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Países em desenvolvimento precisam de mais 2,2 mil milhões por ano para combater alterações climáticas

Colômbia recebe cimeira que discute transformação do setor financeiro com vista à sustentabilidade global. Um estudo do BEI divulgado na conferência coloca os desafios das alterações climáticas a par da violência e da criminalidade.

05 de Setembro de 2023 às 08:33
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São necessários mais 2,4 biliões de dólares (2,2 mil milhões de euros) extra por ano para os países em desenvolvimento e de baixo rendimento poderem fazer face às necessidades de combate às alterações climáticas, referiu Pablo Saavedra, vice-presidente Grupo de Prática Global de Crescimento Equitativo, Finanças e Instituições (EFI) do Banco Mundial, na cimeira "Financiamento em Comum 2023", que está a decorrer em Cartagena, na Colômbia, entre 4 e 6 de setembro. Uma verba que só se consegue "com inovação" e "trabalhando em conjunto", sublinhou Saavedra.

Pelo quarto ano consecutivo, todos os Bancos Públicos de Desenvolvimento estão reunidos para reforçar os seus compromissos de apoio a ações comuns para lidar com as alterações climáticas e promover o desenvolvimento sustentável.

No primeiro dia da cimeira, o Banco Europeu de Investimento (BEI) divulgou os resultados do novo Inquérito sobre o Clima, que mostram que as alterações climáticas e a degradação ambiental são agora consideradas como um dos principais desafios na maioria dos países da América Latina e das Caraíbas. Nomeadamente, 91% dos inquiridos acreditam que as alterações climáticas têm impacto na sua vida quotidiana e 88% são a favor de medidas governamentais mais rigorosas que obriguem as pessoas a adotar comportamentos respeitadores do clima.

O estudo coloca os desafios das alterações climáticas a par da violência e da criminalidade, da pobreza e da desigualdade, do desemprego e das disparidades sociais. Só na Argentina, no Chile e no Paraguai é que não figuram entre as cinco principais preocupações. 

As conclusões indicam também que 70% da população consideram que as alterações climáticas estão a afetar os seus rendimentos ou meios de subsistência. Este sentimento é partilhado por uma maioria em cada país, com os números a variarem entre 58% no Uruguai e mais de três quartos (77%) no Peru.

E 54% acreditam que poderão ter de se mudar para outra região ou país devido às alterações climáticas. Este sentimento é ainda mais forte entre os inquiridos mais jovens, com 59% de todos os inquiridos com menos de 30 anos a partilharem esta crença.

"O inquérito do BEI sobre o clima reflete a crescente consciência e preocupação dos cidadãos da América Latina e das Caraíbas relativamente aos perigos das alterações climáticas. Através do BEI Global, pretendemos estabelecer parcerias com os governos, as cidades e as empresas da região para apoiar a ação climática no terreno através de investimentos ecológicos e resilientes", salienta Ricardo Mourinho Félix, vice-presidente do BEI responsável pela América Latina e Caraíbas e pela investigação económica.

Cidadãos querem soluções sustentáveis

A análise apurou também que 80% dos inquiridos consideram que os governos deveriam dar prioridade aos investimentos em energias renováveis em detrimento dos combustíveis fósseis ou de outras fontes de energia não renováveis. 51% prefeririam fontes renováveis de grande escala, como centrais hidroelétricas, eólicas, solares ou geotérmicas, enquanto 29% prefeririam fontes renováveis de menor dimensão, como painéis solares nos telhados ou pequenas centrais hidroelétricas.

Esta preferência esmagadora pelos investimentos em energias renováveis reflete a crescente sensibilização dos latino-americanos e caribenhos para a importância da sustentabilidade e o papel das energias limpas no combate às alterações climáticas.

O inquérito mostra que existe apoio público à ação do governo. Nomeadamente, 88% dos inquiridos são a favor de que o governo implemente medidas mais rigorosas para combater as alterações climáticas. Este sentimento é predominante em toda a região, com os números a variarem entre 83% na Argentina e no Brasil e 95% no Peru. "Isto demonstra uma vontade de aceitar mudanças na política e no estilo de vida em prol da sustentabilidade ambiental a longo prazo", destaca o BEI em comunicado.

Quando questionados sobre qual deveria ser o principal objetivo do governo, 80% dos inquiridos disseram que o foco deveria ser o ambiente e o crescimento sustentável, em vez do crescimento económico a qualquer custo. Isto mostra que o público está consciente da ligação entre saúde ambiental e prosperidade económica e não está apenas preocupado com ganhos económicos imediatos.

Segundo Ambroise Fayolle, vice-presidente do BEI responsável pelo clima, estes resultados "evidenciam uma forte sensibilização do público para o facto de a transição ecológica poder ser uma força motriz do crescimento económico".

As políticas de combate às alterações climáticas e suas repercussões e de proteção do ambiente são vistas de forma positiva pelos inquiridos na região. 76% dos inquiridos acreditam que estas políticas irão melhorar a sua vida quotidiana, por exemplo, facilitando a compra de alimentos ou o acesso a cuidados de saúde.

Quase três quartos (72%) acreditam que estas políticas serão uma fonte de crescimento económico e de riqueza para o seu país, e mais de dois terços (68%) estão confiantes de que criarão mais empregos do que eliminarão.

O inquérito decorreu em 13 países da região da América Latina e das Caraíbas. No total, foram inquiridos mais de 10 000 cidadãos na Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador, México, Peru, Paraguai, Uruguai, Venezuela e no Panamá.

 

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