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Financiamento da Fed à banca ascendeu a 7,77 biliões de dólares

Mais do que o avultado montante que a Reserva Federal empenhou na ajuda ao sistema financeiro, é criticada a falta de transparência e a discricionariedade da acção da autoridade monetária.

28 de Novembro de 2011 às 17:33
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A fórmula que a Reserva Federal norte-americana utilizou para evitar o colapso do sistema financeiro norte-americano após a falência do Lehman Brothers foi simples: forneceu aos bancos que restavam toda a liquidez de que eles necessitassem.

Essa ajuda foi concedida através de empréstimos, garantias e linhas de financiamento que ascenderam a 7,77 biliões de dólares (5,86 biliões de euros). Um montante equivalente a cerca de metade do PIB dos EUA e que compara com os 700 mil milhões de dólares do programa TARP (Troubled Asset Relief Program), que só a algum foi custo foi aprovado no congresso dos EUA.

Este valor dos empréstimos equivale a cerca de metade do PIB dos EUA, mas mesmo assim os banqueiros das instituições mais proeminentes não se davam a modéstia. O presidente do Bank of America, Kenneth D. Lewis, disse em Novembro de 2008 que liderava "um dos mais fortes e estáveis bancos do mundo", no mesmo dia em que o banco a que presidia devia 86 mil milhões de dólares à autoridade monetária.

Já Jamie Dimon, CEO do JPMorgan, que atravessou a crise financeira que se seguiu à falência do Lehman sem registar prejuízos em nenhum trimestre chegou a dever 48 mil milhões de dólares à Fed. Isto mais de um ano depois de ter aderido ao TARP "a pedido da Reserva Federal para ajudar a motivar outros bancos a aderir ao programa", segundo o próprio anunciou ao seu Conselho de Administração.

Assegurar estabilidade do sistema finaceiro é função dos bancos centrais

No dia em que os bancos dos EUA tiveram maiores necessidades de financiamento, contraíram empréstimos no valor de 1,2 mil milhões de dólares junto do regulador. Segundo os cálculos da Bloomberg, o ganho que os bancos norte-americanos tiveram ao aceder ao financiamento barato da Fed ascendeu, no total do programa de empréstimos aos diversos bancos, a 13 mil milhões de dólares.

O director da Divisão de Assuntos Monetários da Fed, William B. English justifica a conduta do regulador: "Apoiar a estabilidade do mercado financeiro em tempos de stress extremo no mercado é uma das principais funções dos bancos centrais".

"O nosso programa de empréstimos serviu para prevenir o colapso dos sistema financeiro internacional e para manter o fluxo de crédito para as famílias e negócios norte-americanos", salientou.

Tribunal ditou divulgação dos detalhes dos empréstimos

Mas uma das principais críticas à conduta da Fed prende-se com a falta de transparência e a discrionariedade da conduta das autoridades monetárias. Os banqueiros centrais são nomeados e gozam de grande independência durante o período em que desempenham funções. As suas decisões não podem ser influenciadas por governantes e, muito menos, pelos eleitores e contribuintes.

O programa "TARP ao menos tinha alguma condições associadas" que punham um tecto máximo à remuneração da gestão, relembra o membro do Partido Democrata que pertence ao Comité Financeiro da Casa Branca, Brad Miller. "Com os programas da Fed, não havia nada", acrescentou.

Os dois programas de ajuda funcionavam "de mãos dadas", explica à Bloomberg o professor de banca da Universidade do Wyoming e antigo economista-chefe da Fed, Sherril Shaffer. Enquanto o dinheiro do TARP ajuda a isolar a Fed do risco de incumprimento por parte dos bancos, a aparente disposição da Fed para emprestar financiamento ilimitado assegurava que estes não iriam colapsar.

"Apesar de o Tesouro estar nos títulos dos jornais, a Fed é que estava por detrás das cortinas e engendrar" todo o programa de ajuda, explicou a economista.

Seria "totalmente razoável" ter divulgado detalhes em meados de 2009

Além não comunicar muita da informação de que dispõe, são apontadas incongruências entre o discurso e a acção da autoridade monetária. Os detalhes dos empréstimos da Fed aos bancos só foram divulgados depois de a empresa-mãe da agência noticiosa Bloomberg ter ganho uma acção em tribunal contra a Fed e alguns dos principais bancos dos EUA.

A Reserva Federal defende que a divulgação dos detalhes dos empréstimos aos bancos iria criar um estigma entre as instituições que recorressem às linhas de financiamento. Isso iria dificultar a já difícil recuperação do sistema financeiro.

O antigo economista da Fed de Nova Iorque, David jones, defende que teria sido "totalmente razoável" divulgar os dados dos empréstimos em meados de 2009.

Por outro lado, a mensagem que os responsáveis da Fed passavam para o exterior era, sabe-se hoje, era incoerente com algumas das suas acções e não coincidia com a interpretação que o banco fazia da realidade.

Durante um discurso feito em Abril de 2009, Ben Bernanke disse que só "instituições sólidas" poderiam aceder ao financiamento da Fed. No entanto, num relatório interno a instituição é caracterizada como "marginal" e a noutro relatório, de Janeiro de 2009, o poder financeiro da instituição é considerado "superficial". Isto numa altura em que a sua capacidade financeira já se encontrava apoiada em 45 mil milhões de dólares de créditos contraídos junto da Fed.
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