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Extrema-direita pode governar na Andaluzia e dar mote a Sánchez
Depois de pela primeira vez entrar, em democracia, num parlamento regional espanhol, a extrema-direita espanhola poderá aliar-se ao PP e ao Cidadãos para governar a Andaluzia. Pedro Sánchez rejeita antecipar eleições gerais mas já se prepara para assumir liderança com o crescimento da direita radical.
As análises aos resultados nas eleições andaluzes deste domingo variam entre o destaque dado à derrocada dos socialistas (PSOE), que pela primeira vez na história democrática podem perder o governo andaluz, e à irrupção da extrema-direita (VOX), que nunca havia entrado num parlamento regional desde a transição democrática. Mas a grande novidade foi mesmo o apoio dado ao bloco da direita pelo eleitorado andaluz.
É que depois de 36 anos de governação socialista na região autonómica, as eleições de ontem resultaram numa maioria absoluta do bloco da direita (PP, Cidadãos e Vox), que poderá entender-se para formar governo e afastar os socialistas. Com a totalidade dos votos praticamente concluída e com a distribuição de assentos definida, já se começam a fazer contas tanto sobre o futuro da Andaluzia como do governo espanhol.
Mesmo vencendo, o PSOE perde 14 assentos parlamentares e uma eventual coligação com a Adelante Andalucía (aliança andaluza entre Podemos, Esquerda Unida e ecologistas) é insuficiente para chegar aos 55 deputados que dão maioria absoluta no parlamento andaluz.
Desta forma, só a direita dispõe de condições para chegar à maioria, assim PP e Cidadãos se disponham a coligar-se ou receber o apoio da extrema-direita. Isto tendo em conta que a baronesa socialista e ainda presidente do governo regional, Susana Díaz, parece recusar apoiar um governo que seja liderado pelo PP ou chefiado pelo Cidadãos. Díaz é a grande derrotada, vendo sair furada a estratégia de antecipar eleições para conter potenciais danos provocados pela governação do PSOE ao nível nacional.
De parte parece estar definitivamente a reedição de coligação PSOE-Cidadãos, com este partido de centro-direita a recusar governar coligado com os socialistas, que sublinham ter sido o partido mais punido pelo eleitorado andaluz.
Depois de, ao longo da campanha, terem defendido que o candidato a chefiar o governo da Andaluzia deve ser o candidato mais votado da direita, os candidatos do PP (26 deputados), Juan Manuel Moreno (Juanma Moreno), e do Cidadãos (21 mandatos), Juan Marín, já sinalizaram querer governar e nenhum desdenha o apoio dos 12 deputados do Vox de Francisco Serrano (à direita na foto).
Juanma Moreno defende a "legitimidade democrática" conquistada tanto pelo Cidadãos como pelo Vox e lembra que o PSOE se aliou, ao nível nacional, com independentistas catalães e bascos para colocar Pedro Sánchez na Moncloa, para deixar claro que pode perfeitamente receber o apoio da extrema-direita. Com o Vox, Moreno espera estabelecer uma relação "fluída e sincera".
Gracias a esos 400.000 andaluces que habéis confiado en nosotros y que ahora tenéis las llaves de San Telmo para acabar con 40 años de régimen socialista y corrupto
¡HÉROES! Estos son los 12 diputados de VOX en Andalucía #AndalucíaporEspaña https://t.co/nR4kBKmHf4 — VOX Noticias (@voxnoticias_es) 3 de dezembro de 2018
O Vox, que a nível nacional é liderado por Santiago Abascal (ao meio na foto), foi mesmo o grande vencedor destas eleições. Os 12 deputados eleitos mostram que este partido não conquistou somente votos à abstenção e à direita, sobretudo junto do eleitorado tradicional do PP, como tmbém "roubou" muito do voto de descontentamento de eleitores que tradicionalmente votam à esquerda. Isto porque a quebra de votos no PSOE não foi acompanhada pelo reforço do Podemos, pelo contrário o conjunto das forças que integram a Adelante Andalucía perde dois deputados face a 2015. Também do lado dos vencedores está o Cidadãos, que passou de 9 para 21 deputados.
Sánchez muda de estratégia
"O meu governo continua", atirou o primeiro-ministro e líder socialista Pedro Sánchez, rejeitando leituras nacionais das eleições autonómicas andaluzas. Contudo, naquele que foi o primeiro teste eleitoral desde que Sánchez assumiu a liderança do executivo espanhol, o PSOE sai claramente fragilizado, pese embora os níveis favoráveis nas sondagens. Tendo chegado ao poder sem eleições mas na sequência de uma moção de censura contra o ex-primeiro-ministro Mariano Rajoy, Sánchez vê-se pressionado a antecipar eleições gerais, tal como se havia inicialmente comprometido. Tanto Pablo Casado (líder do PP) como Albert Rivera (presidente do Cidadãos) já vieram exigir eleições antecipadas.
Sr Sánchez, asuma la realidad: los andaluces le han dado la espalda a su alianza con todos los que quieren liquidar España. Y si sigue por el mismo camino, pronto se la darán todos los españoles. No todo vale. #EleccionesYa https://t.co/ZWDSTTexzX
— Albert Rivera (@Albert_Rivera) 3 de dezembro de 2018
Todavia e mesmo sem convocar eleições, o secretário-geral do PSOE pensa já nas próximas eleições gerais. Ante o crescimento da extrema-direita, Sánchez assume o combate contra o crescimento do radicalismo. Nesse sentido, o responsável pela organização interna do PSOE e ministro do Fomento, José Luis Ábalos, avisou já que agora o "combate" dos socialistas é "liderar a frente democrática na batalha pela democracia contra o medo". Daí não ser inocente a pergunta por este formulada sobre se PP e Cidadãos pretendem assumir como seus os votos da extrema-direita.
Ou seja, às críticas de que se aliou a forças da extrema-radical (Unidos Podemos) e independentistas para governar vindas da direita (PP e Cidadãos), Pedro Sánchez pretenderá responder que o PSOE é o partido melhor posicionado para impedir que a extrema-direita chegue à Moncola.