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Ainda que o último ano revele avanços no caminho para a sustentabilidade em Portugal, com uma maior sensibilização para os cidadãos e organizações, "muitos desafios persistem, dificultando um progresso mais significativo", refere Fernanda Santos, coordenadora do departamento de Formação e Educação da DECO. E embora os consumidores demonstrem cada vez mais preocupação ambiental, optando por produtos e serviços sustentáveis, "a proliferação de rótulos e alegações ambientais enganosas e não certificadas ("greenwashing") continua a dificultar escolhas conscientes", acrescenta.
A nível europeu foram dados passos positivos no sentido de aprovação da Diretiva das Alegações Ambientais, porém, "as negociações a fim de se chegar à configuração final da diretiva apenas terão início agora no novo ciclo legislativo, pelo que estas mudanças tardarão a fazer-se sentir", refere em jeito de balanço no Dia Nacional da Sustentabilidade, assinalado pelo segundo ano em Portugal a 25 de setembro.
Portugal é o primeiro país a celebrar o dia, instituído por resolução do Conselho de Ministros em 2023. A data é a mesma em que as Nações Unidas adotaram os ODS em 2025.
Na perspetiva da DECO, a revisão do Plano Nacional de Energia e Clima (PNEC) oferece uma "oportunidade crucial" para avançar na transição energética, mas "é necessário um maior alinhamento entre políticas públicas e privadas". Nomeadamente, dando-se prioridade à eficiência energética, reabilitação de edifícios, promoção de tecnologias eficientes e melhoria dos transportes públicos para uma mobilidade mais sustentável.
A descentralização da produção de energia, com a promoção do conceito de prosumer e a criação de comunidades de energia renovável, "também é uma área com grande potencial, desde que acompanhada de simplificação administrativa e uma remuneração justa pela energia injetada na rede", sublinha Fernanda Santos.
Salientando que as alterações climáticas estão no centro das preocupações dos portugueses e dos europeus, a DECO reconhece que o atual quadro de multicrises globais pode não ser favorável a mudanças comportamentais desta natureza. "Quando a segurança pessoal de cada um pode começar a estar ameaçada ou quando o custo de vida nos obriga a grandes restrições no orçamento familiar, as prioridades mudam. Embora as escolhas sustentáveis ajudem a estilos de vida mais saudáveis ou até a poupança significativas, pode passar para segundo plano em situações de emergência", refere a coordenadora.
Neste quadro, e com a sustentabilidade e a responsabilidade social a ganharem relevância, "as empresas desempenham um papel crucial como agentes de mudança". Ou seja, "a sustentabilidade é uma responsabilidade individual dos consumidores, mas uma obrigação também das empresas que produzem e distribuem os produtos e serviços", tendo em conta o impacto que têm nos comportamentos de consumo, através de práticas internas, dos produtos que oferecem e da forma como comunicam com os consumidores. Além disso, "as empresas devem investir em inovação para desenvolver produtos e serviços mais sustentáveis, aumentar a eficiência energética, reduzir a pegada de carbono e promover a economia circular. As suas decisões têm o poder de moldar todo o mercado, incentivando mudanças nas cadeias de valor e nos hábitos de consumo", refere Fernanda Santos.
Para ajudar a comunidade a conhecer a sua pegada de carbono, a associação dos consumidores disponibiliza a ferramenta LifestyleTest. Em Portugal já se realizaram mais de 7.300 testes com uma pegada média de 8.875 kgCO2e/pessoa/ano. "Isto significa que estamos longe da meta para 2030, em que seria de esperar que cada cidadão apresentasse uma pegada média de 2.500 Kg CO2e, de modo que o aumento da temperatura global não seja superior a 1,5 C°", diz. Alimentação e transportes são as áreas onde a pegada individual é maior.