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Brincar aos pobrezinhos

Os resultados semestrais da banca só surpreendem mesmo os analistas, que não devem entrar num banco, a não ser pela porta dos administrativos.

O BCP foi o último a confirmar o que temia qualquer cliente, accionista ou contribuinte que queira fazer um depósito ou esclarecer uma dúvida numa qualquer agência bancária que não tenha ainda sido fechada. Gerir um banco nesta fase da crise económica é tão recompensador como instalar aquecimento central numa cabana com telhado de colmo. 


Enquanto os balcões continuam às moscas (ou mosquitos), os bancos vão ocupando o tempo a fazer limpezas forçadas, em especial de crédito malparado. Os números não deixam margem para grandes dúvidas sobre o impacto que a receita da austeridade está a ter na actividade.

O BPI conseguiu manter lucros, mas baixou-os em 30%. As imparidades por crédito malparado aumentaram 2,8% para 150,6 milhões de euros. O BES passou de um lucro de 25,5 milhões de euros no primeiro semestre do ano passado, para um prejuízo de 237,4 milhões entre Janeiro e Junho deste ano. Um resultado explicado pela provisão de 553,1 milhões de euros (+57,1%) relacionada com o malparado.

E o banco liderado por Ricardo Salgado foi especialmente descritivo na apreciação do seu desempenho: "As consequências da recessão económica, principalmente ao nível das empresas, determinaram o aumento do número de insolvências com impacto directo nas imparidades e no provisionamento e afectaram negativamente as receitas".

Já o BCP apresentou esta segunda-feira imparidades de crédito no valor de 476,5 milhões de euros, mais 2%. E a margem financeira e a produção bancária sofreram reduções na casa dos 30%. O prejuízo semestral, esse, "melhorou"... de 544 para 488 milhões de euros.

Numa economia a passar por um trágico período de metadona creditícia, a idade das trevas por que passa a banca é o retrato mais institucional do empobrecimento forçado do País. A banca não tem crédito para dar – perante a necessidade de cumprir rácios artificiais de capital – nem tem a quem dar – pela aniquilação da economia consumista. No fundo, citando a já popular familiar de Ricardo Salgado (Cristina Espírito Santo, ao Expresso deste fim-de-semana), os bancos andam a "brincar aos pobrezinhos", num país em descontrolada espiral "rústica" e a caminho de uma imprevisível "casa selvagem".


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