Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Opinião
14 de Dezembro de 2014 às 19:18

E você, é bom gestor?

Em vez de gastarem tanto do seu tempo a criticarem a gestão no sector público, como se o Estado pudesse ser a raiz da maior parte dos males do País, muitos dos responsáveis empresariais deveriam aproveitar alguma dessa energia para promoverem uma reflexão sobre as suas próprias práticas de gestão.

  • ...

 

Vários empresários indignaram-se com a afirmação feita pelo governador do Banco de Portugal de que as empresas nacionais são mal geridas. Fizeram mal. Há naturalmente evoluções e exemplos muito positivos, mas esses não nos devem distrair de uma ideia central: numa economia globalizada, a excelência na gestão é decisiva e todos os indicadores que temos apontam para um défice de formação, de capacidade de gestão e de iniciativa empresarial no País.

 

Um dos primeiros textos que escrevi nesta coluna de opinião ("Os patrões precisam de ir à escola") evidenciou o baixo nível de qualificação dos empresários como um dos desafios do País e dos temas que deveria fazer parte da agenda de reformas do programa de ajustamento troika. Dois anos depois concluímos que nada disso aconteceu: a troika falou muito de dívida pública e de salários altos para a produtividade, mas muito pouco de patrões e de estratégias para melhorar o défice de capacidade de gestão. Carlos Costa chega tarde, mas tem razão.

 

O governador cita um estudo (Bloom, Genakos, Sadun e Reenen, NBER, 2012, entretanto actualizado) de que analisa as práticas de gestão em cerca de 10.000 organizações em 20 países, e conclui que Portugal está no meio do ranking na qualidade de gestão, perto da Irlanda e do Chile, mas à mesma distância da Etiópia, Moçambique e Gana, (os três piores classificados) do que dos EUA, Japão, ou Alemanha (os três melhores).

 

Vale a pena olhar com mais detalhe para o contributo destes investigadores que defendem que até um terço da menor produtividade pode ser explicado por défices de gestão empresarial. A análise suporta que os gestores portugueses sabem medir e avaliar resultados, mas ficam atrás na capacidade de definir metas e incentivos para as suas equipas e projectos. É um velho problema que, arriscaria a dizer, é pelo menos pressentido pela maioria de nós. Os resultados de deixam-nos ainda outras conclusões importantes. Por exemplo:

 

– Dentro de cada País, e Portugal não é excepção, há uma dispersão grande de práticas.

– A gestão tende a ser pior em empresas públicas e em empresas familiares, por contraponto a multinacionais e companhias com gestores profissionais.

– Quanto maior a concorrência e os níveis de formação de patrões e empregados, melhores as práticas de gestão.

– A dimensão conta: quanto maior empresa, melhores as práticas de gestão.

 

Em vez de gastarem tanto do seu tempo a criticarem a gestão no sector público, como se o Estado pudesse ser a raiz da maior parte dos males do País, muitos dos responsáveis empresariais deveriam aproveitar alguma dessa energia para promoverem uma reflexão sobre as suas próprias práticas de gestão, e como podem ser melhoradas através da intensificação de actividades de formação e de "networking" internacional. Os governos deveriam fazer a sua parte, estimulando a formação de gestores, em particular nas PME, e promovendo a fusão de empresas e a inovação, como aliás recomendado já no passado a nível europeu.

 

Na última década e meia Portugal caiu numa armadilha de crescimento baixo que precisa de ser ultrapassada. Há vários choques externos que contribuem para esta estagnação (da moeda única à concorrência chinesa), mas como evidenciaram recentemente três economistas da Universidade do Porto (Mendes, Silva, Silva, FEP, 2014) não devemos ignorar que Portugal tem usado de forma ineficiente os recursos disponíveis. Os gestores são essenciais para inverter esta situação. Para início de debate talvez possam começar por responder a uma simples questão: e, você, pensa que é bom gestor?

Ver comentários
Mais artigos de Opinião
Ver mais
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio