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Matilde Fidalgo, a capitã do “Fófó”

Matilde Fidalgo tem 22 anos e joga futebol desde sempre. É a número 5 da Selecção Nacional e capitã da equipa de seniores do Clube Futebol Benfica, o histórico “Fófó”. Não exclui a possibilidade de se internacionalizar mas, para já, quer terminar o mestrado em Engenharia da Energia do Ambiente.

Matilde Fidalgo é a número 5 da Selecção feminina de futebol.
Bruno Simão
27 de Janeiro de 2017 às 11:15
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Ela é a número 5 da Selecção e capitã do Clube Futebol Benfica, o "Fófó". Com os seus grandes cabelos ondulados, Matilde Fidalgo foi sempre a menina dos rapazes. Ainda hoje, para os pais dos primeiros amigos da bola, Matilde é "a nossa menina". Ela não sabe quando começou a jogar futebol. Joga desde sempre. Em casa, perto da Avenida da República, Matilde e os irmãos arrastavam sofás, improvisavam um campo e, não raras vezes, partiam alguns objectos. Aos seis anos, no Colégio São João de Brito, a número 5 da Selecção começou a jogar com os colegas rapazes. "Era muito bem tratada. Se houvesse entradas mais rijas sobre mim, os meus amigos logo diziam: 'Ei, na nossa menina ninguém toca'." Foi assim no campeonato escolar, foi assim no distrital. Ela era a menina deles, mas eles começaram a correr mais rápido do que ela e logo ela que tinha sido sempre mais rápida do que eles. E eles ficaram mais altos. E mais fortes.

Na adolescência, a menina dos rapazes integrou a equipa de futebol feminino do "Fófó". "No início, colocaram-me a extremo mas, como eu não sou muito tecnicista, acabo por não ser muito forte no duelo de um para um, a não ser que venha embalada. Então, fui para defesa. Assim, estou a defender e, se quiser, ataco. Há quem pense que os defesas são uns pezudos, mas os laterais têm uma importância muito grande. Jogadores como o Marcelo e o Daniel Alves interferem muito no jogo ofensivo e, por isso, são referências para mim."

A miúda dos grandes cabelos é calma, tolerante, tranquila. Até ao momento em que ouve o apito inicial. "Nunca me chateio com ninguém, não me chateio com nada, mas quando estou em jogo eu viro e posso ser muito agressiva, às vezes até demais. Não sou maldosa, mas se para ganhar a bola tiver de meter o pé, eu meto o pé. Não faço de propósito para magoar a pessoa, mas entre ter de magoar alguém e ganhar a bola, eu jogo. Se as pessoas forem assim comigo, paciência, eu não me importo, eu percebo, eu aceito, eu sou igual." Hoje tenta conter-se um pouco.

Nunca me chateio com ninguém, não me chateio com nada, mas quando estou em jogo eu viro e posso ser muito agressiva, às vezes até demais.

Matilde Fidalgo entrou para a Selecção Sub-19 com 16 anos, foi capitã de equipa, chegou a ir a uma fase final de um Europeu, na Turquia, em 2012. De lá trouxe uma bola que está guardada no seu "cantinho das coisas do futebol". "Tenho caixinhas onde guardo tudo, medalhinhas, pioneses, canetas, galhardetes…" Hoje, ela é a número 5 da Selecção A e confessa-se eufórica com a qualificação para a fase final do campeonato da Europa. "A certa altura, estávamos 'mortas' para o apuramento, ninguém acreditava que iríamos conseguir. E conseguimos! É um marco muito grande e é o reflexo de como o futebol feminino tem vindo a crescer em Portugal."

A capitão do "Fófó", que recebe um subsídio mensal do seu clube, não exclui a possibilidade de se internacionalizar mas, para já, quer terminar o mestrado em Engenharia da Energia do Ambiente, na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. "Há necessidade de garantir que existe vida depois do futebol. A faculdade é, para mim, uma prioridade", salienta Matilde, ela que é uma espécie de activista ambiental em casa e fora dela. "Tenho um cabelo enorme, penteio-me no banho e às vezes estou dez minutos com a água quente fechada, mesmo no Inverno. Fico cheia de frio, mas logo penso: há falta de água no mundo, há falta de água no mundo... O meu irmão já diz: Matilde, não consigo tomar um banho descansado à tua pala!"

Nos primeiros anos de faculdade, a vida de Matilde foi um corrupio. "Começava as aulas às oito da manhã, saía às sete ou oito da noite, a minha mãe levava-me o jantar no carro e eu comia enquanto ia para o treino. Saía às 22.30, chegava a casa, tomava banho, não conseguia ir dormir logo a seguir, deitava-me à uma da manhã e às sete estava de novo acordada. Mas sempre fiz tudo com alguma destreza. Além disso, e apesar de gostar de estar na conversa com os amigos, nunca fui muito de sair à noite. Aí, tenho a vida facilitada."

Antes dos jogos internacionais, Matilde tem alguns rituais. "Rezo e telefono à minha mãe. Quando comecei a jogar, eu ficava muito nervosa e ligava-lhe para ela me acalmar e este telefonema virou uma superstição, e eu que nem gosto muito de superstições. Continuo a ligar à minha mãe, mas hoje em dia acho que é ela que precisa mais da chamada do que eu. E continuo a rezar, como uma forma de me concentrar, mas, se Deus puder ajudar, melhor ainda."

Clique nas fotografias para ler as histórias de cinco futebolistas portuguesas.




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