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Lello lança três OPA para mostrar livros como "objeto de investimento"

A maior exportadora de literatura portuguesa reservou 321 mil euros para comprar primeiras edições d’Os Lusíadas, do Harry Potter e do primeiro jornal nacional. Em 2018, a livraria do Porto recebeu 1,4 milhões de visitas e vendeu uma média de 1.200 exemplares por dia.

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A histórica Livraria Lello decidiu lançar uma oferta pública de aquisição (OPA) sobre as primeiras edições d’ Os Lusíadas, de Harry Potter e a Pedra Filosofal e ainda da Gazeta da Restauração, num investimento conjunto que pode ascender a 321.500 euros. Estas operações serão supervisionadas por uma comissão técnica de especialistas em livros antigos e raros, sendo válidas durante um período de 60 dias.

 

A maior parte do orçamento, a rondar os 250 mil euros, está reservado para a aquisição do exemplar da epopeia poética de Luís Vaz de Camões, que a livraria da cidade do Porto quer juntar às primeiras edições em inglês e em francês. Em caso de sucesso – e porque "os livros não devem ficar só fechados em bibliotecas e nos colecionadores" –, esta obra será mostrada ao público na Sala Gemma, que abriu em 2018 para acolher raridades e primeiras edições.

 

Pela ligação inspiradora de J.K. Rowling à Lello e "como homenagem a uma das poucas autoras que fizeram com que uma nova geração continuasse a ler", justificou a presidente do conselho de administração, Aurora Pedro Pinto, a empresa que comemora 113 anos este domingo, 13 de janeiro, está disposta a comprar por 70 mil euros um dos 200 exemplares da edição original em inglês de Harry Potter e a Pedra Filosofal que estão em mãos privadas. O primeiro volume da saga foi lançado em junho de 1997 pela editora Boomsbury com um custo unitário de 10,99 libras (12,3 euros ao câmbio atual).

 

Finalmente, porque "os jornais são o quotidiano da leitura" e também para "chamar a atenção para a importância da imprensa escrita", a popular livraria da cidade Invicta oferece 1.500 euros por um exemplar inaugural da Gazeta da Restauração. Considerado o primeiro jornal português de publicação regular, editado pela primeira vez em 1641, um ano depois da recuperação da independência, foi apresentado pelo jornalista portuense Germano Silva como "o precursor do jornalismo moderno".

 

Aurora Pedro Pinto, presidente do conselho de administração da Livraria Lello.
Aurora Pedro Pinto, presidente do conselho de administração da Livraria Lello. Paulo Duarte

 

"[Queremos] passar a mensagem de que o livro é um objeto cultural, mas também de investimento. Temos uma faixa de pessoas que podem começar a ver o livro também de uma outra maneira. É uma forma de chamar mais gente ao livro", sublinhou Aurora Pedro Pinto, traçando mesmo um comparativo com outros objetos culturais, para defender que "um livro conta mais histórias do que um quadro numa parede lá de casa". Para a posteridade fica o toque do sino, simbologia associada à bolsa de valores, e a memória dos que "dobraram" às 11:10 em várias igrejas da Baixa da Invicta, dos Clérigos à Sé, para se associar à efeméride.

 

Novas receitas "viram página" financeira

 

A intenção de compra destas três obras dominou a sessão comemorativa de mais um aniversário da Livraria Lello, realizada esta manhã, que serviu também para homenagear Eduardo Lourenço. O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, gravou um pequeno vídeo de felicitações; o autarca Rui Moreira recordou os tempos em que era cliente de uma livraria que definhava antes das obras de recuperação; e a ministra da Cultura, Graça Fonseca, falou na "simbiose entre património e literatura" e destacou que "as livrarias têm de ser guardiãs da nossa cultura, história e língua".

 

Questionada pelo Negócios sobre o atual poderio financeiro da Lello para fazer estas ofertas públicas, a administradora falou de "uma livraria cheia, em pleno", que tem "a felicidade de ser a casa que mais exporta cultura literária portuguesa". "Essa felicidade para nós não é só um arrecadar de dinheiro. É, essencialmente, poder mostrar os livros, o amor pela literatura e por aquilo que ela representa e que tem de se manter no futuro. Tudo o que investimos é em coisas importantes para nos mantermos como livraria, mas também [para] que quem nos visita possa ganhar essa paixão pelos livros", acrescentou.

 

Temos a felicidade de ser a casa que mais exporta cultura literária portuguesa. Essa felicidade para nós não é só um arrecadar de dinheiro. Aurora Pedro Pinto, presidente do conselho de administração da Livraria Lello

 

Este negócio fundado em 1906 ganhou um novo fôlego em meados de 2015 com a decisão de começar a cobrar um bilhete para a entrada na livraria, o que na altura gerou uma grande polémica em torno da questão do acesso a um espaço cultural. Esse "voucher", que na Internet tem o valor de cinco euros, é totalmente dedutível na compra de um livro e contribui para disparar a faturação da livraria, que ronda atualmente os dez milhões de euros.

 

Segundo os dados fornecidos ao Negócios por Aurora Pedro Pinto, excluindo convites e eventos ali realizados, o número de visitantes ultrapassou 1,4 milhões de pessoas no ano passado, em resultado de um crescimento homólogo de 13%. "O que significa que também não podemos ir muito além", frisou a gestora nortenha. Em 2018, metade dos turistas acabou mesmo por comprar um livro no final da visita, o que ajudou a impulsionar a média diária para 1.200 livros vendidos por dia.

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