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Apenas um em vinte jovens ganha mais de 900 euros

Jovens são um dos grupos mais prejudicados pelo desemprego e precariedade. Longos períodos sem trabalho podem deixar cicatrizes profundas.

Miguel Baltazar/Negócios
25 de Fevereiro de 2014 às 08:00
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Quatro em cada dez jovens portugueses estão desempregados. Com 137 mil à procura de trabalho, a taxa de desemprego de 37,7% é uma das mais altas da Europa (era 18% em 2008). Mesmo os que conseguem encontrar emprego, vêem-se confrontados com uma forte segmentação do mercado de trabalho. Quase 60% dos empregados por conta de outrem têm vínculos precários (contrato a prazo ou recibo verde) e o seu salário médio líquido é 515 euros. As estimativas do INE apontam para que, entre a geração mais qualificada de sempre, apenas 4% esteja a receber mais de 900 euros.

Numa situação de crise económica, é comum os mais jovens serem um dos grupos mais afectados. As empresas fecham a torneira das contratações e muitas recorrem ao despedimento. O custo é um critério importante. É mais fácil despedir alguém que trabalhe há um ano na empresa, com contrato a prazo e um salário de 600 euros do que quem esteja nos quadros da empresa há 20 anos, com um salário de 1.500 euros e uma indemnização mais elevada.

O engrossar do número de de- sempregados torna a concorrência mais feroz para os jovens que acabam de sair da universidade sem qualquer experiência profissional. O risco é entrar num ciclo vicioso. Vários estudos concluem que, quanto mais tempo se está alienado do mercado de trabalho, mais difícil é entrar ou regressar. Além da degradação das capacidades e motivação, começa a instalar-se um preconceito entre os empregadores. Longos períodos de desemprego influenciam salários futuros e até a performance académica dos futuros filhos. No final de 2013, 45% dos jovens portugueses desempregados estavam sem trabalho há mais de um ano. Em 2011 eram 32%.

Um estudo de 2009 citado há um mês pelo governador do Banco de Portugal concluía que jovens adultos que entram no mercado de trabalho num período de recessão "tendem a considerar que o sucesso individual depende mais da sorte do que do esforço".

Para os responsáveis políticos pode ser tentador dar menos relevância aos jovens. Normalmente têm o apoio dos pais, poucas obrigações financeiras e muito tempo pela frente para inverterem a sua situação. Muito importante: muitos ainda não podem votar e outros abstêm-se. No entanto, Portugal já assistiu aos protestos da "Geração à Rasca". Lá fora os protestos multiplicam-se. Das praças ocupadas pelos "Indignados" e "Occupy" às revoluções semeadas e ditadores derrubados no Norte de África. O rastilho que fez explodir a Primavera Árabe esteve ligada a uma juventude desempregada, sem perspectivas de futuro e sem nada a perder.

Entre os países da OCDE, a taxa de desemprego jovem está nos 16,5%, cerca de 2,5 vezes o superior ao valor registado em faixas etárias acima de 25 anos. "Em todos os países existe um grupo de jovens que enfrentam várias combinações de desemprego elevado e persistente, baixa qualidade dos trabalhos que encontram e risco elevado de exclusão social", escrevem os técnicos da OCDE, acrescentando que, num contexto de envelhecimento da população, integrar este grupo "é crucial não só para melhorar as suas perspectivas de emprego e bem-estar, como para fortalecer o crescimento económico, equidade e coesão social."

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