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A desinformação, os eventos climáticos extremos e a polarização ocupam o pódio dos riscos que o mundo enfrenta nos próximos dois anos, segundo o Relatório sobre Riscos Globais 2024, divulgado esta semana pelo Fórum Económico Mundial.
A análise explora alguns dos riscos mais graves que poderemos enfrentar na próxima década, num contexto de rápida evolução tecnológica, incerteza económica, aquecimento do planeta e conflitos. "À medida que a cooperação fica sob pressão, as economias e sociedades enfraquecidas podem precisar apenas do mais pequeno choque para ultrapassar o ponto de rutura da resiliência", assinala o relatório.
Tendo por base a opinião de mais de 1400 especialistas em riscos globais, decisores políticos e líderes da indústria, o relatório coloca como ameaça imediata os riscos climáticos extremos, para 66% da amostra, a inteligência artificial e a desinformação, para 53%, e a polarização política, para 46%. O custo de vida (42%) e os ciberataques (39%), fecham o top 5. Mas a desinformação sobe ao primeiro lugar numa análise a dois anos, à medida que a inteligência artificial vai ficando mais robusta.
Segundo o FEM, estes resultados destacam uma perspetiva predominantemente negativa para o mundo nos próximos dois anos, que deverá piorar na próxima década. A maioria dos inquiridos (54%) prevê alguma instabilidade e um risco moderado de catástrofes globais, enquanto outros 30% esperam condições ainda mais turbulentas. As perspetivas são marcadamente mais negativas no horizonte de 10 anos, com quase dois terços dos inquiridos a preverem um panorama tempestuoso ou turbulento.
Para o FEM, quatro forças estruturais irão moldar a materialização e a gestão dos riscos globais durante a próxima década. Nomeadamente as trajetórias relacionadas com as alterações climáticas; as alterações no crescimento e estrutura das populações em todo o mundo; a aceleração tecnológica; e as mudanças geoestratégicas.
"Um novo conjunto de condições globais está a tomar forma em cada um destes domínios e estas transições serão caracterizadas pela incerteza e volatilidade. À medida que as sociedades procuram adaptar-se a estas forças em mudança, a sua capacidade de preparação e de resposta aos riscos globais será afetada", sublinha o FEM.
Numa visão a 10 anos, os riscos climáticos ocupam os quatro lugares cimeiros, nomeadamente, os eventos climáticos extremos, seguidos das alterações críticas dos sistemas terrestres, a perda de biodiversidade e colapso de ecossistemas e a redução das fontes naturais. A poluição ocupa o 10 lugar desta tabela.
Sobre os riscos climáticos, a associação ambientalista internacional WWF já veio destacar este facto de que, embora a desinformação seja considerada o maior risco nos próximos dois anos, os riscos ambientais dominam num período de 10 anos.
"As crises interligadas das alterações climáticas e da perda de biodiversidade contam-se entre os riscos mais graves que o mundo tem de enfrentar e não podem ser resolvidas isoladamente. Acabámos de viver o ano mais quente de que há registo, com vidas e meios de subsistência devastados por ondas de calor abrasadoras e inundações e tempestades catastróficas. Se não tomarmos medidas urgentes, a ameaça só poderá intensificar-se, aproximando-nos de danos irreversíveis para a sociedade e os ecossistemas", afirma Kirsten Schuijt, diretora-geral da WWF International.
Estas conclusões vêm juntar-se à recente análise da Agência Europeia do Ambiente, que mostra que a União Europeia corre o risco de não cumprir a maioria dos seus objetivos em matéria de política ambiental para 2030. "Antes das eleições europeias, os partidos políticos devem demonstrar o seu empenhamento em salvaguardar o futuro do nosso planeta e cumprir a promessa do Pacto Ecológico Europeu. Para tal, é necessária uma reformulação fundamental da nossa economia, a fim de a libertar mais rapidamente dos combustíveis fósseis e de utilizar plenamente os ecossistemas saudáveis como o nosso aliado mais forte. Só assim a UE poderá garantir a segurança e o bem-estar dos seus cidadãos e aumentar a sua autonomia e resiliência", acrescenta Ester Asin, diretora do Gabinete de Política Europeia da WWF.