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Almaraz: Ordem dos Engenheiros impedida de entrar na central nuclear espanhola
Durante a viagem para Espanha, o grupo de engenheiros foi surpreendido com a decisão do cancelamento da visita. Ordem diz que a situação só pode ser encarada como "uma afronta às mais elementares normas de relacionamento das comunidades técnicas" dos dois países. Empresa diz que objectivo inicial da visita foi alterado.
"Uma decisão inesperada", cujas "razões e motivações carecem certamente de uma justificação" e que "contraria o são relacionamento e as normas de cooperação que devem pautar o relacionamento técnico entre entidades dos dois países" bem como "a desejável transparência a nível da partilha de informação técnica". A Ordem dos Engenheiros de Portugal comenta, desta forma, a decisão da empresa responsável pela central nuclear espanhola de Almaraz que esta segunda-feira, sem que nada o fizesse prever, decidiu cancelar a visita de uma comitiva de engenheiros portugueses.
A decisão foi comunicada à Ordem já no decurso da viagem para Espanha, apanhando todos de surpresa e surge numa altura em que a central nuclear tem estado no centro de alguma polémica entre os dois países, na sequência da decisão das autoridades espanholas de, sem terem consultado Portugal, autorizarem a construção de um armazém de resíduos. Almaraz fica a cerca de 100 quilómetros da fronteira portuguesa, pelo que o tema é particularmente sensível do ponto de vista da segurança.
Levantou-se entretanto também a questão do prolongamento, por mais dez anos, do período de funcionamento da central e esta precisamente essa a temática que estava no centro desta viagem a Espanha dos representantes da Ordem dos Engenheiros. Tratava-se "de uma visita de natureza técnica, cujo propósito assentava na recolha de informações sobre a operação da Central, bem como das perspectivas de prolongamento do seu ciclo de vida e sobre a intenção de construção de um depósito de resíduos nucleares", esclarece a Ordem.
Essa motivação, acrescentam os responsáveis em comunicado, esteve clara desde o início da marcação da visita, que "estava há muito agendada". Não será esse o entendimento dos responsáveis da Central, explorada pelas empresas Iberdrola, Endesa e União Fenosa. Em declarações à Lusa, fonte da central explicou que "há dezenas de visitas anualmente de cortesia e de caráter técnico" geral, para explicar às mais diversas entidades "o que é e como funciona uma unidade nuclear de produção de eletricidade". No entanto, a Ordem dos Engenheiros pretendia "investigar" as condições de prolongamento da central e a construção do aterro nuclear "e isso não era o tema da visita".
O cancelamento foi recebido "com total surpresa por parte da Ordem", cuja delegação integrava o bastonário, Carlos Mineiro Aires, os dois vice-presidentes nacionais, membros do Conselho Directivo Nacional, os presidentes dos Colégios Nacionais de Engenharia Electrotécnica e de Engenharia do Ambiente, o coordenador da Especialização de Energia, um membro da Assembleia de Representantes e vários especialistas.
Nada fazia perspectivar que a Ordem, "preocupada com a segurança dos portugueses e com os impactes transfronteiriços" do futuro da central nuclear "pudesse ser confrontada com este desfecho imprevisível" que, consideram os representantes dos engenheiros, "é um mau exemplo do que deve ser o relacionamento, no campo técnico, entre dois países vizinhos" e "uma afronta às mais elementares normas de relacionamento das comunidades técnicas e associativas de Espanha e Portugal".
(notícia alterada às 13:00 com reacção de fonte da Central de Almaraz citada pela agência Lusa)