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Miguel Monjardino: As alas mais radicais perderam poder nos Estados Unidos

A equipa que Biden escolheu para a administração é “o triunfo da experiência e da competência”, afirma Miguel Monjardino, professor de geopolítica e geoestratégia na Universidade Católica. Mas o seu sucesso vai depender da forma como um grupo de senadores republicanos olhar para o futuro do partido na era pós-Trump.
Filipa Lino 29 de Janeiro de 2021 às 11:00

Sendo um país profundamente dividido, que ambiente podemos esperar nos Estados Unidos nos próximos meses?

A América foi sempre um "país" dividido. Em Portugal e na Europa, esquecemo-nos de que existem "Américas" que são diferentes daquelas que conhecemos. A "nossa" América é sobretudo a do Nordeste dos Estados Unidos e talvez da Califórnia, mais progressista. Mas as outras "Américas" sempre existiram, sempre votaram e sempre foram influentes politicamente. Em função do que tem vindo a acontecer nos Estados Unidos, a presidência de Joe Biden é uma oportunidade para a América. Mas não vai apagar de um dia para o outro as profundas diferenças que existem.

 

Quando diz que é uma oportunidade para a América, é no sentido de se poder reerguer como grande potência?

É uma oportunidade sobretudo em termos internos que depois, obviamente, terá consequências a nível externo. Joe Biden é uma exceção na história presidencial norte-americana. A maior parte dos Presidentes tende a não ser muito experiente. Biden vai contra a corrente. É uma pessoa muito experiente. E, exatamente por isso, sabe que tem pouco tempo para escolher entre ser um Presidente que incrementa coisas, como Obama e Clinton, ou ser um Presidente muito mais radical nas propostas que apresentar. Suspeito que vai escolher o segundo caminho. Mas, para poder ir por aí, depende de um grupo de senadores republicanos. Sem eles, terá muita dificuldade em concretizar algumas das suas ambições.

 

Biden é um homem do Congresso. Isso vai ser vantajoso?

Esse capital de experiência e de longas relações pessoais é uma enorme vantagem em qualquer negociação política. Quer para ele quer, por exemplo, para Mitch McConnell, o líder republicano no Senado.

 

Com quem Biden tem uma relação pessoal.

Conhecem-se muito bem. Já cooperaram no passado em alguns projetos legislativos e reformas, apesar de divergências políticas. Biden e a sua administração estarão muito dependentes da avaliação que McConnell e alguns republicanos fizerem do interesse do Partido Republicano neste contexto.

 

O que vai ser o Partido Republicano depois de Trump?

Acho que ninguém sabe. Há uma diferença entre os republicanos na Câmara dos Representantes e os republicanos no Senado. Os senadores são eleitos em eleições estaduais, enquanto na Câmara dos Representantes os membros são eleitos em função de distritos eleitorais. Ora, é sabido que, pela forma como estes distritos eleitorais são delimitados geograficamente, muitas destas pessoas já têm a vitória garantida. Por isso, poderá haver uma diferente interpretação dos interesses do Partido Republicano entre os membros da Câmara dos Representantes e os senadores, que têm de considerar o cenário de eleições a nível estadual. Na Geórgia, até ao início do ano, a maioria das pessoas pensaria que os republicanos ganhariam os dois lugares no Senado e não ganharam. Agora, muitos senadores republicanos, que se vão submeter a uma reeleição daqui a dois anos, vão ponderar seriamente sobre o que aconteceu na Geórgia. Nesse sentido, poderá haver uma maior propensão para um compromisso político em alguns projetos da administração.

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