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FMI quer regresso da "cooperação multilateral" para evitar pesadas perdas no PIB mundial
Diretora-geral do FMI defendeu, no Fórum Económico de Bruxelas, que é preciso "reavivar o multilateralismo" para o PIB mundial continuar a acelerar e que, embora os ganhos internos do protecionismo possam ser "apetecíveis", a longo prazo "todos perdem com a fragmentação mundial". Para a UE, antevê, nos próximos cinco anos, o crescimento mais baixo desde 1999.
"Reavivar a cooperação multilateral é essencial para o crescimento de longo prazo em todo o mundo", defendeu Kristalina Georgieva, na abertura do Fórum Económico de Bruxelas, sublinhando que, "embora os ganhos internos [do protecionismo económico] possam ser apetecíveis, a longo prazo todos perdem com a fragmentação mundial".
Um estudo do FMI indica que essa fragmentação pode custar "até 7% do PIB global a longo prazo", o que corresponde ao PIB anual da Alemanha e do Japão em conjunto, sinalizou a diretora-geral do FMI. Além disso, frisou que, se a esses dados for adicionado o custo da dissociação tecnológica com o arrefecimento das trocas comerciais, "alguns países podem ter perdas de até 12% do PIB".
"Não podemos ignorar esses custos", sublinhou Kristalina Georgieva, dizendo que "há um risco crescente de que o mundo se dividir em blocos económicos rivais", após "décadas de integração". E risco "está a aumentar num momento em que o crescimento mundial é fraco tendo em conta os padrões históricos – tanto no curto como no médio prazo", indicou.
Kristalina Georgieva defendeu que, além do reforço das relações comerciais, é preciso que os países aumentem a produtividade e acelerem a transição climática para que o PIB mundial possa continua a crescer de uma forma mais sustentada.
Dando como exemplo o plano de transição climática da UE (o Green Deal), disse ainda que é preciso os países terem atenção aos apoios que estão a dar para não prejudicar ainda mais a globalização. "Se os incentivos forem muito generosos, podem ter custos orçamentais consideráveis, distorcer as decisões comerciais e de investimento e tornar a transição verde mais cara para todos", referiu.
"Particularmente preocupante seria um cenário em que os mercados emergentes e as economias em desenvolvimento fiquem para trás na adoção de tecnologias verdes – em detrimento das metas climáticas globais – por falta de investimentos que facilitem a difusão dessas tecnologias", acrescentou.
Crescimento económico mais fraco desde 1999
As previsões do Fundo Monetário Internacional apontam para que o crescimento mundial continue "em torno de 3% nos próximos cinco anos", sendo esta "a previsão de médio prazo mais baixa desde 1990".
A diretora-geral do FMI insiste que, mesmo assim, os bancos centrais devem continuar a subir as taxas de juro até que "a teimosa inflação esteja firmemente sob controlo" e admite que esse "necessário aperto monetário" está já a pesar sobre o crescimento e expor algumas vulnerabilidades financeiras, como se viu com a queda do banco norte-americano SBV e das dificuldades do Crédit Suisse.
Para Kristalina Georgieva, a fragmentação geoeconómica pode "prejudicar ainda mais o já enfraquecido crescimento global" e, no caso da União Europeia, a maioria das economias avançadas enfrenta o "desafio duplo" de terem um crescimento mais lento e uma inflação ainda alta nos próximos anos.
*A jornalista viajou até Bruxelas a convite da Comissão Europeia