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Joaquim Leitão: "Se calhar, no meio disto, haverá um filme brilhante sobre a crise"
"Não vejo caminho em Portugal. Não tenho dados estatísticos, é um pouco aquilo que vejo à minha volta, mas é a primeira vez que não se está a ver futuro", declara o realizador Joaquim Leitão.
Eu tenho tido oportunidade de filmar e ainda não senti o que alguns colegas já sentiram, que é não conseguir, sequer, exercer a actividade de alguma maneira. Esta é uma coisa triste porque, nos últimos anos, tinha-se conseguido atingir alguma estabilidade na produção, algo que depois se reflectia na qualidade dos filmes. Esta estabilidade foi interrompida. Este ano há, pelo menos, uma perspectiva de um retomar de alguma regularidade nesse equilíbrio.
Ao mesmo tempo, como a situação é dramática, também pode ser inspiradora para quem cria. No entanto, qualquer pessoa que se dedique profissionalmente a esta actividade, faz os filmes como gosta de os fazer. Não é por ter um pouco mais de dinheiro disponível que vai gastar mais. Tenta-se sempre usar o dinheiro da forma mais produtiva e que se reflicta na forma e na qualidade daquilo que as pessoas vêem no ecrã. Mas, como a situação é dramática, o tema (da crise) pode ser interessante. Se calhar, algures no meio disto, haverá um filme sobre a crise que será brilhante. As ideias para os filmes e para os projectos são sempre misteriosas porque há um lado espontâneo que não consigo controlar.
Poderíamos dizer: "ok, estamos a passar por um mau bocado" para algures vir a ter uma recompensa e sentir que estamos a ir num caminho com sentido, mesmo não concordando com ele. O problema, neste momento, e isso é algo que não controlamos, é que a globalização e as transacções financeiras instantâneas fazem com que os próprios economistas não tenham ideia nenhuma do caminho a seguir...