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Pobres foram os mais afectados pela crise e austeridade

Entre 2010 e 2013, o rendimento médio caiu 16,5% em Portugal. Os 20% mais pobres foram os que perderam mais rendimento, bem mais do que a classe média ou os ricos, assegura o INE.

Miguel Baltazar/Negócios
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Os pobres foram os mais afectados pela crise económica que assolou o país entre 2011 e 2014, período durante o qual foi aplicado o programa de austeridade. Esta é uma das principais conclusões que se retiram da publicação "Rendimentos e condições de vida", do INE, publicado esta sexta-feira, dia 13 de Maio, e que dá conta da evolução do nível de vida dos portugueses. 


Conforme se pode ver no gráfico, o rendimento dos 20% mais pobres (1º quintil) caiu sempre muito mais do que o dos restantes escalões da população. A quebra foi particularmente significativa em 2012, ano em que o rendimentos dos mais pobres terá caído quase 8%, contra menos de 2% da restante população. 

O INE mostra um dado interessante: a quebra de rendimentos inicia-se ainda antes da troika chegar a Portugal. A grande diferença é que em 2010 a redução é menor entre os 40% mais pobres e mais acentuada para a classe média e alta. A partir de 2011, o padrão inverte-se e os pobres passam a pagar a maior factura da austeridade, indicam os dados do organismo oficial de estatísticas. 

Estes números vão ao encontro do que Carlos Farinha Rodrigues defendeu recentemente: ao contrário do que muitos afirmam, a classe média não foi a mais penalizada no período de ajustamento económico. As grandes vítimas foram os "mais pobres dos mais pobres". Citado pela TSF, o professor do Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG) diz que os mais pobres foram de longe os que mais sofreram entre 2009 e 2013. Farinha Rodrigues explica que esta quebra de rendimentos resulta do corte nas prestações sociais e não nos salários. 


Quanto ao rendimento médio dos portugueses, o INE indica que este caiu 16,5% entre 2010 e 2013. Só em 2014, é que este rendimento médio conseguiu regressar à trajectória ascendente, ficando, ainda assim, em termos nominais (em que a descida foi de 9,6%), em níveis registados dez anos antes: em 2014 situou-se em 1.418 euros mensais. 

Mas não se deve confundir rendimento médio com o rendimento que o português médio recebe. Para esse efeito é mais indicado utilizar o rendimento mediano que, segundo o INE, foi de 703 euros mensais (8.435 euros anuais). 

O INE retoma também a análise dos riscos de pobreza, que havia já divulgado em Dezembro passado, confirmando que 19,5% das pessoas se encontrava nesse limiar. Uma percentagem idêntica à que foi registada no ano anterior, mas que representa um agravamento face à situação de 2011 (17,9%) e 2012 (18,7%).

Crianças, mulheres e desempregados: os mais afectados pela pobreza

 

Sem surpresa, verifica-se que o risco de pobreza em 2014 afectava sobretudo os desempregados, com um risco de 42%. Os menores de 18 anos (com 24% de probabilidades de cair na pobreza) e as famílias com crianças dependentes (com 22,2%) estavam logo a seguir neste ranking negro. Finalmente, destacavam-se as mulheres, com 20,1% de probabilidades de cair em situação de pobreza.

 

Os agregados familiares com mais crianças a cargo apresentavam também riscos mais elevados – dois adultos e três ou mais filhos arriscavam um risco de pobreza de quase 38%. Aliás, um quarto das crianças e jovens viveu com um rendimento equivalente inferior a 428 euros mensais, em 2014, "o que reflecte as condições relativamente desfavorecidas das famílias com crianças", diz o INE.

 

Já no conjunto da população reformada, 41% tinham rendimentos inferiores a 610 euros, sendo que os restantes 59% se distribuíam de forma "razoavelmente equitativa pelas três classes de rendimento mais elevadas".

 

Como seria de esperar, conclui-se ainda que estar empregado aumenta a possibilidade de um rendimento mais elevado. Em 2014, mais de 70% da população tinha um rendimento superior a 610 euros por mês e destes, mais de metade ultrapassava os 800 euros mensais. Em contrapartida, mais de 40% da população desempregada vivia com um rendimento inferior ao limiar de pobreza (422 euros por mês).

 

Mais dinheiro, mais estudos

Os dados do INE dão ainda um retrato sobre a relação entre dinheiro e estudos. Quanto maior o rendimento, maior o nível de qualificações. Entre os 20% mais ricos em 2014 – acima de 1.110 euros mensais –, mais de metade (57,5%) tinha completado o ensino superior. Em contrapartida, mais de 70% da população, que tinha apenas até ao ensino básico, vivia com um rendimento por adulto inferior a 800 euros por mês. 

 

Os dados do INE revelam, igualmente, que apenas 10% das pessoas que só tinham o ensino básico estavam na tal fatia de 20% da população com os rendimentos mais elevados. E, a comprovar que há uma correlação (não necessariamente uma relação de causalidade) entre educação e nível de rendimentos obtidos, as estatísticas mostram também que mais de metade da população que tinha terminado o secundário estava nas duas classes de rendimento mais elevado.

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