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COP26. Políticos deixam promessas multimilionárias para “atacar” emergência climática

Em Glasgow, na Escócia, os últimos dias têm sido recheados de anúncios que prometem milhares de milhões para responder às alterações climáticas, com os políticos a comprometerem-se a direcionar fundos para questões como a desflorestação e redução de emissões.

EPA
03 de Novembro de 2021 às 20:30
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Desde domingo, quando arrancou a COP26, a Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas para as Alterações Climáticas, em Glasgow, que os políticos das maiores economias globais têm vindo a revelar promessas de milhares de milhões de dólares para enfrentar o tema das alterações climáticas. Os anúncios têm chegado em catadupa, num evento em que a principal promessa passa por conseguir reduzir as emissões de gases poluentes, numa altura em que o aumento da temperatura global deixa o mundo em alerta vermelho.


Entre trocas de galhardetes entre algumas das maiores economias e contestação por parte de ativistas, que exigem às forças políticas dos países desenvolvidos que aumentem os esforços, da COP26 saem até agora dois acordos de relevo, ambos com meta até 2030: um para a redução das emissões de metano e outro para pôr fim à desflorestação.


Do lado da Comissão Europeia, que tem feito da transição climática uma bandeira, Ursula von der Leyen foi a Glasgow para fazer pelo menos dois anúncios com números redondos: 4,3 mil milhões de euros direcionados para o financiamento climático, destinado a apoiar os países mais vulneráveis a adaptarem-se e a adotar as energias renováveis.


Além deste montante, a Comissão Europeia anunciou ainda que vai canalizar mil milhões de euros para o combate à desflorestação. Deste montante, 250 milhões de euros irão para a bacia do Congo e vão ser aplicados em oito países, detalhou a Comissão Europeia - Camarões, República Centro-Africana, República Democrática do Congo, República do Congo, Guiné Equatorial, Gabão, Burundi e Ruanda.


Bruxelas assinou ainda outro compromisso, desta feita virado para a redução das emissões de carbono. Portugal figura também na lista de cem países que se comprometeram a reduzir em 30% as emissões de metano até 2030. Segundo a presidente da Comissão Europeia, reduzir as emissões deste gás - menos "mediático" que o dióxido de carbono - "abrandaria imediatamente o aquecimento global". Von der Leyen lembrou que o metano é responsável por cerca de 30% do aquecimento do planeta desde a revolução industrial.


Intitulada "Compromisso Global do Metano", os cem territórios que assinaram este compromisso defendem que esta será uma forma de tornar possível o objetivo de limitar o aquecimento global a 1,5 graus celsius. Estes cem países representam 70% da economia global, sendo responsáveis por quase metade das emissões de metano. 


Ainda no âmbito desta conferência, o Japão deixou o bloco de países desenvolvidos mais próximo da marca de cem mil milhões de dólares para a emergência climática, ao comprometer-se com fundos de 8,64 mil milhões de euros ao longo de cinco anos para promover a transição energética na Ásia. 


Pôr fim à desflorestação até 2030

Até aqui, a segunda promessa mais relevante saída da COP26 vinda da área política está ligada ao tema da desflorestação. Mais de cem políticos assinaram um compromisso onde afirmam que até 2030 vão pôr um fim à desflorestação e reverter os principais efeitos. 


Com nove anos para alcançar esta promessa, a inscrição deste objetivo a atingir chega acompanhada de um valor de 19 mil milhões de dólares para estruturar uma abordagem à desflorestação. Este montante terá origem em fundos públicos e privados. 


O Brasil, onde a desflorestação da Amazónia continua, foi um dos países que assinou este documento na Escócia, a par da Indonésia e da República Democrática do Congo. No total, estes três territórios contabilizam 85% das florestas globais. Note-se que, à parte deste compromisso, o Brasil anunciou um plano próprio para pôr um fim à desflorestação ilegal até 2028. 


Joe Biden, Presidente dos Estados Unidos, e Boris Johnson, o primeiro-ministro britânico, sublinharam a importância desta promessa conjunta. "Vamos ter uma oportunidade para pôr um fim à longa história da humanidade enquanto um conquistador à natureza e, em vez disso, vamos tornar-nos um protetor", indicou Johnson. 


Já o Presidente norte-americano salientou que este compromisso permitirá restaurar até 200 milhões adicionais de hectares de floresta dentro de nove anos. "Vamos trabalhar para garantir que os mercados reconhecem o verdadeiro valor económico trazido por se ser neutro em carbono e motivar governos, proprietários e acionistas a dar prioridade à conservação", acrescentou. 


E, segundo o texto deste compromisso global, caso o objetivo inscrito neste documento seja cumprido, será possível reduzir em pelo menos 0,2 graus celsius o aquecimento global até 2050. 


A ambiciosa promessa vinda da Índia

Alvo de pressões, uma vez que é o terceiro maior poluidor à escala global, a Índia anunciou na COP26 que, até 2070, quer ser um país neutro em emissões de carbono. Até 2030, a Índia pretende reduzir as emissões poluentes em mil milhões de toneladas. 


Narendra Modi, o primeiro-ministro indiano, revelou ainda que, no espaço de nove anos, o país quer aumentar a sua capacidade de produção de energia a partir de fontes renováveis para 500 gigawatts, conseguindo assim satisfazer 50% das suas necessidades energéticas sem utilizar combustíveis fósseis.


As promessas feitas pelo primeiro-ministro indiano e o facto de o país querer adotar energias mais limpas já foi, entretanto, louvada por Boris Johnson Em declarações citadas pela agência Reuters, o primeiro-ministro do Reino Unido salientou o "enorme compromisso" estabelecido. "A questão mais importante que foi dita [pela Índia] é a de que pretende descabornizar o seu sistema de energia até 2030". 


Críticas vindas de ativistas e países menos desenvolvidos

Os discursos de arranque desta cimeira dedicada às questões climáticas foram pautados por intervenções que apelaram à difícil situação que o planeta enfrenta, que só irá agravar-se significativamente caso não haja reforços de esforços. 


O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, apelou no arranque da conferência aos líderes mundiais para salvarem a humanidade das alterações climáticas Para Guterres, é "hora de dizer basta", deixando recados sobre os humanos estarem a "cavar a própria sepultura."


"É hora de dizer basta. Basta de brutalizar a biodiversidade, basta de matarmo-nos a nós mesmos com carbono, basta de tratar a natureza como uma latrina (...) e de cavar a nossa própria sepultura", afirmou.


Mas os discursos vindos das forças políticas não agradaram a todos, especialmente aos ativistas ambientais e aos países menos desenvolvidos - em risco de pagar "a fatura" por uma crise ambiental onde os países mais ricos têm uma maior responsabilidade. 


Nas críticas feitas pelos países menos desenvolvidos, à margem da COP26, fica patente que estes países não podem "esperar mais" pelo dinheiro prometido pelos mais ricos. Em declarações citadas pela Lusa, este grupo de países afirma que está há mais de dez anos à espera de que os países mais ricos atinjam a meta dos cem mil milhões de dólares para combater as alterações climáticas. 


"Até agora, o progresso tem sido desapontante e assustador. Esta é a 26.ª COP, o compromisso dos 100 mil milhões foi feito há mais de uma década e não foi cumprido. Não estamos a receber mais do que 10 a 15 por cento e não podemos esperar mais. Os governos dos países responsáveis por mais emissões têm que parar de se furtar às suas responsabilidades", salientou.

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