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O centro do poder de Alex Ferguson

O antigo treinador do Manchester United partilha agora as suas ideias sobre a liderança no futebol. Lições que se aplicam também a muitas outras actividades fora dos relvados.

23 de Julho de 2016 às 12:30
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Alex Ferguson
, "Liderança", Actual, 354 páginas, 2016


Alex Ferguson deixou o Manchester United órfão. Não admira. Ferguson era o United e era Manchester porque, no seu tempo, o City era uma ilusão. Ganhou 13 campeonatos em 20. Agora chegou José Mourinho e alguns esperam que o fantasma à solta (Ferguson) se acalme. Os adeptos continuam nostálgicos de Ferguson e da sua liderança forte. Do seu poder centralizado, onde todos os caminhos iam ter a ele e onde a sua opinião era lei. Foi assim no Manchester United durante décadas, independentemente de vitórias e derrotas ou da mudança de proprietários do clube.

Ferguson era o líder mas também o mestre da motivação. Ninguém duvida: foi único. Será sempre imortal. Ferguson era o sol à volta do qual giravam todos os planetas e cometas. Todos eram satélites da sua força interior e exterior. Ferguson modificava a forma como as pessoas actuavam. E, no centro de tudo isso, estava a sua competitividade. Por isso, Cristiano Ronaldo aprendeu tanto com ele.

Há alguns anos recordou que isso foi forjado na sua adolescência. Afinal, na Escócia, o lema da família Ferguson é o seguinte: "Dulcius ex asperis". Isto é, doçura depois da amargura. Ficou-lhe para sempre. Controle, poder e capacidade de mudança foram sempre as linhas de força da sua acção. E isso tem que ver com a ética do trabalho duro que trouxe consigo da Escócia industrial e da família de trabalhadores onde nasceu. Tal como outros grandes treinadores, todos escoceses: Matt Busby, Jock Stein ou Bill Shankly. Carácter e vontade de vencer. Essas foram as linhas de força que transmitiu aos seus jogadores. E que transformaram o Manchester United num clube global, numa força cultural única e numa potência comercial com poucos rivais.

Liderar passou a ser parte da sua vida. Não admira que Tony Blair, quando era primeiro-ministro, escutasse muitas vezes os seus conselhos. Em "Liderança" (feito com Michael Moritz), recupera os seus conceitos. Como escreve: "A autoridade, e o exercício de controlo, assentam na confiança de quem os detém. Não há líder que tenha hipóteses se as pessoas que deve gerir perceberem que a confiança no seu dever é ténue. No futebol, são os proprietários dos clubes que exercem essa autoridade. Quando são inequívocos quanto à confiança no treinador - e ao seu apoio - isso facilita bastante o seu trabalho".

Ferguson diz que discorda de quem acha que ele era autoritário. E contrapõe: "Há uma grande diferença entre o controlo e o poder. Regra geral, qualquer líder de grupo dispõe de poder considerável, mas é fácil abusar-se dessa situação. Um dos efeitos secundários do abuso de poder é quando alguém lidera através da intimidação. Com o passar do tempo, aprendi a controlar o meu mau feitio".

A sua opinião, nestas relações de poder, com os intermediários ou agentes não é a melhor. Tem uma boa opinião de Jorge Mendes. Mas diz sobre a maioria: "Os agentes transformaram-se em verdadeiras varejeiras do futebol. Hoje em dia estão um pouco por todo o lado, e a maioria não faz nada além de puxar a brasa à sua sardinha e de perturbar as relações que os jogadores têm com os clubes e os treinadores. Transformaram inúmeros jogadores em mercadorias; uma conversa com a maior parte dos agentes é pior do que tentar chegar a um acordo num mercado".

Para Ferguson, o futebol é a continuação da política por outros meios. Alex Ferguson sabe isso. A sua forma de treinar os jogadores inspirou-se sempre nos conselhos que Nicolau Maquiavel deu à classe política em "O Príncipe": "Toda a acção é designada em termos do fim que procura atingir". Mais do que de tácticas, fala da gestão de jogadores. Por isso, este livro é poderoso.



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