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Agências de "rating" apertam cerco aos Governos do euro

São três as opções que estão a ser estudadas para envolver os privados neste segundo plano de resgate da Grécia. Mas, por mais voluntário que seja, este desencadeará descidas severas do "rating", avisam as agências.

15 de Junho de 2011 às 18:50
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A advertência foi feita esta tarde pela Fitch e renova a que já fizera na semana passada a Standard&Poor’s:
qualquer envolvimento dos privados, mesmo que voluntário, será seguido de acentuados cortes no já esmagado “rating” da Grécia, porque dificilmente não significará perdas para os bancos e fundos que compraram obrigações gregas.


Os alertas das agências estão a reduzir a margem dos Governos do euro – em particular da Alemanha, Holanda e Finlândia – que dizem não ter condições políticas para aprovar nos respectivos parlamentos um reforço do empréstimo a Grécia, a menos que, desta vez, os bancos e fundos privados que investiram em dívida grega participem também na tentativa de evitar que o país resvale parta a bancarrota.

A caminho do "default"

A Fitch faz, no entanto, uma distinção significativa entre um envolvimento voluntário que signifique o compromisso dos bancos em renovar os contratos de concessão de crédito à Grécia em moldes idênticos aos das obrigações que entretanto se vencem (“rollover” da dívida), e a pretensão, que tem sido ventilada pela Alemanha, de que os bancos estendam a maturidade das suas obrigações por sete anos.


No primeiro caso, a Fitch diz que consideraria estar-se perante um “incumprimento selectivo” da dívida, o que faria baixar o “rating” da Grécia em cinco níveis (para a classe C). Já no segundo, a dívida grega ficaria no fim da escala, na classe D, que traduz um “default” generalizado.

Em ambas as situações, o BCE ficaria, porém, praticamente sem espaço para continuar a fornecer liquidez à banca grega, depois de já ter descido “até ao limite” a qualidade dos colaterais que pode aceitar a troco dos empréstimos que fornece aos bancos da Zona Euro.

O novo pacote de ajuda à Grécia, o segundo em dois anos, está, assim, a expôr contradições aparentemente insanáveis entre os interesses dos Governos e os critérios dos mercados financeiros.

Estima-se que o novo “buraco” nas contas públicas gregas ascenda a 80 mil milhões de euros. A Alemanha pretende que os Estados do euro não sejam chamados a garantir mais do que um terço deste montante, que se juntará ao empréstimo de 110 mil milhões de euros acordado há um ano. O outro terço seria assegurado por privatizações de activos na posse do Estado grego, e o restante por um envolvimento dos privados, no pressuposto de que estes aceitariam adiar os pedidos de reembolso, aliviando as necesidades mais imediatas de financiamento da Grécia.

As três opções em estudo


São três as opções de envolvimento dos privados que foram ontem debatidas pelos ministros das Finanças do euro, num encontro inconclusivo que será retomado neste domingo para tentar chegar a um entendimento que permita à Grécia receber em Julho a quinta fatia do empréstimo internacional, evitando que o país declare a bancarrota.

Nas opções em estudo, citadas pelo Financial Times, assume-se que o envolvimento dos privados será sempre voluntário, mas o nível dos incentivos para os cativar vai variando. O objectivo é, no mínimo, não agravar as necessidades de financiamento da Grécia.

1- Bancos comprometem-se a renovar os empréstimos

Uma vez chegado o prazo de vencimento das obrigações gregas, os seus detentores renovam os contratos, mantendo o mesmo nível de exposição à dívida grega. Estes acordos teriam uma natureza informal e seriam pactuados ao nível nacional, envolvendo os bancos mais expostos à dívida grega em cada país do euro.

Pela sua natureza informal, estes acordos correriam menores riscos de serem interpretados pelas agências de “rating” como uma reestruturação, o que evitaria mais descidas da notação do país (que na classificação da Standard&Poor’s é já a mais baixa do mundo dentro da classe de “investimento”). O risco de contágio a outros países do euro seria também menor.

Duas desvantagens: nesta abordagem, não é possível quantificar, à partida, o valor da dívida grega que será automaticamente renovada, o que dificulta os cálculos sobre o valor do novo pacote de ajuda e, em particular, do reforço do empréstimo que tem de ser assegurado pelos Governos do euro. E como um acordo informal pode ser mais facilmente rompido, os bancos que primeiro renovassem os seus contratos teriam fracas garantias de que quem tem títulos com maturidades mais longas o viesse a fazer mais tarde. Essa circunstância reduz o apelo à adesão.

2- Bancos renovam empréstimos e recebem incentivos moderados

O expediente é idêntico ao primeiro, mas os acordos são mais formais e negociados de forma centralizada.

Neste modelo, tenta-se garantir um maior equilíbrio entre o grau de adesão e o risco de cortes no “rating”. A contribuição do sector privado pode ser previamente estimada.

3- Bancos que não renovarem empréstimos deixam de ser elegíveis para apoios públicos


É o modelo mais radical, que ainda mais dificilmente encaixa na noção de “voluntário”, e que tem sido defendido pela Alemanha.

Neste caso, a adesão da banca tenderia a ser muito elevada, mas, em contrapartida, as agências de “rating” dificilmente não irão considerar estar-se perante uma situação, de facto, de incumprimento e esmagar a notação da Grécia para a classe “D”, de “default”. Desvantagens: Risco de uma nova crise sistémica na banca; poderá ser o fim da Grécia no euro e eventualmente da união monetária.
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