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Os deuses devem estar loucos

A banca deve estar louca. A última garrafa de Coca-Cola a cair do céu, na cabeça das empobrecidas tribos consumistas – o financiamento de arrendamentos, que faz hoje manchete do Negócios – é de aplaudir, de um ponto de vista criativo, mas de lamentar, do ponto de vista financeiro, económico e até bancário.

A banca deve estar louca. A última garrafa de Coca-Cola a cair do céu, na cabeça das empobrecidas tribos consumistas – o financiamento de arrendamentos, que faz hoje manchete do Negócios – é de aplaudir, de um ponto de vista criativo, mas de lamentar, do ponto de vista financeiro, económico e até bancário.


Esta iniciativa mostra que as práticas predadoras de margem que conduziram à génese da gravíssima crise económica dos Estados Unidos e Europa, não desapareceram dos dossiês dos directores-financeiros mais sofisticados. Isso tem sido evidente na "falta de dentes" da reforma regulatória norte-americana, onde tudo começou. Na Europa, ainda se fazem "papers" sobre o assunto, sem qualquer noção do caminho concreto a seguir.

Os derivados – como os "swaps" de taxas de juro ou o empacotamento mundial de risco hipotecário no Iowa – foram o expoente máximo de um abstraccionismo financeiro que ignorou as regras mais básicas de risco. O contágio internacional do "subprime" teve como problema central o desequilíbrio entre a sofisticação de quem vende e ambição ignorante de quem compra. Financiar rendas é um pormenor, nesta gigantesca teia virtual. Mas faz parte da mesma cultura, de criar necessidades abstractas que visam apenas o aumento da margem. Sem lógica financeira que a sustente.

A lógica ditaria que quem não pode arrancar com um processo de arrendamento tem um elevado risco de não ter capacidade para cumprir com o pagamento regular das rendas. E nem se percebe qual a garantia que viabiliza este crédito.

Por outro lado, dadas as taxas de incumprimento das prestações bancárias que a actual crise provocou, os principais candidatos a esta iniciativa da banca dificilmente deixarão de ser muitos clientes bancários com problemas em cumprir com o pagamento regular das suas prestações no crédito habitação.

Aliado a isto, há o objectivo de fidelizar o cliente com a subscrição de produtos que não são necessários ou não se adequam ao seu perfil. À imagem dos "swaps" subscritos, por exemplo, por empresas públicas...

Esta prática não está generalizada no mercado, o que é uma boa notícia. Antes que se generalize, esperemos que o Banco de Portugal faça alguma coisa. De qualquer forma, o sinal de alarme está dado, se é que ainda era preciso: quando as rédeas ficarem soltas, os criativos financeiros vão voltar. "With a vengeance".

*Editor de Empresas
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