- Partilhar artigo
- ...
Após a assinatura do Acordo de Paris, entre 2016 a 2022, 80% das emissões globais de CO2 podem ser atribuídas a apenas 57 entidades, empresariais e estatais, produtoras de combustíveis fósseis, revela um relatório do centro de investigação britânico InfluenceMap nesta quinta-feira.
A base de dados classifica as entidades em três tipos: empresas detidas por investidores, empresas estatais e Estados-nação. Historicamente, as empresas detidas por investidores são responsáveis por 31% de todas as emissões registadas na base de dados (440 GtCO2e), sendo a Chevron, a ExxonMobil e a BP os três maiores contribuintes, respetivamente. As empresas estatais estão ligadas a 33% do total da base de dados (465 GtCO2e), sendo a Saudi Aramco, a Gazprom e a National Iranian Oil Company os maiores contribuintes. Os Estados-nação representam os restantes 36% (516 GtCO2e), sendo a produção de carvão da China e da antiga União Soviética os maiores contribuintes.
Num total de 117 entidades existentes na base de dados Carbon Majors, com contabilização entre 1854 e 2022, a China encabeça a lista contribuindo para 14% das emissões. Segue-se a antiga União Soviética (6,82%), a Arábia Saudita (3,63%), a Chevron (2,98%) e a ExxonMobil (2,79%), naquele que será o top 5 da lista.
"A investigação da Carbon Majors mostra-nos exatamente quem é responsável pelo calor letal, pelo clima extremo e pela poluição atmosférica que está a ameaçar vidas e a causar estragos nos nossos oceanos e florestas. Estas empresas obtiveram milhares de milhões de dólares de lucros enquanto negavam o problema e atrasavam e obstruíam a política climática", comenta Tzeporah Berman, presidente do Tratado de Não-Proliferação de Combustíveis Fósseis.
A base de dados Carbon Majors conclui que a maioria das empresas estatais e detidas por investidores expandiu as suas operações de produção desde o Acordo de Paris. Nomeadamente, 58 das 100 empresas estavam ligadas a emissões mais elevadas nos sete anos após o Acordo de Paris do que no mesmo período anterior. Este aumento é mais acentuado na Ásia, onde 13 em cada 15 (87%) empresas avaliadas estão ligadas a emissões mais elevadas em 2016-2022 do que em 2009-2015, e no Médio Oriente, onde este número é de 7 em cada 10 empresas (70%).
Na Europa, 13 de 23 empresas (57%), na América do Sul, 3 de 5 (60%) empresas, e na Austrália, 3 de 4 (75%) empresas estão ligadas a um aumento das emissões, tal como 3 de 6 (50%) empresas africanas. A América do Norte é a única região em que uma minoria de empresas, 16 de 37 (43%), foi associada ao aumento das emissões.
A análise dos dados da Carbon Majors mostra que, no período de sete anos após o Acordo de Paris, se registou uma mudança gradual na oferta de carvão, passando de empresas detidas por investidores para entidades controladas pelo Estado.
De acordo com a Agência Internacional de Energia, o consumo mundial de carvão aumentou quase 8% entre 2015 e 2022, atingindo um máximo histórico de 8,3 mil milhões de toneladas em 2022. Este estudo conclui que, entre 2015 e 2022, as emissões de CO2e associadas à produção de carvão detida pelos investidores diminuíram 28%, enquanto as emissões de CO2e associadas à produção de carvão das empresas públicas e dos Estados nacionais aumentaram 29% e 19%, respetivamente.
Estas entidades "estão a gastar milhões em campanhas publicitárias sobre o facto de fazerem parte de uma solução sustentável, ao mesmo tempo que continuam a investir na extração de mais combustíveis fósseis. Estas conclusões sublinham que, mais do que nunca, precisamos que os nossos governos façam frente a estas empresas e precisamos de uma nova cooperação internacional através de um Tratado sobre Combustíveis Fósseis para acabar com a expansão dos combustíveis fósseis e garantir uma transição verdadeiramente justa", defende Tzeporah Berman.