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Portugal esgotou neste domingo os seus recursos naturais para 2023, o que significa que passa a viver de crédito ambiental até ao final do ano.
As contas são da ZERO, em parceria com a Global Footprint Network, que atualiza anualmente os dados relativos à pegada ecológica de Portugal. Este ano, o país manteve o dia em que a sua pegada ecológica começa a exceder os recursos disponíveis para alimentar o nosso estilo de vida.
Tal significa que, se cada pessoa no planeta vivesse como uma pessoa média em Portugal, a humanidade exigiria cerca de 2,9 planetas para sustentar as suas necessidades de recursos. Tal implicaria que a área produtiva disponível para regenerar recursos e absorver resíduos a nível mundial esgotar-se-ia no dia 7 de maio.
Segundo a ZERO, "Portugal é, já há muitos anos, deficitário na sua capacidade para fornecer os recursos naturais necessários às atividades desenvolvidas de produção e consumo. O mais preocupante é que a dívida ambiental portuguesa tem vindo a aumentar".
A associação destaca que o modelo de produção e consumo que suporta o nosso estilo de vida é responsável por este desequilíbrio. "O consumo de alimentos (30% da pegada global do país) e a mobilidade (18%) encontram-se entre as atividades humanas diárias que mais contribuem para a pegada ecológica de Portugal e constituem assim pontos críticos para intervenções de mitigação da pegada", sublinha a associação.
Um estudo recente realizado pela ZERO concluiu que ainda muito falta fazer na área da economia circular. Segundo dados do Eurostat, a circularidade dos materiais em Portugal é de apenas 2,2%, quando a média comunitária está quase nos 13%. Também na área da alimentação, a balança alimentar portuguesa indica que consumimos cerca de três vezes mais a proteína animal necessária, mas somos deficitários no consumo de legumes, fruta e leguminosas. O país, privilegia, assim, o consumo dos alimentos com maior pegada ecológica.
Na área da mobilidade, por exemplo, apenas 9,7% do consumo final bruto de energia nos transportes provém de fontes renováveis, segundo dados do Eurostat.
Para reduzir a dívida ambiental portuguesa, a ZERO defende que o país deve apostar numa agricultura promotora da soberania alimentar, com produção de alimentos de qualidade; preservação dos solos, redução da poluição e do uso de água; valorização de serviços de ecossistema; e aposta em circuitos curtos agroalimentares). Deve aproveitar o potencial de redução de deslocações e viagens através do teletrabalho e da realização de eventos em formato virtual.
Deve investir na criação de infraestrutura que permitam uma utilização significativa de modos suaves de transporte, como a bicicleta e o transporte público. E deve regulamentar para que os produtos colocados no mercado sejam sustentáveis.