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Festival Quarentena: a realidade superou a ficção

A partir do Facebook, 41 artistas partilham os seus trabalhos e reflexões sobre os novos tempos que estamos a viver. Esta sexta-feira, das 09:40 à meia-noite.

Bruno Simão
19 de Março de 2020 às 16:30
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Resistência é a palavra de ordem para estes dias. Um inimigo invisível obriga-nos a deixar as ruas e, com isso, as salas de espetáculo. Raquel André sentiu esse impacto na pele, quando um espetáculo que tinha, no Porto, foi cancelado na semana passada. Ela, que sempre trabalhou sobre o tempo e sobre a nossa necessidade de encontro, não conseguiu ficar parada.

Numa publicação no Facebook lançou o desafio: e se a malta se juntasse para criar um festival à distância? Para o nome, não foi preciso puxar muito pela cabeça: Quarentena. E a ideia tornou-se "viral" – uma escolha de palavras que não deixa de ser interessante para os dias que correm. "Foi um contágio positivo. Tem sido muito emocionante de assistir".

À distância, Raquel André juntou forças com Afonso Molinar, Daniel Pinheiro e Raimundo Cosme para erguerem o Quarentena. Esta sexta-feira, das 09:40 à meia-noite, 41 artistas vão partilhar, a partir das suas casas e de forma gratuita, os seus trabalhos e reflexões no Facebook. Para se organizar e fazer escolhas, pode consultar a programação completa aqui.

Num tempo em que as viagens são desaconselhadas, o festival não deixa de fazer pontes a outras geografias, como o Brasil ou o Reino Unido. "Muitos artistas têm trazido reações à sua própria quarentena. Por exemplo, o Nelson Guerreiro está a escrever tudo o que está a fazer – chama-lhe um ato de romantizar. Depois há artistas que tiveram os seus espetáculos cancelados e que vão fazer uma ligeira adaptação".

Neste espaço virtual, cheio de emoções reais, há de tudo um pouco. Do teatro à música, da performance ao vídeo, passando pela dança e pela poesia. Este momento de colocar a criatividade ao serviço da comunidade não deixa, contudo, de esquecer outras preocupações. Há um futuro, um novo equilíbrio, desejado.

"Este festival não é uma alternativa às artes performativas. Também não é uma solução para o momento que o setor artístico está a viver. Não pretende ser isso. Está a ser, antes, um ato de resistência a esta quarentena, a esta situação de medo. Medo de um vírus invisível, medo das consequências emocionais, físicas e económicas que nos irá trazer", reforça Raquel André, do outro lado do telefone.

Há espetáculos e digressões adiados, ensaios cancelados, teatros e galerias fechados. Uma realidade forçada pela saúde e sobrevivência de cada um de nós. Mas quanto tempo teremos de esperar pela inversão desse ciclo? "Este momento fez com que todas as áreas da sociedade que estavam precárias, presas por pequenos fios, fossem os primeiros a cair". E os artistas não foram exceção.

Raquel André e a equipa do Quarentena admitem avançar para uma segunda edição. "Por um lado, gostaria que não houvesse. Significava que voltámos todos às nossas vidas normais". Até porque, tal como qualquer um de nós, os artistas merecem continuar a ser pagos pelo trabalho fundamental que desenvolvem para a sociedade, para o nosso desenvolvimento pessoal e comunitário. Em que moldes a partir de agora? É outra dúvida que se levanta.

O novo coronavírus está a mostrar que é capaz de superar até os humanos mais criativos. "Já vimos tantos filmes, tantos livros, tantas peças de teatro, em que pusemos este cenário como hipótese, um cenário em que um vírus viria assolar o mundo". A realidade provou, uma vez mais, que e capaz de superar a ficção. "De repente, estamos a viver essas hipóteses". E a precisar de novas ficções.

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