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Comey dirá que Trump lhe pediu garantias de "lealdade"

James Comey, o ex-director do FBI que foi demitido pelo presidente norte-americano, será ouvido amanhã no Senado sobre as alegadas relações de Donald Trump com a Rússia e irá dizer, segundo o Financial Times, que o republicano lhe pediu garantias de "lealdade". Há também provas documentadas de que pediu para "deixar passar" a investigação ao ex-conselheiro Michael Flynn.

Bloomberg
Carla Pedro cpedro@negocios.pt 07 de Junho de 2017 às 19:43

O ex-director do FBI que foi demitido por Donald Trump irá testemunhar na quinta-feira perante o Senado e o Financial Times avança que James Comey (na foto) afirmará que o presidente dos EUA lhe disse que precisava de "lealdade".

 

Comey irá falar, nesta audição, sobre nove conversas que manteve com Trump desde que a nova Administração foi empossada, a 20 de Janeiro. E, segundo o FT, o ex-director do FBI irá declarar que, num jantar decorrido a 27 de Janeiro, Trump lhe disse: "preciso de lealdade e espero lealdade", tendo Comey respondido que só poderia prometer "honestidade".

Entretanto, sobre a reunião de 14 de Fevereiro, há evidências mais seguras de que Trump poderá ter tentado obstruir a Justiça – um crime que poderá levar à destituição.

 

No documento com as sete páginas do testemunho de Comey amanhã no Senado, e que está a ser veiculado pela imprensa norte-americana, na reunião de 14 de Fevereiro Trump terá pedido ao ex-director do FBI para "deixar passar" a investigação ao seu ex-conselheiro de Segurança Nacional Michael Flynn – coisa que o ex-director do FBI não fez, o que gerou especulação sobre poder ser essa a razão para o seu afastamento.

 

"Ele é um bom tipo. Espero que possa deixar isto passar", terá Trump dito a Comey. Esta informação vem assim confirmar o que o The New York Times já tinha avançado a 16 de Maio, citando um memorando desta mesma reunião. Esse memorando está incluído numa pasta com documentação compilada por Comey relativamente ao que percepcionou como "esforços impróprios do presidente para influenciar uma investigação em curso". Este tipo de notas escritas por agentes do FBI são grandemente utilizadas em tribunal como prova credível de conversas ocorridas.

 

James Comey tinha admitido publicamente em Março que o FBI estava a realizar uma investigação para determinar se tinha havido esforços da Rússia para influenciar os resultados das eleições presidenciais de 8 de Novembro e se haveria elementos da equipa de Trump envolvidos.

 

Entretanto, quando Trump demitiu Comey, a 9 de Maio, a Casa Branca comunicou que a decisão nada tinha a ver com a investigação sobre as ligações com a Rússia e que se tinha baseado numa recomendação do Departamento da Justiça e que estava relacionada com a forma como o FBI tinha gerido a investigação relativa aos emails enviados pela democrata Hillary Clinton através de um servidor particular quando era secretária de Estado, de 2009 a 2013.

 

Mas, um dia depois, Trump declarou à BBC que tinha despedido o director do FBI por a questão EUA-Rússia ser uma invenção. "Quando decidi fazê-lo [demitir Comey], disse para mim mesmo: ‘bem, esta coisa da Rússia com o Trump é tudo invenção". E foi por essa razão, defendeu, que achou por bem retirar o então chefe dos serviços federais do cargo – para encontrar alguém mais competente, como frisou na altura.

 

No entanto, a polémica prosseguiu. A 16 de Maio, o The New York Times avançava então que Trump teria pedido a Comey para "pôr de lado" a investigação a Michael Flynn.

 

Uns dias depois veio também a lume, ainda pela mão do The New York Times, que no encontro que Donald Trump manteve na na Sala Oval da Casa Branca com o ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia, Sergey Lavrov, e o embaixador russo nos EUA, Sergey Kislyak, o presidente dos EUA terá dito a Lavrov e a Kislyak que despedir o director do FBI, James B. Comey, tinha retirado "grande pressão" sobre ele. Esta reunião, recorde-se, decorreu a 10 de Maio - logo no dia a seguir a Trump demitir Comey.

 

"Acabei de despedir o director do FBI. Ele era maluco, um autêntico doido", declarou Donald Trump, segundo o documento – que foi lido ao NYT por um responsável norte-americano que pediu anonimato. "Sofri grande pressão por causa da Rússia. Isso já acabou", terá acrescentado. "Não estou sob investigação", rematou o chefe do Executivo norte-americano.

 

Este documento com os comentários de Trump, explicava a Bloomberg, tem por base as anotações que foram feitas na Sala Oval durante a reunião do presidente com Lavrov e Kislyak e que têm estado a circular como sendo o registo oficial do que se passou no encontro.

 

Depois de praticamente um mês sem director, o FBI viu hoje ser nomeado Christopher A. Wray. O anúncio foi feito por Donald Trump na sua conta do Twitter. 

O caso Flynn

No passado dia 20 de Fevereiro, Trump nomeou o tenente-general H. R. McMaster como seu novo conselheiro de Segurança Nacional, depois da renúncia de Michael Flynn devido aos contactos com russos sobre as sanções a Moscovo.

O tenente-general reformado Flynn tinha apresentado a sua demissão a 13 de Fevereiro. A polémica em torno de Flynn surgiu quando, uns dias antes, o The Washington Post noticiara que o conselheiro de Trump tinha falado – durante contactos telefónicos com representantes russos, nomeadamente o embaixador russo nos EUA, Sergey Kislyak – sobre as sanções impostas pelos EUA à Rússia na sequência da anexação unilateral da Crimeia pela Rússia em 2014.

Flynn começou por negar esses factos, sendo depois acusado de mentir quando admitiu que o tema das sanções poderia ter surgido durante os telefonemas – alguns dos quais feitos ainda durante a campanha de Trump para as eleições presidenciais de 8 de Novembro de 2016.

Por esse facto, Flynn pediu desculpas ao vice-presidente Mike Pence [que o tinha defendido em várias ocasiões a respeito desta polémica], reconhecendo que lhe tinha fornecido "informação incompleta" sobre essas conversas. O tenente-general achou então, por bem, apresentar a sua demissão.

No dia seguinte, 14 de Fevereiro, Kellyane Conway, conselheira da Casa Branca, declarou que Michael Flynn tinha a confiança de Trump – apesar de o presidente ter mantido o silêncio. Mas, logo depois, a 15 de Fevereiro, Sean Spicer, porta-voz da Casa Branca, comunicou em conferência de imprensa que a demissão de Flynn tinha sido decidida pelo próprio presidente devido a uma "perda de confiança".

Entretanto, a 8 de Maio soube-se também que Barack Obama tinha aconselhado Trump a não contratar Michael Flynn como seu conselheiro de Segurança Nacional. A informação, citada pela Lusa, foi dada à NBC e CNN por fontes próximas do ex-presidente.

As ligações entre os EUA e a Rússia têm estado a provocar algum mal-estar no país, agravado pela informação avançada pelo The Washington Post de que Trump passou aos russos informação confidencial sobre o autoproclamado Estado Islâmico.

Trump entretanto reagiu, alegando "razões humanitárias" para partilhar informação confidencial com a Rússia. O presidente dos Estados Unidos disse ter o "direito absoluto" de transmitir informações. Pouco depois, H.R. McMaster deu uma conferência de imprensa, tendo garantido que o presidente dos Estados Unidos tinha tido uma acção "totalmente apropriada".



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