanismos de deportação de imigrantes clandestinos e a expulsão de migrantes em condições irregulares.

Tudo aponta para que Salvini assegure a pasta da Imigração se as negociações chegarem a bom porto, devendo Di Maio assumir a liderança do Ministério dos Negócios Estrangeiros. A chefia do Governo, escreve a imprensa italiana, poderá recair numa figura de qualquer dos partidos, embora a preferência possa passar por um independente. 

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