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Moody's sobre casas em Portugal: Há focos de risco, mas ainda não há bolha
A agência de rating alerta para a evolução do preço das casas em Lisboa e no Porto, mas afasta - para já - o cenário de uma "bolha" a nível nacional. Quem tem beneficiado desta recuperação é a banca, refere a Moody's.
A agência de rating admite que existem focos de risco no sector imobiliário em Portugal, mas rejeita a existência de uma bolha. A avaliação é feita pela Moody's num relatório publicado esta quinta-feira, 13 de Dezembro, sobre as condições do mercado nacional de imóveis.
"O mercado imobiliário nessas áreas [Lisboa e Porto] está a acelerar a um passo fora do normal, especialmente considerando que os níveis de rendimento das famílias não parece ter acompanhado o mesmo crescimento dos preços imobiliários dessas áreas", assinala o vice-presidente da Moody's, Antonio Tena, um dos autores do relatório, que colaborou com o analista Greg Davies.
Os sinais de sobrevalorização regional também tinham sido identificados pelo Banco de Portugal na semana passada. "Nos trimestres mais recentes, observam-se alguns sinais, ainda que limitados, de sobrevalorização dos preços do imobiliário residencial em termos agregados, sendo que se poderão observar situações de sobrevalorização mais acentuada a nível regional/local", apontava o Relatório de Estabilidade Financeira.
Na opinião da agência de rating, a aceleração dos preços no imobiliário em Portugal pode ser perigosa se não houver uma relação entre os níveis de rendimento e a evolução da valorização. "O equilíbrio do mercado imobiliário interno irá desequilibrar-se se os compradores tiverem expectativas irrealistas sobre o quão mais os preços irão aumentar", alerta a Moody's.
Ainda assim, apesar da chamada de atenção dada aos focos de riscos, a agência de notação financeira não considera que exista uma bolha: "Não existe actualmente nenhuma indicação de que a taxa de construção esteja a ser hiperactiva [esteja a crescer demasiado face à procura], o que, se fosse esse o caso a nível nacional, poderia indicar uma potencial bolha nos activos imobiliários". Recentemente, a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Económico (OCDE) também afastou, para já, o cenário de "bolha".
O relatório conclui que, para já, a actividade de construção residencial em Portugal está a responder à "grande procura", mas com níveis "saudáveis" que promovem a "sustentabilidade" dos preços em resposta a um aumento da procura que deverá manter-se nos próximos tempos.
A Moody's atribui esta melhoria do sector imobiliário às condições macroeconómicas em Portugal, à atracção de capital estrangeiro através dos vistos gold - em seis anos, o investimento chinês em imobiliário atingiu os 2.234 milhões de euros -, ao regime fiscal para residentes não habituais e ao dinamismo do turismo. A queda do desemprego e o reforço do poder de compra dos portugueses também deverá ajudar a manter os preços das casas em níveis altos face ao passado recente.
Banca beneficia da melhoria do sector
Os bancos têm colhido os benefícios desta melhoria nos seus balanços. "Os rácios de NPL (crédito malparado) dos bancos portugueses irão continuar a melhorar com o aumento dos preços das casas e o fortalecimento da economia, ainda que a um ritmo mais moderado", escreve a Moody's.
O dinamismo do sector imobiliário fortalece os activos dos bancos e diminui o perigo de perdas em caso de incumprimento. Isto porque, tal como explica a agência de rating, se os empréstimos entrarem em incumprimento e as propriedades tiverem de ser vendidas, as perdas são limitadas dado que existe procura e os preços estão elevados.
Apesar da descida do rácio de NPL, os créditos problemáticos continuam a pesar 12,4% em Portugal, acima da média europeia de 4%.