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Indústria do café com dificuldade em cumprir legislação da UE contra desflorestação

As novas regras estabelecem a proibição de comercialização na União Europeia de produtos danosos para as florestas. Óleo de palma, gado, madeira, café, cacau e soja entre os produtos abrangidos.

Sónia Santos Dias 18 de Abril de 2024 às 10:29
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A indústria de café está a ter dificuldades em cumprir os prazos da nova lei da União Europeia (UE) que obriga as empresas a garantir que os produtos vendidos neste espaço não contribuíram para a desflorestação ou degradação florestal no mundo. Com entrada em vigor no final de 2024, a nova lei prevê multas pesadas para quem não a cumprir.

Segundo a Peet's, uma das maiores empresas de café do mundo, a indústria do café considera o calendário muito apertado para cumprir os novos requisitos e pedem mais tempo. "É evidente que o prazo é muito, muito apertado. Estamos a fazer o que podemos para terminar a tempo", afirmou Laurent Sagarra, vice-presidente de Sustentabilidade da JDE Peet's à Reuters.

Os países produtores também criticam a lei, afirmando que é discriminatória e que as novas regras podem acabar por vedar o acesso dos pequenos agricultores ao lucrativo mercado da UE.

O seu receio é que os agricultores de regiões rurais remotas possam, por exemplo, ser incapazes de fornecer aos compradores dos seus produtos as coordenadas de geolocalização para provar que as suas explorações não se encontram em terras desflorestadas após 2020, um dos principais requisitos da lei.

A Comissão Europeia afirmou à Reuters que as suas "portas estão abertas a discussões com o setor e não só respondemos a quaisquer questões de implementação que possam ter, como também publicamos orientações extensas com base nas trocas de impressões até agora".

A JDE Peet's assinou acordos com a Etiópia, Papua Nova Guiné, Tanzânia, Uganda, Peru, Honduras e Ruanda para cartografar e monitorizar as suas regiões de cultivo de café utilizando imagens de satélite de alta resolução, inteligência artificial e verificação no terreno.

Mas a empresa ainda tem de assinar acordos com mais 20 países muito antes do final deste ano para garantir que pode continuar a importar café de várias origens no próximo ano, uma vez que o café vendido é geralmente uma mistura de diferentes variedades de grãos. Mesmo os pequenos países produtores de café são importantes para que os torrefatores mantenham o sabor caraterístico dos seus produtos, defende a indústria.

Os torrefatores também necessitam de uma base de abastecimento diversificada para o caso de condições meteorológicas adversas ou doenças afetarem as colheitas de um país ou de uma região numa determinada estação. "Estamos a colaborar com (praticamente) todo o mundo do café, há 27 países com os quais estamos a colaborar", afirmou Sagarra à agência noticiosa.

Em março passado, 20 Estados-Membros da UE pediram ao bloco para reduzir a lei e possivelmente suspendê-la temporariamente devido a preocupações de que mesmo os agricultores da UE terão dificuldade em preencher todos os requisitos necessários para provar que os seus produtos não provocaram desflorestação.

Prevê-se também que o processo seja dispendioso. Sagarra não forneceu pormenores sobre os custos, sublinhando que o objetivo de eliminar a desflorestação das cadeias de abastecimento vai para além da UE.

Indica que as empresas de todo o mundo - sob pressão dos investidores e dos consumidores preocupados com o clima - introduziram os seus próprios objetivos para eliminar os danos ambientais das suas cadeias de abastecimento. "Não é só a UE, muitas empresas têm objetivos climáticos, porque estar livre de desflorestação é uma vantagem competitiva. O café proveniente de países com elevada desflorestação tornar-se-á menos atrativo no futuro", afirmou Sagarra.

 

 

 

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