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O Movimento Unidos Contra o Desperdício (MUCD) estima que cada português desperdice cerca de 100 kg de alimentos por ano, o que perfaz um milhão de toneladas de alimentos que vão diretamente para o lixo. "O desperdício alimentar tem elevados custos ambientais, sociais e económicos", refere Francisco Mello e Castro, coordenador do MUCD, no Dia Mundial de Consciencialização para as Perdas e o Desperdício Alimentar, assinalado a 29 de setembro.
A nível ambiental, é responsável por 10% do total de emissões de gases de efeito de estufa (GEE), o que significa que "se considerássemos o desperdício alimentar como um país seria o 3º mais poluente do mundo", acrescenta Mello e Castro. Acresce que 38% do consumo de energia no sistema global alimentar são dedicados à produção de comida que é desperdiçada ou perdida.
Os custos sociais são também "gravíssimos". Tendo em conta que um terço de todos os alimentos produzidos no mundo são desperdiçados, segundo a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), "temos ao mesmo tempo 700 milhões de pessoas que vivem na pobreza e com grandes dificuldades de acesso a bens de consumo básico. Há aqui um desequilíbrio enorme", destaca.
Uma realidade que tende a piorar com o continuar da guerra na Ucrânia, a inflação e a crise energética e que "está à nossa volta". "Nós temos um milhão e seiscentos mil portugueses que vivem abaixo do limiar da pobreza, ou seja, que vivem com menos de 540€ por mês. É a realidade do nosso país, não está longe", salienta.
Estima-se também que o impacto económico do desperdício alimentar seja de 1.5 mil milhões de euros, sendo os consumidores responsáveis por praticamente 40% do desperdício total. Tal significa que os outros 60% são partilhados pelas várias fases da cadeia de valor, nomeadamente agricultura, indústria, logística a e distribuição. "Cada setor tem muito menos peso do que tem o consumidor individualmente e esta é que é a grande questão", destaca coordenador do MUCD, ressaltando a necessidade de sensibilizar o consumidor para não desperdiçar alimentos.
"Continuamos a viver numa certa ditadura de estética. Não é porque o supermercado não quer ter fruta feia nas prateleiras, é porque o cliente prefere escolher a maçã bonita e, portanto, há aqui uma consciência que temos de pressionar", refere Mello e Castro. A constatação serve de mote para a nova campanha contra o desperdício que hoje arranca por todo o país, onde o MUCD pretende transmitir boas práticas. Nomeadamente as praticadas na distribuição, onde "já existem exemplos fantásticos daquilo que já está a ser feito nesse domínio", tais como "o bolo de banana que é feito com bananas maduras que já não podem ser vendidas, sopas que são feitas com cascas e com os legumes mais tocados, etc.".
Porém, se a solução do lado do consumidor passa pela sensibilização, na restante cadeia de valor, para além da sensibilização, a legislação também desempenha um papel fundamental no combate ao desperdício. França foi o primeiro país do mundo a adotar uma lei contra o desperdício alimentar, em 2016, obrigando as superfícies comercias com mais de 400 m² a doar produtos que não foram vendidos, em vez de os destruir. Itália e Finlândia já lhe seguiram o exemplo.
No caso de Portugal, não existe tal imposição. No entanto, Mello e Castro considera que o supervisor tem "feito um caminho positivo", no sentido de "flexibilizar as regras que eram muito restritas e penalizadoras" relativas a quebras ou produtos em fim de vida, de forma a escoá-los para associações humanitárias.
Sendo um problema grave com que a sociedade tem de lidar, o responsável considera que "temos que olhar para isto de uma vez por todas com mais seriedade e urgência, porque ainda vamos a tempo de inverter esta tendência".