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Portugal deslizou para défice externo no primeiro semestre

O saldo das balanças corrente e de capital que mede as relações financeiras com o exterior voltou a terreno negativo. O excedente da balança comercial quase desapareceu.

Pedro Elias
21 de Agosto de 2014 às 13:52
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O saldo das balanças corrente e de capital foi negativo em 39 milhões de euros no primeiro semestre do ano, o que compara com um excedente de 1,9 mil milhões de euros registado nos primeiros seis meses de 2013. Uma redução significativa do excedente comercial e um aumento dos rendimentos pagos ao exterior explicam mais de metade desta degradação das relações financeiras com o exterior.

 

Em termos estatísticos os 39 milhões de euros negativos não são muito diferentes de uma balança equilibrada nas relações com o resto do mundo. No entanto, a redução de quase dois mil milhões de euros num semestre é uma reversão significativa face aos excedentes obtidos durante o programa de ajustamento, e deixa o País longe da meta de um superavite de 4,8% do PIB inscrita pelo Governo no Documento de Estratégia Orçamental apresentado no final de Abril.

 

A continuar no segundo semestre, este desempenho da balança externa desafiará a sustentabilidade dos excedentes conseguidos em 2012 e 2013 e que foram apontados pela troika, Governo e Banco de Portugal como sinais de uma mudança estrutural da economia nacional ao abrigo das políticas de ajustamento aplicadas desde 2010.

 

Excedente comercial quase desaparece

 

 

O resultado talvez mais preocupante dos números avançados quinta-feira pelo Banco de Portugal é a evolução do saldo comercial, isto é, das receitas e despesas com a importação e exportação de bens e serviços. De acordo com o boletim estatístico, a economia nacional registou um saldo positivo nas relações comerciais com o exterior de 348 milhões de euros, menos 800 milhões de euros do que no primeiro semestre de 2013.

 

Os números do banco central permitem pela primeira vez fazer um balanço do que se passou no sector dos serviços nos primeiros seis meses do ano (o INE divulga apenas dados para os bens importados e exportados). Ficamos a saber que o País exportou 9,6 mil milhões de euros (onde se destacam turismo, transportes e serviços a empresas), uma subida de 5,4% face ao mesmo período de 2013. No entanto, o aumento das importações foi mais expressivo: 9,7% (de 5,2 para 5,7 mil milhões de euros), o que redundou numa quase estagnação do excedente comercial nesta balança nos 3,9 mil milhões de euros.

 

Do lado das relações comerciais com bens e mercadorias, Portugal exportou apenas mais 0,5% face ao primeiro semestre de 2013, mas importou mais 3,4%. O resultado foi um agravamento do défice desta balança de 2,8 mil milhões para 3,5 mil milhões de euros.

 

Sem os serviços para compensar as contas, o pior desempenho da balança de bens e mercadorias foi decisivo para a degradação do excedente comercial que caiu de 1.142 milhões de euros para os 348 milhões.

 

Mas o balança dos bens e serviços não está sozinha a explicar o agravamento das contas com o exterior na primeira metade de 2014. O défice da balança de rendimentos – que contabiliza os juros e dividendos pagos e recebidos – também se agravou, saltando de 3 mil milhões de euros no primeiro semestre de 2013 para 3,3 mil milhões. E nem a balança de transferências correntes (que conta as remessas de emigrantes e alguns fundos comunitários) ajudou, registando um excedente menor que há um ano.

 

Esta tripla degradação das balanças comercial, de rendimentos e de transferências correntes ditou um défice da balança corrente (que agrega as três anteriores) para 1.342 milhões de euros de 1,6% do PIB no primeiro semestre, um número já significativamente no vermelho, pelo menos quando comparado com a meta de um excedente de 3,4% do PIB para o final do ano, inscrita pelo Governo no documento de estratégia orçamental apresentado no final de Abril.

 

O défice externo de 39 milhões de euros resulta da agregação da balança corrente (com um défice de 1.342 milhões de euros) com a balança de capital, que inclui a maior parte dos fundos comunitários e registou um excedente de 1.302 milhões de euros.

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