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Gastos essenciais pesam cada vez mais no orçamento das famílias portuguesas

Em 2015/2016, mais de 60% da despesa das famílias portuguesas servia para pagar casa e energia, alimentação e transportes. Mais 3,3 pontos do que em 2010/2011 e bastante acima dos valores observados no início do século.

Bruno Simão/Negócios
17 de Julho de 2017 às 11:43
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Os dados do Instituto Nacional de Estatística (INE) mostram que os agregados familiares portugueses gastam, em média, 20.363 euros por ano. Menos 28 euros do que em 2010/2011, antes do período mais duro de austeridade. No entanto, as maiores diferenças não estão na dimensão do orçamento, mas sim na sua distribuição.

Segundo o INE, mais de seis em cada dez euros dos orçamentos familiares estão concentrados em rubricas essenciais: habitação, alimentação e transportes. "Em conjunto, as três principais componentes da despesa (habitação, alimentação e transportes) concentravam 60,3% da despesa total anual média das famílias residentes em Portugal em 2015/2016 ou seja mais 3,3 pontos percentuais relativamente ao início da década (57%)", pode ler-se no destaque do INE.

A tendência não começou com a crise económica. Se recuarmos um pouco mais, verificamos que esses gastos estão a ganhar peso pelo menos desde 2000. Nesse ano, essas categorias da despesa representavam 53,5% do orçamento familiar. Contudo, estas três rubricas essenciais não têm o mesmo comportamento. Embora o peso da alimentação tenha aumentado face a 2010/2011, a trajectória tem sido de descida nos últimos 16 anos, passando de 18,7% para 14,3%.

A habitação segue uma tendência totalmente diferente, conquistando progressivamente espaço. Com um salto de 19,8% para 31,9%, os gastos com casa e energia são hoje, de longe, a categoria que mais dinheiro tira da carteira dos portugueses.

Para os gastos essenciais ganharem espaço, os portugueses tiveram de abdicar de outras despesas (recorde-se que o orçamento total encolheu ligeiramente). Foi isso que aconteceu com os gastos em restaurantes e hotéis - que, em cinco anos, passaram de 10,4% para 8,8% da despesa -, e com lazer e cultura, que cai de 5,3% para 4,2%.



Lisboa gasta mais

Ao analisar as divisões por região do país, observa-se que apenas uma delas, a Área Metropolitana de Lisboa, apresenta um nível de despesa claramente acima da média nacional (23.148 euros vs. 20.363).

"O valor médio mais baixo foi de 16.856 euros, registado na Região Autónoma dos Açores. Também as regiões Norte (com 19.928), Centro (18.875), Alentejo (17.798) e a Região Autónoma da Madeira (18.204), apresentavam valores médios de despesa total inferiores à média global", escreve o INE. O Algarve está alinhado com a média nacional (20.459).

A distribuição das principais rubricas de gastos não muda de forma significativa. A habitação tem o maior peso, seguida pela alimentação e os transportes. Só no Centro é que há uma inversão de ordem, com os transportes à frente dos produtos alimentares.

"A proporção acumulada das despesas nestas três principais componentes, que no conjunto do país era de 60,3%, era mais significativa na Região Autónoma dos Açores (64,7%) e na região do Alentejo (63,2%), sendo de apenas 59,0% na região do Algarve", lê-se no relatório.

Numa distinção entre áreas urbanas e áreas de cariz mais rural, verifica-se que os gastos essenciais têm um peso ainda maior, chegando quase aos 64% do total, acima dos cerca de 60% da média nacional.



Filhos fazem a diferença

As famílias com filhos têm gastos médios significativamente mais elevados do que as restantes (mais 60%). A despesa de um agregado familiar sem crianças dependentes é de 17.494 euros, bastante abaixo dos 25.254 euros entre aqueles que têm filhos. Os gastos aumentam em todas as rubricas da despesa, excepto na saúde.

Como seria de esperar o ensino apresenta a maior disparidade, com despesa oito vezes superior (123 euros vs. 1.030 euros). "Similarmente, os valores registados pelos agregados com crianças dependentes nas despesas relacionadas com "Vestuário e calçado", "Lazer, distracção e cultura" e "Transportes" eram cerca de duas vezes mais elevados do que nos agregados sem crianças", acrescenta o INE.

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