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Portugal volta ao radar, pelas piores razões

Relatórios de bancos de investimento e artigos na imprensa estrangeira traçam perspectivas desanimadoras. Handelsblatt escreve mesmo que “um novo resgate parece inevitável”.

25 de Agosto de 2016 às 18:30
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"Porque Portugal pode ser o próximo desastre económico da Europa", titula o site financeiro norte-americano MarketWatch, num artigo desta semana. Não é caso único. Portugal tem sido alvo de vários textos e relatórios de bancos de investimento pouco abonatórios. O último foi divulgado esta quinta-feira, 25 de Agosto, pelo Nomura.

O banco de investimento japonês salienta que "os elevados níveis de endividamento continuam a representar um risco", salientando que as obrigações portuguesas têm estado sobre pressão após os comentários da DBRS, no dia 19 de Agosto. Os títulos da dívida portuguesa estiveram em alta na semana passada, voltando a negociar acima dos 3% nas obrigações a dez anos, segundo dados da Bloomberg. A percepção de risco, medida pela diferença para os títulos da Alemanha, subiu para os 308,15 pontos base na segunda-feira, o nível mais alto desde meados de Julho.

O Financial Times escrevia na terça-feira que o "sell-off", uma venda acelerada de títulos, continuava a lavrar nas obrigações portuguesas. Isto, apesar de a Fitch ter mantido a classificação e o "outlook" para a dívida portuguesa na sexta-feira anterior, dia 19. O artigo do diário britânico também atribui a escalada nos juros a renovados receios de que a agência de "rating" DBRS baixe a classificação de Portugal, o que ameaçaria o acesso ao programa de compra de activos do BCE, já que é a única que atribui uma notação de "grau de investimento" (um nível acima de "lixo").

Juros da dívida a 10 anos voltaram a passar os 3% após declarações do responsável da DBRS
Juros da dívida a 10 anos voltaram a passar os 3% após declarações do responsável da DBRS

A DRBS veio mostrar preocupação em relação ao rumo da economia portuguesa, depois de os primeiros dados do INE para o segundo trimestre terem indicado uma estagnação do crescimento. Poucos dias após a divulgação dos números, Fergus McCornick, responsável pelos "ratings" de dívida pública da agência canadiana, afirmou em entrevista à Reuters estar preocupado com os sinais de debilidade da economia. "A perspectiva continua estável, mas as pressões parecem estar a aumentar".

Uma ideia repetida numa conversa com o Negócios, publicada esta segunda-feira: "Acreditamos que há mais pressões, resultado de crescimento baixo e essa é a nossa principal preocupação com Portugal, assim como com outros países avançados", diz McCornick. Ainda assim, está "confortável" com o "rating" actual. 

A escalada nos juros sofreu nos últimos dias uma ligeira correcção, baixando a fasquia dos 3%. Esta quinta-feira sobe muito ligeiramente para os 2,965%, um movimento a que não será alheio o anúncio da recapitalização da Caixa e a necessidade de um Orçamento Rectificativo.


Portugal sob pressão

Um dos relatórios citados pelo artigo de quarta-feira do MarketWatch foi divulgado dois dias antes pela Capital Economics. O economista Jack Allen escreve que "a forte subida nas taxas de juro exigidas nas obrigações portuguesas durante a semana passada reflectem os justificados receios sobre o "rating" do país". "Ainda que o Governo pretenda seguir as regras orçamentais da União Europeia, o baixo crescimento económico vai continuar a alimentar dúvidas sobre o ‘rating’", acrescenta.

O relatório, a que o Negócios teve acesso, põe a tónica nas "pressões". "Dados estes comentários [da DBRS], existe um risco claro de que a classificação da dívida de Portugal seja cortada". Jack Allen considera que, para evitar um conflito com a Comissão Europeia, "o Governo terá de anunciar novas medidas de austeridade".

Também o Nomura considera que o país estará sob um apertado escrutínio. "Acreditamos que o ‘rating’ poderá ficar sob pressão perante um menor compromisso político para com políticas económicas sustentáveis ou se o crescimento continuar a desapontar, como aconteceu no segundo trimestre, conduzindo a uma maior deterioração do rácio da dívida". O relatório assinala que as atenções irão voltar-se para Portugal em Outubro. No dia 15 é entregue o Orçamento do Estado para 2017 e enviado o "draft" para Bruxelas. Seis dias depois, a DBRS deverá pronunciar-se sobre a notação de Portugal.

O artigo da MarketWatch, que esteve na "homepage" do "site" desde a manhã de quinta-feira, dia 25, cita ainda o relatório divulgado pelo Berenberg no dia 19. O banco de investimento alemão também se pronuncia sobre a possibilidade de a DBRS baixar o "rating" de Portugal, cortando o acesso ao programa do BCE. "Ainda consideramos que Portugal vai escapar a esse destino. Mas o risco é sério", escreve Holger Schmieding, economista-chefe. "Um ‘sell-off’ em grande escala na sequência de um corte de ‘rating’ poderia forçar Lisboa a pedir novamente auxílio externo".

O Berenberg é ainda muito crítico em relação à política do actual Governo. "Depois de ter feito um grande progresso até 2014, Portugal está agora a pagar o preço pela reversão de algumas reformas", realça Holger Schmieding. O economista contrasta inclusivamente o caso português com o "exemplo espanhol" que, "com determinadas reformas e um esforço suficiente para estabilizar o seu sistema bancário, virou a esquina de vez em 2013".

Portugal a caminho de novo resgate?
Um artigo publicado esta segunda-feira no diário financeiro alemão Handelsblatt vai ainda mais longe. Sob o título "Pressão sob Portugal aumenta", Sandra Louven escreve que "Portugal está a caminho de outra crise financeira, devido ao elevado endividamento, baixo crescimento e bancos frágeis." E diz mesmo: "Um novo resgate da União Europeia parece inevitável", uma afirmação a fazer lembrar 2011. O artigo, reservado a assinantes, refere a subida das taxas de juro de Portugal e a já citada entrevista de McCornick à Reuters.

Justificados ou não, estes relatórios e artigos na imprensa internacional não ajudam à percepção externa de Portugal ou a atrair investimento. Ainda que, no financiamento do Estado, o Tesouro não tenha vindo a registar dificuldades na colocação das emissões.

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