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Governo contesta teorias de competitividade do FMI

Economistas do FMI associam a recessão e a recuperação à evolução dos custos do trabalho em Portugal. Governo contesta teoria que aliás marcou a estratégia de ajustamento da troika.

Miguel Baltazar/Negócios
15 de Setembro de 2017 às 10:15
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Segundo o FMI, na primeira fase da crise o emprego e os salários caíram, o que gerou desemprego e pobreza mas deu às empresas margem para ganharem competitividade e quota nos mercados externos e para financiarem investimentos. Foi o que, por sua vez, numa segunda fase da crise, impulsionou a recuperação. Agora, estaremos na terceira fase do ciclo de recessão e recuperação, marcada por aumentos de emprego e salários que superam até o crescimento do PIB e que, embora positivos e naturais, estão novamente a pressionar a competitividade e o crescimento do país a prazo. O Governo não concorda, acusa o Fundo de não fundamentar o que diz, e argumenta que a competitividade é cada vez mais ganha por inovação e qualidade e não por salários baixos.

A teoria da competitividade externa assente nos custos unitários do trabalho, que marcou toda a estratégia de ajustamento da troika, está inscrita no relatório de análise anual do Fundo à economia nacional, publicado esta sexta-feira, 15 de Setembro, e mereceu refutação no mesmo documento por parte do director do FMI que representa Portugal em Washington.

O relatório "associa a recessão de Portugal e a recuperação em curso a movimentos nos custos unitários do trabalho e ao seu (alegado) impacto na competitividade externa e na capacidade das empresas de financiarem o seu capital e investimento. Sugere-se que é isto que explica a recessão e a recuperação. No entanto, as minhas autoridades acreditam que o relatório apresenta muito pouca evidência empírica para suportar esta tese", lê-se no texto de Carlo Cottarelli, o director executivo para Portugal.

Na exposição dos argumentos nacionais, Cottarelli vai mais longe: "em contraste, o governo português sublinha que: (i) está hoje bem estabelecido por literatura académica relevante que os custos unitários do trabalho são um indicador excessivamente simplista e potencialmente enganador da competitividade externa; e (ii) outras medidas mais adequadas, incluindo a taxa de câmbio efectiva real com deflatores adequados estão disponíveis e pintam um quadro muito diferente das mudanças estruturais da economia Portugal e dos seus efeitos na competitividade externa" , lê-se na carta, anexa ao relatório do artigo IV, que também contesta o excesso de relevância dado pelo Fundo ao crédito malparado enquanto travão ao investimento em Portugal.

No relatório, os economistas do FMI já tinham descrito a oposição de Mário Centeno aos ajustamentos de competitividade via preços, escrevendo que as autoridades portuguesas "vêem um relação limitada entre os custos unitários de trabalho e a competitividade das exportações e acreditam que ganhos adicoinais de quota de mercado serão atingidos mais através de qualidade e inovação do que da competição pelos preços.
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