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O dia em que os delegados também gritaram palavras de ordem

"Em vez de estar lá dentro a trabalhar, estou aqui há horas". O desabafo de uma delegada norueguesa, que esperava há cinco horas para conseguir entrar no Bella Center, resume o sentimento das dezenas de pessoas que se encolhiam de frio na longa fila para entrarem na Cimeira das Nações Unidas sobre as alterações climáticas.

15 de Dezembro de 2009 às 00:01
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"Em vez de estar lá dentro a trabalhar, estou aqui há horas". O desabafo de uma delegada norueguesa, que esperava há cinco horas para conseguir entrar no Bella Center, resume o sentimento das dezenas de pessoas que se encolhiam de frio na longa fila para entrarem na Cimeira das Nações Unidas sobre as alterações climáticas.

Delegados oficiais, jornalistas, membros de organizações não-governamentais esperavam que a polícia os deixasse passar o portão. Mas depois de sete horas em pé a tiritar de frio, e já com a noite cerrada, os ânimos aqueceram.

Primeiro numa pequena fila criada apenas para a comunicação social, mas que acabou por também ser impedida de entrar. "Shame on you!", gritaram os jornalistas de dezenas de países que pressionavam a barreira policial. Alguns minutos depois, uma voz ergueu-se na longa fila paralela: "O que queremos?", perguntava. "Entrar!", respondiam jornalistas, membros de organizações não governamentais (ONG) e... delegados.

"Deixem-nos entrar!", gritavam. Nada demoveu a dezena de polícias que guardavam a entrada e que aconselhavam as pessoas a voltar hoje bem cedo "com um bom agasalho".

Um delegado africano não largava o telefone para saber o que se passava no centro de conferências. "Sabe, estamos a fazer história, lá dentro", dizia, referindo-se à suspensão dos trabalhos durante a manhã de ontem provocada pelos países em desenvolvimento, que estão descontentes com o rumo que as discussões estão a tomar.



ONG com acesso restringido

A confusão era tanta, e a fila continuava tão longa, que às cinco da tarde, uma hora antes do horário previsto, um dos seguranças anunciou através de um megafone que ninguém mais poderia entrar no Bella Center para acreditação. E pediu às ONG para hoje já não se dirigirem ao centro de conferências.

Mike Edward, membro de uma organização britânica, que esperava há sete horas, não gostou do que ouviu. "Mandaram-nos convites e agora não nos deixam entrar!", dizia, agitando a carta da organização.

Franz Matzner, também de uma ONG, veio dos Estados Unidos propositadamente para a cimeira. Chegou no domingo e ontem esperava juntar-se aos colegas que já estão no Bella Center a fazer lóbi para que na próxima sexta-feira haja um acordo para travar as alterações climáticas que tenha luz verde do seu país. Está zangado: "Se não tinham capacidade para tanta gente, tinham avisado com antecedência!".

Não avisaram e acabaram por restringir o acesso ao interior da conferência. De acordo com Francisco Ferreira, da Quercus, dos 20 mil membros de organizações acreditados, hoje só poderão entrar sete mil e na sexta-feira não poderão ser mais do que 90, uma situação que promete gerar muita contestação.

Mas se à porta do Bella Center as palavras de ordem tinham como objectivo a entrada na conferência; nas ruas de Copenhaga havia grupos a manifestar-se pelas mais variadas razões: o comércio justo, a agricultura sustentável, o fim das fronteiras, o fim da energia nuclear, a aposta nas energias renováveis. E havia também muitas visitas de estudo na praça da Câmara Municipal de Estocolmo e crianças entusiasmadas com a árvore de Natal, iluminada pela força dos pedais. Não fosse Copenhaga a cidade das bicicletas.



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