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Quase um terço dos jovens tem qualificações a mais para o emprego que conseguem

Existe um desfasamento entre as expectativas dos jovens e aquilo que o mercado de trabalho tem para lhes oferecer, revela o estudo "Mais e Melhores Empregos para os Jovens". Quem tem mestrado, consegue melhores salários, mas o emprego jovem regista ainda uma baixa qualidade.

06 de Dezembro de 2022 às 10:08
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Cerca de 30% dos jovens graduados com idades entre os 25 e os 34 anos, em Portugal, são considerados sobrequalificados para a profissão que exercem, segundo o Livro Branco "Mais e Melhores Empregos para os Jovens", divulgado esta terça-feira. 


O trabalho, realizado pela Fundação José Neves, pelo Observatório do Emprego Jovem e pelo Escritório da Organização Internacional do Trabalho (OIT) para Portugal, conclui que há um "desfasamento entre as expectativas dos jovens e as oportunidades oferecidas pelo mercado de trabalho, que impacta a satisfação e realização pessoal com o emprego". E que esta realidade "expressa-se na sobrequalificação de muitos jovens nas profissões que exercem".


De acordo com o documento, em 2019, entre os jovens trabalhadores com idades entre os 25 e os 34 anos que completaram o ensino superior, 30,1% eram sobrequalificados para a profissão que exerciam, um acréscimo em seis pontos percentuais face a 2010 (24,1%). E "esta sobrequalificação é particularmente saliente no setor das plataformas digitais ('crowdwork'), que emprega muitos jovens e tem vindo a expandir-se significativamente ao longo da última década e em particular com a pandemia da covid-19".


O documento refere que quase metade dos jovens em Portugal (48%) tinha o ensino superior em 2021 e os mestrados correspondiam a 38% dos diplomados entre os 24 e 34 anos de idade, um dado comparável com 14% em 2011.


Jovens com mestrado ganham em média mais 22% que licenciados


Outra conclusão que este Livro Branco revela éneg que em 2019 os jovens com mestrado ganhavam, em média, mais 22% que os licenciados, um valor superior em 12 pontos percentuais face a 2010.


Com efeito, o prémio salarial associado à educação tem vindo a diminuir nos últimos anos para quem tem licenciatura, mas no caso dos jovens com mestrado aumentou. Em 2010, um jovem adulto (entre os 25 e 34 anos) com licenciatura ganhava, em média, mais 95% do que um jovem com ensino básico e mais 59% do que um jovem com o ensino secundário, mas, em 2019, estes diferenciais caíram para 60% e 42%, respetivamente.


Por outro lado, o prémio salarial associado ao mestrado "aumentou substancialmente".  Em 2019, segundo o Livro Branco, o salário médio de um jovem mestre, com idades entre 25 e 34 anos, era de 1.617,16 euros, enquanto o de um licenciado se fixava 1.326,76 euros. Já um jovem com o ensino secundário ganhava em média 934,44 euros e para um jovem com o ensino básico a média era de 827,65 euros.


Olhando para os salários reais, o Livro Branco revela ainda que as remunerações dos jovens trabalhadores licenciados recuaram 14,5% entre 2010 e 2019, enquanto para os mestres e doutorados a queda salarial real foi de 5,1% e de 5,6% respetivamente.


Para os jovens com o ensino secundário, a queda salarial real foi de 4,6% no mesmo período, tendo, no entanto, os salários subido em 3,7% no caso dos jovens com o ensino básico.


Emprego jovem tem baixa qualidade


Apesar do nível elevado de qualificações, o emprego jovem em Portugal "continua a ser de baixa qualidade", uma tendência acentuada durante as crises económicas, sendo a vulnerabilidade do emprego dos jovens, mesmo dos mais qualificados, também verificada na transição para o mercado de trabalho, indica o estudo.


Desde 2015, a taxa de desemprego dos jovens com menos de 25 anos tem sido mais do dobro da população em geral e, durante a pandemia de covid-19, chegou a ser 3,5 vezes mais.


Esta evolução negativa explica-se, em parte, segundo o relatório, pela percentagem de trabalhadores jovens (15-24 anos) com contratos a termo certo, de 53,9% em 2021, e pelo facto de, durante a pandemia, ter havido elevada destruição deste tipo de emprego, sobretudo na hotelaria e restauração.


Por outro lado, as medidas do Governo para contrariar os efeitos da pandemia, como o 'lay-off' simplificado, "incentivaram as empresas a não despedir trabalhadores, mas não asseguraram que estas renovavam os contratos temporários", pode ler-se no Livro Branco.


Para os autores, "a articulação entre sistema de ensino e mercado de trabalho deve ser uma prioridade, nomeadamente através do reforço e diversificação das ofertas formativas, mas também através do envolvimento dos empregadores na comunicação e no desenvolvimento de competências procuradas".

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