Outros sites Medialivre
Notícia

Utilização mundial de carvão atinge nível mais elevado de sempre em 2023

AIE prevê que a procura deverá diminuir nos próximos anos, mas assinala que são necessárias ações mais fortes para se cumprir os objetivos internacionais em matéria de clima. UE e EUA diminuem procura.

15 de Dezembro de 2023 às 10:28
Unsplash
  • Partilhar artigo
  • ...

A utilização mundial de carvão deverá atingir um nível recorde em 2023, uma vez que a procura nas economias emergentes e em desenvolvimento continua a ser forte, conclui um novo relatório da Agência Internacional da Energia (AIE) publicado nesta sexta-feira. A procura de carvão deverá aumentar 1,4% em 2023, ultrapassando pela primeira vez os 8,5 mil milhões de toneladas métricas.

O aumento global oculta diferenças acentuadas entre as regiões. Em 2023, o consumo deverá registar um declínio acentuado na maioria das economias avançadas, incluindo quedas recorde na União Europeia e nos Estados Unidos, de cerca de 20% cada.

Entretanto, a procura nas economias emergentes e em desenvolvimento continua a ser muito forte, aumentando 8% na Índia e 5% na China, em 2023, devido ao aumento da procura de eletricidade e à fraca produção de energia hidroelétrica.

Depois de ter atingido um máximo histórico este ano, a procura global de carvão deverá diminuir até 2026, de acordo com esta última edição do relatório anual sobre o mercado do carvão, sendo esta a primeira vez que o relatório prevê uma queda no consumo global de carvão durante o seu período de previsão.

Prevê-se que a procura global de carvão diminua 2,3% até 2026, em comparação com os níveis de 2023, mesmo na ausência de governos que anunciem e apliquem políticas mais fortes em matéria de energia limpa e clima. Este declínio deverá ser impulsionado pela grande expansão da capacidade de energias renováveis que entrará em linha nestes próximos três, destaca a análise.

Mais de metade desta expansão da capacidade global de energias renováveis deverá ocorrer na China, que representa atualmente mais de metade da procura mundial de carvão. Consequentemente, prevê-se que a procura chinesa de carvão diminua em 2024 e estabilize até 2026. Dito isto, as perspetivas para o carvão na China serão significativamente afetadas nos próximos anos pelo ritmo de implantação de energias limpas, condições meteorológicas e mudanças estruturais na economia chinesa.

O declínio previsto na procura global de carvão - que é atualmente a maior fonte de energia para a produção de eletricidade, siderurgia e produção de cimento, mas também a maior fonte de emissões de dióxido de carbono (CO2) da atividade humana - poderá marcar um ponto de viragem histórico, salienta a AIE.

 

No entanto, para atingir os objetivos estabelecidos pelo Acordo de Paris, a utilização de carvão não renovado teria de diminuir significativamente mais depressa, concluem os analistas.

"Já assistimos a declínios na procura mundial de carvão algumas vezes, mas foram breves e causados por acontecimentos extraordinários, como o colapso da União Soviética ou a crise da Covid-19. Desta vez parece diferente, pois o declínio é mais estrutural, impulsionado pela formidável e sustentada expansão das tecnologias de energia limpa", afirmou Keisuke Sadamori, diretor de Mercados e Segurança Energética da AIE. "Um ponto de viragem para o carvão está claramente no horizonte - embora o ritmo de expansão das energias renováveis nas principais economias asiáticas ditará o que acontecerá a seguir, e são necessários esforços muito maiores para cumprir as metas climáticas internacionais".

Esta queda no consumo de carvão na Europa é referida também pela GoldmanSachs num relatório publicado nesta semana, que indica estar 30% abaixo dos níveis mais elevados do ano passado e da média dos últimos cinco anos.

 

Ásia lidera consumo

O relatório da AIE conclui que a transferência da procura e da produção de carvão para a Ásia está a acelerar. Este ano, a China, a Índia e o Sudeste Asiático deverão representar três quartos do consumo mundial, contra apenas cerca de um quarto em 1990.

Prevê-se que o consumo no Sudeste Asiático ultrapasse, pela primeira vez, o dos Estados Unidos e o da União Europeia em 2023. Até 2026, a Índia e o Sudeste Asiático são as únicas regiões onde o consumo de carvão deverá registar um crescimento significativo.

Nas economias avançadas, a expansão das energias renováveis, num contexto de fraco crescimento da procura de eletricidade, deverá continuar a impulsionar o declínio estrutural do consumo de carvão.

Entretanto, espera-se que a China, a Índia e a Indonésia - os três maiores produtores mundiais de carvão - batam recordes de produção em 2023, elevando a produção mundial a um novo máximo em 2023. Estes três países são atualmente responsáveis por mais de 70% da produção mundial de carvão.

Prevê-se que o comércio mundial de carvão sofra uma contração devido à diminuição da procura nos próximos anos. No entanto, o comércio atingirá um novo máximo em 2023, impulsionado pelo forte crescimento na Ásia.

A AIE sublinha que as importações chinesas estão a caminho de atingir 450 milhões de toneladas, o que representa mais de 100 milhões de toneladas acima do anterior recorde mundial estabelecido pelo país em 2013, enquanto as exportações da Indonésia em 2023 se aproximarão dos 500 milhões de toneladas, também um recorde mundial.

Mais notícias