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Paragrafino Pescada diz bestialidades sobre o ano da besta

Fique a saber de que forma o factor Aduzinda afetou a avaliação do ano feita pelo vosso dileto colunista. Isso e muitas outras coisas que precisa de ler para satisfazer a sua curiosidade.

Reuters
31 de Dezembro de 2020 às 17:22
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No meio das incertezas duras que povoaram 2020 - será que Lucas Veríssimo vem para o Benfica, será que o Joca da telenovela Bem Me Quer vai ficar com a Maria Rita; será que Rui Rio se cura da fobia do Novo Banco; será que Marcelo vai voltar a fazer selfies; será que Melania se vai mesmo divorciar de Trump; será que o Sporting consegue matar o borrego dando-o de comer ao leão -, existe uma garantia dada como adquirida e que todos esperamos se concretize (bata agora na madeira três vezes): 2021 vai ser um ano muito melhor.

 

Na realidade, 2020 seria um ano para esquecer, não fosse o caso de ser melhor nos lembrarmos que existiu para perceber que há coisas que nunca conseguiremos controlar.

Na ficção, 2020 poderia ter sido um ano espetacular, com a malta a imaginar um casamento sumptuoso entre a Cristina Ferreira e o Ruben Rua oficiado pela Cláudia Vieira, o Jorge Jesus a falar um português impoluto ou a saída de Pinto da Costa do FC Porto, o que seria mais ou menos um sonho em branco.

 

Afinal, veio a porcaria de um vírus, que fez de todos nós seres mascarados, especializados na temática do álcool-gel. A par disso, ficámos a saber que as zaragatoas não são apenas armas usadas por indígenas em filmes, mas também cotonetes gigantes que se enfiam pela narina adentro à procura do maldito bicho.

 

Sinceramente, não me conformo. A Aduzinda, que me costumava aquecer os pés, logo quando a pandemia começou, informou-me que não poderia manter o ritual devido à pandemia e à possibilidade de contágio. Eu disse logo que nós já estávamos contagiados pelo amor, mas a Aduzinda ofereceu-me uma dúzia de máscaras cirúrgicas e rematou a cena de uma forma irrebatível: o amor, agora, é proteger a pessoa de quem gostamos.

 

E pronto. Lá fiquei protegido e com os pés frios, a rogar pragas ao vírus que contaminou a minha relação especial com a Aduzinda e a pensar que o amor platónico é uma treta, por muito que alguns teimem em afirmar o contrário.

 

Nesta voragem, é difícil encontrar algo que 2020 tenha tido de bom. Excetuando a circunstância de Donald Trump ter perdido as eleições, só me lembro de a intriga política ter ficado seriamente mitigada por causa da covid-19, embora o reverso da medalha tenha sido a explosão de especialistas na matéria que estilhaçaram a paciência coletiva.

 

Entre os muitos Esponas (Especialistas Em Porra Nenhuma) nacionais e internacionais, destaco Jair Bolsonaro, pela sua capacidade de dizer disparates sem se rir e de conseguir fazer os outros rir com os mesmos, desiderato que está apenas ao alcance de alguns iluminados.

 

Bem, houve outro acontecimento supimpa. O epílogo da saga Brexit. A história já estava a ficar cansativa e repetitiva e Boris Johnson, como bom argumentista, achou (e bem) que estava na hora de partir para outra aventura. É verdade que fica sem o seu parceiro ideal, Donald Trump, mas tem sempre à mão Nigel Farage, não vá o diabo tecê-las. Neste envolvimento, só fica difícil entender o porquê de a União Europeia manter o inglês como uma das línguas faladas pelos eurocratas quando não ficará por lá nenhum nativo da língua de Shakespeare. É por esta e outras que o Boris se ri, exibindo o estilo corrosivo do humor inglês. Cá para mim, esta seria uma ótima ocasião para introduzir o esperanto em Bruxelas. Isso, ou o mandarim, resultando do facto de a economia europeia já ter muitos olhos em bico. 

 

Sinto que estou a transvergir e como tal peço humildes desculpas aos diletos. O 2020 tem este efeito. Transforma em pó os acontecimentos e as figuras que pensávamos serem de bronze maciço, caso de André Ventura, que anda amuado por não ter sido convidado para o casamento cigano em Alter do Chão. Bem, não foi ele nem a GNR, o que o deve deixar mais descansado, não fosse pensar que era uma animosidade dirigida exclusivamente a ele.

 

Também chamam a 2020 o ano da besta. Nesta conformidade, para 2021 prometo regressar com mais bestialidades, proporcionando o exercício da indignação ou pena em relação à minha pessoa.

 

Até lá, cuide de si e dos seus, e entre no ano novo com muito cuidado. Eu volto porque, afinal, há bens que vêm por mal.

 

CV: Paragrafino Pescada tem o mérito inquestionável de ser sobrinho de Virgolino Faneca, que ao longo de quatro anos escreveu neste suplemento. É licenciado em Estudos Artísticos pela Universidade de Salónica com uma pós-graduação em Ciências da Vida, obtida no Café da Geninha. O seu ídolo é o tio, embora admire a capacidade pantomineira de Donald Trump. Nunca se engana e raramente tem dúvidas. Quando as tem, pergunta ao Nuno Rogeiro ou à Siri do iPhone. Gosta de jogar Cluedo e percebe à brava de semiótica, embora ninguém lhe tenha ensinado. É solteiro e do signo Caranguejo (se é que esta informação interessa a alguém).

 

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