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João Soares deixa de ser ministro da cultura quatro meses após assumir o cargo
Depois de ter ameaçado com "bofetadas" dois conhecidos colunistas do jornal Público e perante a polémica provocada pela situação, João Soares pediu a demissão do cargo de ministro da Cultura. O primeiro-ministro já aceitou o pedido de demissão.
Pouco depois de ter sido tornado público este pedido de demissão, às 13:15 o primeiro-ministro anunciou, no Porto, que aceitou "naturalmente" a demissão de João Soares dizendo que agradece "profundamente a colaboração, empenho e energia que colocou no exercício das funções de ministro da Cultura". Soares deixa assim a pasta ministerial da Cultura ao fim de pouco mais de quatro meses na função.
No referido comunicado, João Soares realça o "privilégio" que consistiu em fazer parte deste Governo nos últimos quatro meses. "E ter trabalhado com o primeiro-ministro, a quem agradeço a confiança. Demito-me também por razões que têm a ver com o meu respeito pelos valores da liberdade. Não aceito prescindir do direito à expressão da opinião e palavra", disse ainda o antigo presidente da câmara de Lisboa.
Esta quinta-feira logo ao início da manhã, João Soares escreveu na sua página da rede social Facebook que devia "duas bofetadas salutares" ao crítico Augusto M. Seabra e também a Vasco Pulido Valente. "Só lhes podem fazer bem. A mim também", escreveu ainda Soares que lembrou ter prometido publicamente essas bofetadas a Angusto M. Seabra em 1999 e lamentando não ter tido desde então oportunidade de cumprir a ameaça.
Seabra reagiu classificando de "inqualificável" a ameaça feita pelo ministro da Cultura em reacção "àquilo que é um exercício legítimo de um texto de opinião". É uma reacção que "atenta contra a liberdade de expressão e os direitos constitucionais dos cidadãos", disse Augusto M. Seabra. Já Pulido Valente, em declarações feitas ao Expresso, limitou-se a dizer que ficaria a aguardar pelas veladas bofetadas.
Também ao Expresso, que pediu uma reacção do ainda ministro ao caso, João Soares respondeu: "Sou um homem pacífico, nunca bati em ninguém. Não reagi a opiniões, reagi a insultos. Peço desculpa se os assustei".
E já ao final do dia, também numa nota enviada à Lusa, Soares voltava a pedir desculpa, desta feita já num tom menos irónico. "A minha intenção não foi ofender. Se ofendi alguém peço desculpa", disse para depois se resguardar acrescentando ter-se limitado a responder a um "ataque pessoal insultuoso, com uma figura de estilo de tradições queirosianas".
António Costa viria depois a terreiro, ainda esta quinta-feira, para ele próprio pedir desculpa em nome do Governo. "Tanto quanto sei, o doutor João Soares já pediu desculpa aos visados pela forma como se expressou. Eu pessoalmente quero também expressar publicamente desculpas a duas pessoas, a Augusto M. Seabra, por quem tenho particular estima, e a Vasco Pulido Valente, por quem tenho consideração", disse em declarações feitas à entrada do Teatro da Comuna, em Lisboa.
Costa aproveitou ainda a ocasião para notar ter recordado "aos membros do Governo que, enquanto membros do Governo, nem à mesa do café se podem deixar de se lembrar que são membros do Governo e portanto devem ser contidos na forma como expressam as suas emoções".
Quem também já reagiu à demissão de João Soares foram os visados pela ameaça do agora ex-ministro. Contactos pela Lusa, os dois críticos consideraram esta decisão acertada. Augusto M. Seabra diz ter tomado conhecimento da demissão "com alguma surpresa", avaliando-a como "saudável" e "a melhor do ponto de vista ético". Já Pulido Valente garante não ter recebido a notícia com surpresa porque Soares "não tinha outra saída".
Costa entrega "nos próximos dias" ao Presidente o nome do substituto de Soares
Após ter agradecido os préstimos dados por João Soares ao XXI Governo Constitucional, António Costa disse esta manhã no Porto, ladeado pelo presidente da câmara local e vereador, Rui Moreira e Manuel Pizarro, que "respeito e aceito a avaliação que [João Soares] fez das condições que tinha para exercer essas funções" de ministro da Cultura.
Considerando que não "seja urgente resolver o problema na próxima meia hora", o primeiro-ministro disse que "nos próximos dias entregarei ao Presidente da República o nome de uma personalidade que substituta o doutor João Soares".
Em jeito de nota final, António Costa referiu-se a Soares como "um dos grandes vereadores da Cultura [que passou pela] câmara municipal de Lisboa" e disse acreditar que se o ex-ministro "tivesse tido a oportunidade de desenvolver o seu trabalho durante quatro ano" poderia ser encarado pelo país "como um grande ministro da Cultura".