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Banco de Portugal antecipa recuperação lenta mas saudável

A economia portuguesa deverá continuar a crescer, suportada mais por exportações e investimento do que pelo consumo privado. Ainda assim, não crescerá mais que a Zona Euro, adiando a convergência pelo menos para lá de 2019.  

Bruno Simão/Negócios
14 de Dezembro de 2016 às 13:00
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O Banco de Portugal (BdP) vê o crescimento económico em Portugal a acelerar nos próximos anos para a casa dos 1,5%, suportado no dinamismo das exportações, que passarão a representar quase metade do rendimento anual, e no investimento. O consumo privado perderá fôlego, as famílias e empresas reduzirão as suas dívidas, também ao exterior, e o desemprego baixará a fasquia dos 8,5% (ultrapassada já em 2004. )

 

É uma retoma lenta, mas sustentada, a que antevê o banco central português, que, no entanto não permitirá ao país convergir com a Zona Euro. As previsões fazem parte do Boletim Económico publicado a 14 de Dezembro, e, pela primeira vez estendem-se até 2019.

 

Segundo o Banco de Portugal, o crescimento da economia nacional deverá acelerar de 1,2% em 2016, para 1,4% em 2017, e 1,5% em 2018 e 2019, com a ajuda essencial das exportações e do investimento, o que merece nota positiva dos economistas da Almirante Reis. 

 

As exportações seguirão a evolução da procura externa, que deverá recuperar, e beneficiarão de ganhos de quota de mercado, embora em menor escala do que no passado. Este crescimento liderado pelas exportações, que entre 2017 e 2019 crescem sempre acima de 4% todos os anos, elevará o seu peso no PIB para 48% do PIB em 2019, um valor que compara com 32% no início da década.

 

O investimento também deverá regressar a crescimentos superiores a 4% em todos aos anos entre 2017 e 2019, o que é explicado essencialmente pelo aumento do investimento empresarial, visto que tanto o sector público como o da construção permanecerão sob pressão, sem margem para avanços significativos no investimento.  

 

Crescimento sustentado

 

Em contraste com o investimento e as exportações, o consumo privado crescerá sempre abaixo de 1,5%, traduzindo, em parte, o esforço das famílias para reduzirem o seu endividamento num contexto de impostos altos e esforço de consolidação orçamental por parte do Estado – o qual determina uma quase estagnação do consumo público nos próximos anos.

 

Segundo o Banco de Portugal, a dinâmica de crescimento em curso permitirá ao País continuar a registar excedentes externos, na casa de 1% do PIB ao ano, o que ajudará a uma redução gradual da dívida externa. Os resultados em termos de contas externas não são, aliás, melhores devido à elevada factura com juros e dividendos pagos ao exterior, e a uma redução prevista do volume de remessas de emigrantes enviadas para Portugal. É que o excedente da balança comercial, considerando bens e serviços, rondará os 1,8% do PIB ao ano até 2019.

 

Perante estas previsões, o banco central fala de uma recuperação sustentada da economia nacional: "Estes traços são consistentes com um padrão de crescimento mais sustentado, caracterizado pela continuação da reorientação de recursos para sectores mais expostos à concorrência internacional e mais produtivos, pela manutenção de um excedente nas contas externas e pelo prosseguimento do processo de redução do endividamento do sector privado não financeiro", escreve o banco, destacando também que "a recuperação da actividade será acompanhada por uma continuação da melhoria gradual da situação no mercado de trabalho". A taxa de desemprego baixará para 8,5% em 2019 o que, a confirmar-se, será o menor valor desde 2004.

 

Sucesso relativo

 

As previsões conhecidas no final de 2016 afastam os cenários mais pessimistas para a economia nacional, mas não deixam de evidenciar a fragilidade da situação portuguesa. Em 2019, os níveis de investimento e de rendimento gerados não terão ainda ultrapassado os registados antes da crise, em 2008. Isto com níveis de endividamento tanto público como privado mais elevados.

 

Este é o reflexo de uma recuperação mais lenta da economia do que em episódios recessivos anteriores, o que não é uma característica exclusiva de Portugal, mas que se sente mais numa economia relativamente pobre e atrasada, e da qual se espera uma convergência mais rápida para o nível de rendimento médio da Zona Euro.

 

E essa é outra das possíveis desilusões com os números agora apresentados pelo Banco de Portugal: entre 2017 e 2019 Portugal não convergirá para o rendimento da Zona Euro, crescendo até ligeiramente menos que a média da região com moeda única, destaca o organismo, que defende a urgência de continuar a implementar reformas estruturais, incluindo no mercado de trabalho.

 

"Os constrangimentos estruturais ao crescimento da economia portuguesa, no qual assumem uma relevância especial os elevados níveis de endividamento dos sectores público e privado, uma evolução demográfica desfavorável e a persistência de ineficiências nos mercados do trabalho e do produto que requerem a continuação do processo de reformas estruturais", lê-se no relatório, que apela também a mais ambição também na redução do défice orçamental e do endividamento público.


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