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O escritor da Grande Depressão

O livro “1933 foi um mau ano” é um bom exemplo da escrita de John Fante, autor que inspirou a “Beat Generation” americana.

08 de Abril de 2017 às 09:30
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John Fante
1933 foi um mau ano
Alfaguara,
109 páginas, 2017


John Fante simboliza, em alguns aspectos, a literatura americana da Depressão. Os temas que os seus livros evocam são o catolicismo, a identidade americana, a pobreza e, claro, a própria vida do escritor (algo que deixou muito vincado ao criar a figura de Arturo Bandini, o seu alter-ego). Para muitos, ele foi o precursor do "Dirty Realism", que décadas mais tarde haveria de fascinar parte da escrita norte-americana.

De origens italianas, Fante viveu os sonhos e pesadelos que descobrimos nos seus livros. O seu mais conhecido romance, "Perguntem ao Pó", com Arturo Bandini como protagonista, sistematiza as suas obsessões: é um pobre escritor americano de origem italiana que tenta a sua sorte em Los Angeles. Fante tornou-se mesmo um ídolo para Charles Bukowski que, em 1940, descobriu o escritor na Livraria Central de Los Angeles. Leu "Perguntem ao Pó" e disse: "Fante é o meu Deus". Acabaria muito mais tarde, na década de 1970, por ser o principal responsável pela recuperação da obra de Fante, então esquecida.

"1933 foi um mau ano" é um típico, e bom, exemplo da escrita de Fante. Aqui seguimos Dominic Molise, que quer rapidamente sair de casa dos pais (um pedreiro que só pensa em mulheres e uma mãe extremamente beata), onde as dívidas são superiores aos rendimentos. Dominic quer perseguir o "sonho americano" e tornar-se uma estrela de basebol. Mas vive num meio pequeno e fechado, onde as hipóteses de futuro estão mais ou menos definidas. Para se libertar terá de fazer rupturas. E é nesse dilema que Fante consegue tornar Dominic um exemplo daquilo que muitos americanos sentiam nesses anos em que a Grande Depressão marcava o ritmo da sociedade. Dominic não é um bom aluno, mas irrita-se solenemente com o fanatismo religioso da mãe, para quem nada nem ninguém são suficientemente bons. O pai também lhe causa raiva.

É aqui que, defronte de Dominic, surgem as alternativas: ou será pedreiro, como o pai, ou vai tentar ser jogador de basebol. O dinheiro (a falta dele) é, neste caso, um aspecto fundamental. Por detrás de todos os sonhos do personagem está a desolação económica dos EUA e onde o "american way of life" está corroído. A escrita de Fante dá luz a esse desespero, num mundo onde todos tentam sobreviver. Por outro lado, Dominic mostra o inferno da passagem da vida juvenil para a idade adulta, com todos os percalços e dúvidas que isso acarreta.

Compreende-se melhor, lendo este livro, como Fante foi um inspirador da "Beat Generation" americana. Mas há o sonho, como quando o pai diz a Dominic, depois de lhe dar dinheiro: "Passei o cabo dos trabalhos para conseguir esse dinheiro. Agora, utiliza-o. Vai jogar basebol. E manda dinheiro para casa". A liberdade tem caminhos muito tortuosos.
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