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Teodora Cardoso: "Risco de resgate nunca está afastado"

Portugal devia esta mais preocupado com a dificuldade de acesso ao financiamento do que com a eventual aplicação de sanções por Bruxelas, considera a presidente do CFP em entrevista à TSF.

Bruno Simão/Negócios
Negócios 21 de Maio de 2016 às 12:13
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A presidente do Conselho de Finanças Públicas (CFP) aponta que o elevado endividamento do país e a dificuldade de acesso dos bancos a financiamento penaliza o país e que o cenário de recorrer a um novo resgate nunca está definitivamente afastado.

"Ele [risco de resgate] nunca está afastado. Espero que não, que haja consciência que esse é um caminho muito doloroso", afirma Teodora Cardoso em entrevista à TSF, difundida este sábado, 21 de Maio.

"Temos uma dívida externa muitíssimo elevada, uma das mais altas do mundo em termos proporcionais, a dívida dos privados controlou-se um pouco, mas a dívida das empresas é muito elevada, os bancos precisam de se capitalizar e esse capital não existe", argumentaa presidente do CFP.

Aliás, mais do que as preocupações com eventuais sanções da Comissão Europeia pela não saída do procedimento por défices excessivos, era o acesso ao financiamento que devia fazer soar os alertas, defende:

"Esse financiamento está em risco mais depressa que as sanções pecuniárias da UE. Esse está sempre em risco. Somos um país altamente vulnerável, já nos devemos ter esquecido disso".

Segundo a estação de rádio, Teodora Cardoso refere que, "pelo menos no curto prazo", a aposta do Governo na reanimação do consumo interno não teve eficácia. Os números do PIB "não foram bons", concedendo no entanto ser necessário mais tempo para verificar os resultados. E defende a captação de investimento, que traga financiamento.

A economista refere ainda que o Programa de Estabilidade deste Governo deixa mais medidas em aberto do que os dos anteriores Executivos (a falta de especificação, diz, é uma crítica "quase crónica" que o CFP faz aos Governos) e que é "insuficiente" o Governo dizer apenas que vai controlar a despesa.

"Se admitirmos que tudo está encaminhado para atingirmos os 2,2% ou 2,3% de défice, será um alívio. Mas esse alívio ainda vai ter grandes dificuldades. É uma redução importante no défice. As medidas que estão bem definidas (...) são de aumento do défice e não de redução. E depois há um conjunto de compromissos do governo que garante que vai conseguir compensar essas medidas e controlar despesas. Mas essas não estão especificadas", refere.

E aí inclui o impacto do regresso das 35 horas à Função Pública."Não vai ser pequeno o impacto dessas medidas, que vão repercutir-se no segundo semestre", afirma.

O facto de só em Outubro o Governo voltar a olhar para as perspectivas de crescimento leva a que a economista tema que, para 2016, já não se vá "a tempo ou dificilmente se vai a tempo [de corrigir os desvios]". "Os objectivos anuais precisavam de ser acompanhados mais de perto", nota.

Teodora Cardoso afirma ainda que se a correcção do défice se dever só à conjuntura, "não se reflecte no défice estrutural" em que Bruxelas é bastante exigente, antecipando que isso possa trazer "problemas" mais à frente. "A Europa está muito mais atenta ao nosso Orçamento, mesmo sem sanções. E vai ser intrusiva", garante.
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