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Quem é o homem escolhido pelo Governo para traçar a retoma do país?

António Costa Silva, o nome escolhido pelo Governo para desenhar o plano de recuperação do país, é defensor de uma “combinação virtuosa entre o Estado e o mercado”. E, no passado, não poupou críticas ao atual Governo.

Miguel Baltazar/Negócios
01 de Junho de 2020 às 15:23
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António Costa Silva foi o homem escolhido pelo Governo para desenhar o plano de retoma do país. Apesar de atualmente o seu nome estar sob os holofotes mediáticos, tem um perfil reservado. O gestor, que esteve quase sempre ligado ao mundo do petróleo, já fez duras críticas ao atual Governo, tendo mesmo ameaçado em 2018 que devido à "falta de visão do governo de esquerda" a Partex ia deixar de investir em Portugal. Afinal, quais são as ideias defendidos pelo conselheiro independente chamado por António Costa para relançar a economia?

Nasceu em 1952 na cidade angolana de Catabola. E foi precisamente em Angola, em 1980, que iniciou a sua carreira profissional na Sonangol, fazendo parte do departamento de Produção. Mais tarde, entre 1984 e 1997, trabalhou na Companhia Portuguesa de Serviços. E, de 1998 a 2001, foi diretor executivo da CGG [Compagnie Générale de Geophysique], tendo dirigido o escritório da multinacional francesa em Lisboa e coordenado projetos de Exploração e Produção no Médio Oriente (Bahrain), no México e na Rússia.

De 2001 a 2003 trabalhou no Instituto Francês do Petróleo (IFP), em Paris, como diretor de Engenharia de Reservatórios e diretor de Operações, tendo depois integrado a comissão executiva da Partex, onde se mantém até à data.

O percurso académico é marcado também pela área de energia. Com uma licenciatura em Engenharia de Minas pelo Instituto Superior Técnico de Lisboa (IST), onde também dá aulas, fez  ainda um Mestrado em Engenharia de Petróleos no Imperial College (Universidade de Londres). Tem ainda doutoramento no IST e no Imperial College, onde defendeu uma tese sobre "O Desenvolvimento de Modelos Estocásticos aplicados aos Reservatórios Petrolíferos".

As críticas ao Governo e a "missão cívica"

Tendo em conta a vasta experiência académica e profissional no universo do petróleo e minas, as suas intervenções públicas têm sido praticamente todas sobre os temas de energia.

O programa que irá elaborar, e que servirá de base para as políticas de recuperação do país, vai assentar em várias áreas como transportes ferroviários; infraestruturas portuárias; gestão de recursos de água; competências digitais das pequenas e médias empresas, entre outras. "O que se pretende é uma visão integrada de tudo isto", disse o gestor ao Eco.

O problema deste objetivo pode vir a estar nos temas relacionados com a transição energética, como alguns partidos têm vindo a defender. Isto porque a descarbonização é um dos pontos considerados essenciais e prioritários para a retoma da economia, não só a nível nacional mas europeu. E neste campo, as posições que António Costa Silva tem defendido nos últimos anos enquanto CEO da Partex são contraditórias.

Em fevereiro de 2018 disse em entrevista ao Público que a Partex ia deixar de investir em Portugal devido à falta de visão do governo de esquerda. Declarações que surgiram após o Governo ter cancelado a prospeção de petróleo e gás na bacia de Peniche e do Algarve.

 

"Apostámos no projeto do Algarve [em parceria com a Repsol] porque existia um Governo em que o ministro Álvaro Santos Pereira, que foi muito criticado, tinha a preocupação de desenvolver os recursos naturais e percebeu que o país precisava de uma onda de reindustrialização e que isso criaria riqueza e emprego", disse na mesma entrevista. "Quando mudou o Governo, passámos para o ciclo oposto, que é governar em função do que dizem os autarcas e a opinião pública, sem haver uma visão clara da importância que o projeto Algarve poderia ter", criticou.

Apesar destas declarações, no seu espaço de opinião no jornal Público é possível perceber que a transição energética é uma das preocupações do gestor. Apesar de sublinhar que "não é justo demonizar os combustíveis fósseis". "Evidentemente que houve excessos, sobretudo na questão das emissões de CO2, mas o carbono é a molécula da vida", disse em entrevista ao Dinheiro Vivo em outubro de 2019.

Uma das soluções apontadas pelo gestor para este problema segue, em parte, a estratégia do atual Governo: encerrar as centrais a carvão. Porém, em vez de a substituição ser feita através de fontes renováveis, na mesma entrevista na qualidade de CEO da Partex defendeu que a solução deveria ser por "substituir as centrais a carvão por centrais a gás. As emissões de CO2 são 60% inferiores".

Mais recentemente, no mês passado, António Costa Silva voltou a lançar algumas criticas às politicas publicas. Durante um "webinar", de um ciclo promovido pela Ordem dos Engenheiros, o responsável da Partex atribuiu os sucessivos falhanços de anteriores programas de relançamento da industrialização à "pouca inteligência das políticas públicas". "Temos de ter receitas novas e sou contra a ortodoxia de direita e esquerda", afirmou.

E defendeu que "é preciso haver uma revalorização do Estado, sendo que os mercados são plataformas extraordinárias, mas tem de haver simbiose entre Estado e mercados". 

Esta "combinação virtuosa entre o Estado e o mercado" poderá, assim, vir a ser um dos pilares do plano que está a desenhar, tendo já reunido com os vários ministérios para recolher contributos para realizar esta missão que considera ser "apenas uma tarefa cívica".

"O meu trabalho é de mero cidadão. É apenas uma tarefa cívica que estou a desempenhar pro bono. Continuo na minha empresa e o resto são especulações sem fundamento", disse ao Eco, referindo-se à eventual substituição de Siza Vieira na pasta da Economia. 

Tal como o Expresso noticiou, Mário Centeno deverá deixar o cargo de ministro das Finanças em julho. A solução passaria por Siza Vieira ocupar a cadeira de Centeno e, por sua vez, o novo conselheiro independente que tanta criticas tem gerado, iria para ministro da Economia.

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