Notícia
“Mein Kampf” já é um best-seller na Alemanha
A versão anotada de “Mein Kampf” ("A minha luta") esgotou assim que chegou às bancas, no início deste ano. Agora, figura na lista de "best-sellers" de não-ficção do Der Spiegel, uma referência no circulo literário.
Com a sua publicação proibida durante décadas, "Mein Kampf" ("A minha Luta"), de Adolf Hitler, voltou às bancas este ano e é já um best-seller de não-ficção na Alemanha. Trata-se de uma edição anotada da obra de Hitler e não a re-edição do original.
Imprimir a obra de Adolf Hitler na Alemanha, o conhecido livro "Mein Kampf" ("A minha Luta"), foi proibido durante setenta anos, período em que os direitos da obra pertenciam ao Estado da Bavaria. O livro - que esplana o nacional-socialismo tal como Hitler o entendia - era considerado demasiado perigoso pelas autoridades para ser impresso.
O "copyright" (direitos de autor) da obra detido pelo Estado da Bavaria expirou em Dezembro de 2015 e, levantados os constrangimentos sobre a impressão, uma nova versão anotada do livro regressou às bancas na Alemanha e figura já na segunda posição do top dos livros de não-ficção mais vendidos do Der Spiegel, considerado uma autoridade nos círculos da literatura alemã, explica o The Washington Post.
Adianta o jornal que durante o período em que a impressão foi proibida, as autoridades "guardavam cópias oficiais como se fosse um segredo de Estado. O acesso era garantido apenas a profissionais que o requisitassem formalmente".
No entanto, os "críticos advogam que banir o livro de ser impresso soma ao mistério que o envolve e faz mais mal que bem", acrescenta.
A obra não é, todavia, uma cópia da versão original, mas antes uma edição anotada com duas mil páginas, onde especialistas contextualizam as ideias e afirmações de Adolf Hitler. Composta por dois volumes, custa cerca de 59 euros, e é fruto de um trabalho de investigação de três anos dos especialistas do Instituto de História Contemporânea de Munique, conta o The Telegraph.
A versão anotada de "Mein Kampf" esgotou assim que chegou às bancas alemãs, a 8 de Janeiro. Escreve o jornal que a procura – com 15 mil reservas adiantadas – excedeu largamente a oferta inicial de apenas quatro mil cópias.
Os autores argumentam que a versão anotada "desconstrói e coloca em contexto a escrita de Hitler", como o objectivo de desmistificar o texto inflamatório, publicado originalmente em 1925, cerca de dez anos antes de Hitler chegar ao poder, escreve o The Washington Post.
O livro foi recebido com algumas críticas por parte da comunidade judaica no país, que questiona propagação das ideias do ditador nazi.
Todavia, o Conselho Central Judeu disse não ter objecções a esta edição, mas apoia firmemente todos os esforços para prevenir a impressão da obra sem anotações.
Josef Schuster, presidente da instituição, disse em Janeiro, citado pelo The Telegraph, que a sua expectativa é que esta nova obra "contribua para desmascarar a ideologia desumana de Hitler e combater o anti-semitismo".