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António Vitorino: A Europa precisa de imigração legal
A Europa precisa de imigração legal pelo impacto positivo que tem na economia de cada país e é "pura demagogia" dizer que os imigrantes são um peso para o Estado social, defende o ex-comissário europeu António Vitorino.
"Sou da opinião de que a Europa precisa de imigração legal e que essa imigração tem um efeito positivo no sentido do rejuvenescimento da população, (…) do dinamismo [da economia] (…) e do ponto de vista financeiro", disse o ex-comissário europeu em entrevista à agência Lusa.
Vitorino assegurou não querer "pintar um quadro cor-de-rosa" e ter "perfeita consciência" das tensões sociais que resultam da diversidade étnica, linguística, cultural e religiosa, mas considerou que "as sociedades europeias são suficientemente fortes para enfrentarem esses desafios" e "resistir à pressão populista".
Segundo Vitorino, isso ocorre porque os imigrantes são em regra jovens que entram no mercado de trabalho, pagam impostos e contribuições sociais.
Essa juventude contribui por outro lado para rejuvenescer as envelhecidas sociedades europeias e introduzir dinamismo na economia.
"Não há aqui soluções mágicas. A imigração não resolve o problema do envelhecimento das sociedades europeias. O problema tem outras raízes e outras causas que têm que ser objecto de outras políticas públicas dirigidas aos cidadãos europeus. Mas obviamente que a imigração, sobretudo porque os imigrantes têm normalmente uma idade jovem, é uma parte da resposta", afirmou.
A entrada de imigrantes tem também "um aspeto positivo de dinamismo", porque envolve pessoas que "não estão acomodadas" e podem, se forem bem integradas, distinguir-se "no domínio do empreendedorismo, da inovação, da diversidade cultural".
Tudo depende da boa integração dos imigrantes, a qual pode ser facilitada por políticas públicas, sobretudo se assumidas "a sério", em linha com os valores europeus.
"O caso da Alemanha é talvez um caso exemplar. Até ao momento, a prova que está a ser feita é que, com uma liderança política clara, com vontade política e com a coragem de enfrentar aquilo que muitas vezes se pensa que é a opinião pública dominante, em nome de valores e de princípios humanistas e de solidariedade, é possível ganhar o debate", disse.
"Até este momento, a Alemanha é talvez o país da linha da frente onde este debate entre a deriva populista, a xenofobia, o fechar-se sobre si próprio, o pensar pequenino e mesquinho, é confrontado por um poder político que assume a dificuldade de integrar essas pessoas na sociedade em nome de valores e princípios que são a negação do radicalismo e da violência, sejam eles dos movimentos de extrema-direita que existem na Europa ou do terrorismo ‘jihadista’", explicou.
"O combate é em duas frentes mas eu confio que as democracias europeias são suficientemente fortes para o ganharem", assegurou o ex-comissário da Justiça e Assuntos Internos (1999-2004).