A líder da Frente Nacional (FN), Marine Le Pen, que arrebatou cerca de 6,4 milhões de votos na primeira volta das eleições francesas, acusou ontem os "candidatos finalistas" de "falta de respeito" pelos eleitores daquele partido de extrema-direita.

Numa carta aberta divulgada pela imprensa gaulesa, em que se abstém de dar qualquer indicação de voto, Le Pen apela ao fim do que considera serem os insultos aos seus eleitores por parte de Nicolas Sarkozy, conservador, e François Hollande, socialista.

Para os analistas, com esta iniciativa Le Pen pretendeu marcar posição já a pensar nas legislativas, que decorrerão em Junho, e onde é seu objectivo capitalizar a votação obtida no passado domingo. O propósito já anteriormente por si assumido passa pela "refundação" da direita francesa a partir da Frente Nacional, para o que, em termos de estratégia política, sairia reforçada com uma derrota de Sarkozy.

O candidato ainda presidente e Hollande, que hoje arrancam oficialmente para a segunda parte da campanha eleitoral, têm procurado cativar os 6,4 milhões de eleitores que a 22 de Abril votaram em Le Pen.

Sarkozy é, neste aspecto, o candidato que até agora mais fez para se aproximar, tendo ontem defendido a adopção de uma proposta da FN no campo da segurança, ao anunciar que é seu propósito avançar com a possibilidade de as forças políciais invocarem, em casos específicos, o direito à auto-defesa.

Apesar de ter avançado com esta ideia, o candidato conservador já por diversas vezes afirmou que recusa qualquer espécie de acordo com o partido de Le Pen. Tal implicaria necessariamente cedências e a possibilidade de a Frente Nacional integrar um eventual Governo empossado por Sarkozy. Já Hollande, logo após as eleições do último domingo, fez saber da sua preocupação sobre o elevado número de votos recolhidos pela extrema-direita.

Foi neste contexto que a líder da Frente Nacional decidiu vir a terreno, através da carta já referida, que intitulou "Queridos candidatos, um pouco de respeito!". Na missiva, defende que os votos por si recolhidos não são de pessoas " de direita e xenófobas".

"O voto a meu favor foi um voto reflectido. Um voto de esperança e apoio", escreve Marine Le Pen, citada pelo jornal "Le Monde", criticando, num tom enérgico, o comportamento dos candidatos, que considerou "insultuoso".