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As faces das desigualdades em Portugal em nove gráficos

Sempre que a covid-19 ganha mais uma batalha e perdura, obrigando as economias a manter medidas de confinamento, há outra pandemia que se alastra: a das desigualdades.

Tabuleiro da economia mundial fica ainda mais inclinado

Tabuleiro da economia mundial fica ainda mais inclinado

A pandemia de covid-19 está a ter um impacto muito diferenciado no mundo. As economias mais desenvolvidas, com melhores sistemas de saúde, instituições mais organizadas e uma capacidade orçamental mais robusta para responder aos efeitos da crise, estão a ser menos afetadas do que os países em desenvolvimento. As regiões mais industrializadas também estão a resistir melhor. Uma forma de ver a desigualdade é a dimensão dos pacotes de medidas aplicadas para amparar os danos da pandemia.

Exposição ao risco de infeção varia

Exposição ao risco de infeção varia

A exposição ao risco de ficar infetado nesta pandemia difere muito consoante a profissão. Nem todos se podem proteger, trabalhando a partir de casa. O estudo "O impacto social da pandemia", realizado pelo ICS/ISCTE sobre a economia portuguesa, mostra que apenas 8% dos inquiridos com escolaridade até ao 3.º ciclo puderam ficar em teletrabalho. Entre os licenciados, 56% dizem ter ficado a trabalhar a partir de casa, protegendo assim melhor a sua saúde.

União Europeia reforça caminho das divergências

União Europeia reforça caminho das divergências

As divergências também estão a crescer dentro da União Europeia. Os países mais endividados têm mais dificuldade em mobilizar recursos suficientes para amparar os danos económicos da pandemia. E alguns deles são também dos mais afetados - Portugal e Espanha são dois exemplos. Com empresas e famílias menos apoiadas, estes países terão mais dificuldade em recuperar a atividade, uma vez ultrapassada a crise sanitária. A expectativa é que levem mais tempo a atingir o nível de PIB pré-pandemia.

Poupança só está ao alcance de alguns

Poupança só está ao alcance de alguns

A desigualdade dentro de cada país também aumenta com esta pandemia. Aqui, os efeitos são semelhantes ao de outras crises, na medida em que os mais vulneráveis ficam mais desprotegidos, mas são exacerbados porque a pandemia prejudica muitas dimensões em simultâneo. Por exemplo, são as fatias mais ricas da população que consegue acumular mais poupanças durante esta crise, uma vez que deixam de afetar rendimentos a atividades que estão agora encerradas. Os mais pobres já não faziam estes consumos.

Dentro de cada país, os setores não são todos iguais

Dentro de cada país, os setores não são todos iguais

Nesta pandemia, o setor de atividade a que cada trabalhador pertence não é indiferente. Primeiro, nem todos estão sujeitos às mesmas restrições impostas pelas medidas para travar o contágio do vírus. E segundo, a procura não cai da mesma forma em todas as áreas de atividade. O comércio, o turismo e a restauração, onde há muito emprego precário, sofreram uma quebra muito superior à de outras atividades económicas. Já a construção foi a única que se conseguiu manter em terreno positivo.

Acesso à educação mais diferenciado

Acesso à educação mais diferenciado

Por causa do confinamento, a suspensão das aulas presenciais colocou em maior desvantagem os alunos que já estavam mais prejudicados. A partir de casa, a capacidade de manter a aprendizagem depende de fatores como o acesso a computador e a internet, a estrutura familiar e o apoio que os pais podem dar, a própria configuração da casa e a disponibilidade de um espaço tranquilo para estudar. Na escola, estas diferenças são esbatidas, mas em casa permanecem.

São os jovens que mais sofrem no mercado de trabalho

São os jovens que mais sofrem no mercado de trabalho

São os jovens quem mais ocupa os empregos com vínculos mais precários. E são também muitos os jovens que trabalham no setor do comércio, restauração e hotelaria. O resultado é uma destruição de emprego que acentua ainda mais a clivagem geracional que já existia no mercado de trabalho português - conhecido por ser demasiado segmentado - ao incidir sobretudo no emprego jovem. A taxa de emprego dos jovens entre os 15 e os 24 anos caiu mais do que a dos mais velhos.

Trabalham mais mulheres nos setores mais afetados pela pandemia

Trabalham mais mulheres nos setores mais afetados pela pandemia

Há ainda outra desigualdade exacerbada por esta crise: a de género. As mulheres já são mais penalizadas do que os homens no mercado de trabalho - recebem comparativamente menos para as mesmas posições, acedem menos a cargos de chefia, acumulam mais horas de trabalho em casa e a cuidar da família. Mas nesta crise, a transferência da atividade para dentro de casa e o encerramento das escolas aumentaram a pressão sobre as mulheres que tendem também a estar mais representadas nos setores mais afetados pela crise.

Mais qualificados resistem melhor

Mais qualificados resistem melhor

No ano passado perderam-se 48 mil postos de trabalho, mostram os números do inquérito ao emprego. Mas a destruição a que se assistiu não afetou todos por igual. Enquanto o emprego dos trabalhadores licenciados continuou a subir em 2020, o número de postos de trabalho de pessoas com qualificações mais baixas não recuperou. Estas pessoas também são as que têm menos ferramentas para reorientar as suas carreiras profissionais para atividades que resistam melhor à crise.

21 de Março de 2021 às 11:00
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Há mais de um ano que o mundo luta contra uma pandemia que atirou os países para uma recessão histórica. Todas as crises são desiguais tendo potencial para prejudicar mais quem já está mais vulnerável. Mas esta, pela sua abrangência, é mais desigual do que as outras.

A crise provocada pela covid-19 distingue entre os países mais ricos e os mais pobres e prejudica mais as economias mais dependentes do turismo. Os Estados mais endividados são os que menos conseguem reagir uma vez que estão mais limitados no apoio que podem dar às suas empresas e famílias, tornando depois mais difícil a recuperação, mesmo quando a pandemia estiver sob controlo.

Os setores mais atingidos são tradicionalmente atividades com muito emprego precário, com remunerações mais baixas e ocupados por pessoas com níveis de escolaridade menores, que terão depois mais dificuldade em encontrar novo emprego. Nem todos se podem proteger das infeções do mesmo modo: o teletrabalho é viável sobretudo para as profissões com maiores níveis de qualificação e de remuneração, ficando os restantes trabalhadores numa situação em que ou se arriscam ao contágio, ou perdem rendimentos.

Como a pandemia obriga a medidas de confinamento, as desigualdades pré-existentes no seio familiar, ou mesmo nas condições de cada habitação, tornam-se determinantes. As crianças com pais mais disponíveis, e níveis de qualificação superiores, têm mais apoio no ensino à distância do que as demais.
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