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“Ciclo de descidas das taxas de juro vai chegar mais cedo”, diz Centeno

Para o governador do Banco de Portugal, aceleração no abrandamento de preços evidencia mais uma vez a natureza temporária da inflação atual e é preciso “estar preparado para reagir” caso vá abaixo de 2%.

15 de Dezembro de 2023 às 12:49
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O governador do Banco de Portugal (BdP), Mário Centeno, admitiu nesta sexta-feira que o início do ciclo de cortes de juros deverá ser antecipado face ao que o Banco Central Europeu (BCE) previa no verão e defendeu também que a autoridade monetária do euro deve estar preparada para reagir caso a inflação vá abaixo da meta de 2% do seu mandato.

 

"Tudo o resto constante, as novidades positivas – surpresas para alguns, não para todos – na inflação significam que o ciclo de descida das taxas de juro vai chegar mais cedo. Ele hoje está antecipado face àquilo que poderíamos considerar como realista em junho deste ano", afirmou o governador, em respostas aos jornalistas durante a apresentação do Boletim Económico de dezembro.

Um dia depois de a presidente do BCE , Christine Lagarde, ter indicado que o tema do primeiro corte de juros não foi "de todo" discutido pelos governadores do euro, Centeno quis avançar ainda assim que esse é o "tema sobre a mesa",mesmo que a política de se restringir à evolução dos dados por parte da autoridade monetária exija que se aguarde pelos indicadores do início de 2024 para que a perspetiva de descida dos juros possa entrar no calendário.

O BCE - recorde-se - reviu ontem em baixa os números da inflação da Zona Euro, antecipando agora uma variação média de preços anual de 2,7% no próximo ano (2,1% em 2025 e 1,9% em 2026) face àquela que tem sido a aceleração da trajetória de desinflação confirmada nos dados do Eurostat (2,4% de inflação homóloga em novembro).  Ainda assim, e ao contrário do fez já a Reserva Federal, a autoridade monetária da Zona Euro não quis antecipar o início do ciclo de descidas, mantendo os juros elevados em pausa prolongada indefinida. Lagarde deixou mesmo a sugestão de que o BCE só tomará decisões com base nos dados da primeira metade do ano, atirando assim para a segunda metade do ano o cenário de primeira descida nas taxas de referência do BCE.

A inclinação cada vez maior na descida da inflação serve agora ao governador do BdP para defender que, tal como preconizava antes, o atual fenómeno inflacionista tem natureza temporária, tendo sido provocado pelos choques na oferta do pós-pandemia e da guerra na Ucrânia sem que tenham ocorrido contributos significativos de segunda ordem por via salarial ou das margens de lucro até aqui.

 

De resto, defendeu Centeno, "a área do euro foi brilhante" a assegurar que as políticas orçamentais mantinham a coordenação com a política monetária. Não foi o caso, por exemplo, nos Estados Unidos ou Reino Unido. Esta situação, bem como a saída rápida das restrições da pandemia, estarão entre os fatores que levam o governador a acreditar ainda numa "aterragem suave" das economias do euro. O BCE prevê 0,8% de crescimento em 2024 – para Portugal, o BdP espera agora 1,2%, numa revisão em baixa.

 

O governador do Banco de Portugal alertou ainda para a possibilidade de a inflação cair mais do que o BCE deseja. "Podemos correr aqui o risco de ver passar a meta dos 2% e encontrarmo-nos, nós próprios, com inflação abaixo de 2%. É um cenário e, portanto, temos de estar preparados para reagir a todas estas eventualidades", defendeu.

 

"A China estão em deflação. No Japão, o ciclo inflacionista também praticamente não existiu. Temos preços no produtos e preços no comércio internacional que têm variações negativas anuais ainda muito significativas. As previsões que o Banco Mundial faz para o preço dos bens alimentares e para as matérias-primas para 2024 foram revistas em baixa e são de redução em 2024. Todos estes indicadores apontam neste sentido" assinalou.

 

 

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