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“Aurora Negra” e mais cinco ideias para a “reentrée” cultural
Os teatros estão de volta, após vários meses de fecho forçado. Há maratonas, festas e viagens no tempo. Mais do que nunca, é preciso voltar aos sítios que nos alargam o olhar sobre este mundo.
AURORA NEGRA
Este é o espetáculo que não deveria perder esta semana, até porque o debate sobre as questões raciais ganhou força durante os últimos meses. Neste âmbito, define-se a certeza que a invisibilidade negra é também uma realidade no campo das artes. E as narrativas, contadas sempre com a mesma perspetiva, tendem a negar um direito essencial que é o de contar as próprias histórias. É com este contexto que nasce "Aurora Negra", o espetáculo que abre a nova temporada na Sala Estúdio do Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa. Três mulheres negras – Cleo Tavares, Isabél Zuaa e Nádia Yracema – reivindicam um corpo, uma voz, uma origem. Elas querem ser protagonistas, não meras figurantes. Este texto, vencedor da segunda edição da Bolsa Amélia Rey Colaço, é um contributo essencial para um debate honesto e informado sobre o colonialismo e o racismo que o país tem procurado adiar, como quem atrasa um (auto) confronto inevitável. Até 13 de setembro.
Pronto para uma verdadeira maratona teatral? Esta é uma proposta ambiciosa que junta o São Luiz Teatro Municipal e o Teatro Nacional D. Maria II no arranque da temporada. As quatro peças mais marcantes de Anton Tchékhov – "A Gaivota", "O Tio Vânia", "Três Irmãs" e "O Ginjal" – sobem a cena com um elenco de luxo, dirigido por Tónan Quito, para falar sobre mudança e futuro. Neste sábado e no próximo, a maratona começa às 19h00 e só termina às 6h00 do dia seguinte, com momentos definidos de intervalo para refeições. Se a empreitada lhe parecer muito ambiciosa, fique também a ser que é possível, durante a semana, ver as duas partes em dias distintos.
ALÉM DOS MARES DO FIM DO MUNDO
Sem sair da plateia do Clube Estefânia – Espaço Escola de Mulheres, em Lisboa, pode entrar a bordo de uma das viagens da frota bacalhoeira portuguesa em meados do século passado. Nesta viagem, onde o encenador Afonso Molinar procura descobrir um avô que nunca conheceu, faz-se também uma homenagem ao dramaturgo Bernardo Santareno no centenário do seu nascimento. Para ver até 13 de setembro.
Um texto com mais de 2500 anos e uma mensagem bem atual. É esta a proposta do Museu de Lisboa-Teatro Romano para assinalar o arranque desta nova temporada. Numa adaptação de Beto Coville, da companhia Teatro Livre, a história de "Medeia" volta a apresentar-se ao público. Com esta mulher, capaz de matar os próprios filhos, questiona-se também uma loucura que atravessa o tempo. Em cena, no "mais antigo teatro do país", até 20 de setembro.
Há quanto tempo não vai a uma grande festa de aniversário? Pois, chegou a hora. Os vinte anos de existência da companhia Circolando celebram-se até domingo no Teatro Carlos Alberto, no Porto. André Braga e Cláudia Figueiredo partem do conceito de corpo-arquivo, do escritor brasileiro André Lepecki, para reunir nesta performance os materiais que contam a história do grupo. Ainda assim, este é um espetáculo centrado no futuro, à espera de novas vidas.
O DESENHO COMO PENSAMENTO
Este sábado marca o arranque do ciclo "O Desenho como Pensamento", que se prolonga até maio de 2021. Para mostrar como o desenho, como etapa essencial do trabalho artístico, teve importâncias diferentes ao longo da história. Águeda será então a casa de uma panóplia de exposições e conversas ao longo dos próximos meses. Na primeira fase, até 1 de outubro, pode ficar a conhecer os trabalhos de Joana Pimentel, Maria Trabulo e Cecília Costa.