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Quanto vale uma medalha olímpica?

Sangue, suor e lágrimas. É disto que se faz o caminho dos atletas até aos Jogos Olímpicos. Mas subir ao pódio não é só um momento de glória. É também a garantia de que terão um ordenado ao final do mês.

05 de Agosto de 2016 às 12:00
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Esta noite vão desfilar 92 atletas portugueses na cerimónia oficial de abertura dos Jogos Olímpicos, no Estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro. É a maior delegação de sempre do País nesta que é considerada a mais importante competição desportiva do mundo. Estão inscritos em 16 modalidades e há 12 atletas no "radar" das medalhas. O número foi avançado pelo Comité Olímpico de Portugal. Modalidades como o judo, o atletismo ou o remo podem fazer soar o hino nacional no estádio olímpico. As projecções da Associated Press apontam para que Portugal traga quatro medalhas para casa, mas nenhuma será de ouro. Se assim for, esta será a melhor prestação de sempre dos atletas nacionais numa única edição dos jogos. A agência de notícias norte-americana coloca como potenciais medalhados Fernando Pimenta (canoagem), Rui Costa (ciclismo), Hélder Silva (canoagem) e Rui Bragança (taekwondo). Por outro lado, um estudo do banco norte-americano Goldman Sachs prevê que a delegação portuguesa volte para casa de mãos vazias. São apenas palpites, com base no desempenho dos atletas nas provas internacionais mais recentes, que serviram de triagem para a maior competição desportiva do mundo.

Medalha ao peito, dinheiro no bolso

Subir ao pódio nos Jogos Olímpicos é muito mais do que um momento de glória para os atletas nacionais. É também a garantia de que vão ter apoios financeiros nos anos seguintes. Um desportista nível 1, ou seja, medalhado, ao abrigo do Programa de Preparação Olímpica Rio 2016, tem direito a uma bolsa mensal de 1.375 euros, paga directamente pelo Comité Olímpico de Portugal. Actualmente, existem 11 atletas nesse nível. Essa bolsa tem a validade de dois anos. Findo esse prazo, para manter apoios financeiros, os atletas terão de apresentar bons resultados nas competições europeias e mundiais seguintes. Um atleta que melhore a sua posição nos Jogos do Rio de Janeiro verá o valor da sua bolsa aumentar logo a partir de Setembro. Existem três níveis de bolsas olímpicas, o mais baixo corresponde a 900 euros, o segundo a 1.100 euros e o mais alto a 1.375 euros. Estas bolsas servem para dar uma almofada financeira ao atleta de modo a que se possa preparar para as próximas Olimpíadas, explica a atleta Susana Feitor. Mas acaba também por "dar estabilidade para ele se preparar para outros campeonatos, alguns ainda mais exigentes do que os Jogos Olímpicos", afirma a marchadora que, por causa de uma lesão, não pôde participar nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro.

Além disso, o atleta recebe um prémio em dinheiro do Estado português se ficar nos três primeiros lugares "em reconhecimento do valor e mérito de êxitos desportivos", conforme a portaria n.º 103/2014, de 15 de Maio de 2014. Uma medalha olímpica de ouro vale um cheque de 40 mil euros, a de prata garante 25 mil euros e a de bronze dá direito a 17.500 euros. Mas, como se sabe, o Estado demora a pagar, por isso, se tudo correr como habitualmente, o dinheiro só chegará à conta bancária dos atletas no próximo ano. O processo é burocrático, explica Susana Feitor, que é também vice-presidente da Comissão de Atletas Olímpicos. Para esta desportista, em termos de regulamentação, o projecto olímpico nacional "está na vanguarda", em comparação com outros países. O problema são os custos elevados associados à preparação de um atleta de alto rendimento. Muitos têm de ter outros empregos para conseguir pagar as despesas. E, como tal, ficam em desvantagem, uma vez que a sua capacidade física para treinar diminui. "Estamos a falar de resultados de topo que exigem dedicação exclusiva", sublinha.

A judoca Telma Monteiro participa pela quarta vez nos Jogos Olímpicos. Admite que tem os olhos no pódio. Só lhe falta uma medalha Olímpica no palmarés.
A judoca Telma Monteiro participa pela quarta vez nos Jogos Olímpicos. Admite que tem os olhos no pódio. Só lhe falta uma medalha Olímpica no palmarés.

A exposição mediática destes atletas nos Jogos Olímpicos abre também a porta a patrocínios de marcas que se querem associar à imagem de um campeão. Estes patrocínios "podem fazer toda a diferença", diz Susana. E dá o seu próprio exemplo. Durante 20 anos, foi patrocinada pela Nobre, uma empresa de transformação de carnes de Rio Maior, a sua cidade. "Foi graças a esse patrocínio que eu consegui estar no alto rendimento", explica a atleta. A sua família não tinha recursos financeiros para apoiar a sua carreira.

Espírito de vencedor

Para ganhar medalhas é preciso também ter espírito de vencedor. Algo que parece não faltar aos atletas nacionais, ainda que tenham a noção das dificuldades que vão encontrar. "Cada atleta que sai de Portugal vai com a ambição de dar o seu melhor. Disso, eu tenho a certeza", diz Susana Feitor. E não tem dúvidas de que "temos atletas com capacidade para disputar os lugares da frente". Há quatro anos, em Londres, só veio uma medalha para Portugal. Emanuel Silva e Fernando Pimenta ganharam a prata em canoagem, na prova de K2 1000 metros. Mas, agora, Fernando Pimenta, apesar de estar na lista dos potenciais medalhados na prova de K1 1000 metros, alerta que a competição é feroz, e não considera estar entre os favoritos. Isto apesar de, em Junho, ter conquistado duas medalhas de ouro nos Europeus de canoagem. Pimenta diz que "os pódios, neste momento, rodam constantemente, não existe um virtual vencedor", mas admitiu, em declarações à TSF, que essa conquista ajuda a que "os adversários tenham um pouco mais de respeito e sintam alguma pressão". Para já, o alvo é conseguir um lugar na final da prova.

Telma Monteiro garantiu, pouco antes de partir para o Rio de Janeiro, que tem os olhos no pódio. É a quarta vez que a judoca participa nos Jogos Olímpicos e só lhe falta uma medalha olímpica no palmarés. Por outro lado, há uma série de atletas que recentemente conseguiram lugares cimeiros em provas europeias e mundiais, o que revela a sua boa forma física. "É de esperar que tudo esteja de feição", diz Susana Feitor. Certo é que a humidade do ar e a sujidade das águas no Rio de Janeiro, onde vão decorrer provas em meio aquático, não vão facilitar a vida aos atletas. No dia em que recebeu a delegação olímpica no Palácio de Belém, Marcelo Rebelo de Sousa deixou uma palavra de incentivo. "Pensem naqueles milhões que estão convosco", disse o Presidente da República. Afinal de contas, o país começa a habituar-se a sentir o sabor da vitória.

Prémios pagos pelo Estado  Os atletas medalhados recebem um prémio "em reconhecimento do valor e mérito de êxitos desportivos", cujo valor cresce consoante o lugar alcançado no pódio. Uma medalha olímpica de ouro vale um cheque de 40 mil euros, uma de prata garante 25 mil euros e uma de bronze dá direito a 17.500 euros.

Os atletas olímpicos que ganham medalhas passam automaticamente a receber a bolsa olímpica mais elevada, paga mensalmente durante um período de dois anos. 


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