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BEI espera corte significativo no investimento das empresas

Estimativas do banco da União Europeia apontam para quebra correspondente a 1,2 pontos percentuais do PIB europeu. Investimento público também enfrenta fim da suspensão das regras orçamentais e obstáculos à execução.

Fábrica Sumol Compal, em Alemirim
Pedro Catarino
28 de Fevereiro de 2023 às 08:15
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A conjuntura de incerteza deverá conduzir a um corte significativo no investimento privado a nível europeu, num momento em que o investimento público do bloco também conhece desafios: da perspetiva do retorno às regras orçamentais da União Europeia (UE) em 2024, ainda que em novo formato, aos riscos na implementação dos planos nacionais de recuperação pós-covid.

 

As estimativas do relatório anual do Banco Europeu de Investimento (BEI), divulgado nesta terça-feira no Luxemburgo, apontam para que "a maior incerteza em 2022 possa ter reduzido a taxa de investimento em cerca de 1,2 pontos percentuais do PIB", no que corresponderá a uma quebra equivalente a perto de 200 mil milhões de euros.

 

A descida, calculada a partir dos dados do último inquérito ao investimento do banco da UE, representa também metade da diferença que atualmente separa os níveis de investimento produtivo aplicados no bloco e nos EUA – de resto constante ao longo da última década, em torno dos 2 p.p. do PIB, com desvantagem para os europeus. A diferença é maior quando se retira o efeito "construção" das comparações, com o fosso a atingir os 3,8  p.p do PIB.

 

"A incerteza, resultado das condições de mercado e de políticas imprevisíveis, está a mostrar-se uma barreira às decisões de investimento", defendeu Debora Revoltella, economista-chefe do BEI, na apresentação do documento feita no primeiro fórum anual da instituição.

 

O fórum, no qual o BEI anunciou ontem a subida dos montante que pretende disponibilizar para investimento em energias limpas, fica marcado pela conjuntura internacional de adversa de subida nos custos de financiamento, aumento dos preços da energia, e persistência da guerra. Além disso, ocorre num ponto de viragem nas políticas industriais dos blocos, com a UE a procurar escalar apoios para tentar impedir a fuga de investimentos para os EUA nas áreas da transição energética e digital.

 

"A oportunidade para a transição ambiental não pode ser perdida. A Europa deve alavancar  a vantagem de inovação que tem em muitas tecnologias verdes e deve explorar ainda mais o potencial do mercado único da UE, reduzindo as barreiras administrativas ao investimento e resolvendo falhas nas qualificações", defendeu  a responsável do BEI.

 

Se por enquanto, e apesar da longa distância que ainda separa empresas da UE e EUA em investimento em inovação, o bloco europeu mantém a dianteira na área das tecnologias ambientais ou nas energias limpas, dos transportes às 'smart grids', passando pela energia eólica. Mas  essa vantagem está  já a diminuir e pode também ter os dias contados se nada for feito, alertaram no fórum responsáveis do BEI.

 

A capacidade de os governos  apoiarem e canalizarem investimento para estes sectores mais competitivos também não é garantida, ainda que o investimento público – em particular, em países do sul da Europa como Itália e Espanha, e em menor medida Grécia, salienta o relatório – tenha tido uma forte recuperação no pós-pandemia.

 

"A surpreendente resiliência do investimento público poderá ser ameaçada pela reintrodução das regras orçamentais e pelo abandono progressivo de medidas de estímulo", avisa o relatório do BEI.

 

Apesar de insuficientes para sustentar toda a dinâmica de investimento europeia necessária, há ainda os planos europeus de recuperação e resiliência , com o mecanismo de recuperação pós-covid do bloco a representar um terço do investimento público do bloco até 2026. (disponibiliza o equivalente cerca de 4% do PIB da UE). Mas, "fundos disponíveis e reformas implementadas não são garantia de investimento", lembra o banco do Luxemburgo.

 

São, diz, necessários esforços coordenados na UE para remover obstáculos a este investimento público, onde se incluem capacidades desiguais de execução, mas também défices de pessoal capacitado para apoiar os planos (nomeadamente, ao nível local).


A jornalista viajou a convite do BEI.

 

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