Opinião
Porque Assunção estava de férias
Vê-se e não se acredita: "O assunto BES nunca foi discutido em Conselho de Ministros com profundidade." Assunção Cristas estava lá, não está a faltar à verdade, tem memória aprimorada como mostra na sua longa conversa com o Público.
Lendo, procura-se alguma razão para o sucedido. O colapso do BES era um temor e, certamente, estava na linha de preocupações de um Governo responsável. Também por isso terá sido "referido" à mesa dos ministros. "Referido apenas."
Apenas, na memória de Assunção que não trai o perceptível. Sigamos, então, o que nos pode ajudar a entender o inatingível. Explica a ex-ministra: "A banca e o pilar financeiro do resgate eram tratados pelo Banco de Portugal (…), o Governo não deveria meter-se nessas questões. Essa foi sempre a visão do primeiro-ministro. Portanto, o Conselho de Ministros nunca foi envolvido nas questões da banca." É uma explicação.
Claro que Assunção, que foi ministra de primeira linha e agora se candidata a Lisboa, tem hoje uma outra leitura de um processo que puxou o país para o escuro. Porque se a resolução do BES foi tomada pelo Banco de Portugal, teve de ter a aprovação do Governo. E aí, volta a ler-se e arrepia. Diz a ex-ministra: "Estava no início de férias e recebo um telefonema da ministra das Finanças: Assunção, por favor, vai ao teu email e dá o OK." Assunção foi, deu o OK à resolução do BES e voltou a banhos.
Assim, sem mais, porque como se "pode imaginar, de férias e à distância, a única coisa que podemos fazer é confiar". Eis o nosso azar, o de um país todo que está e vai pagar milhões por uma ministra (e outros, certamente) ter estado ausente num momento crucial de decisão.
É legítima a dúvida. Teria sido assim se Assunção Cristas não estivesse de férias? E, tesa como parece ser, levantasse a questão que a própria agora sugere: "Não houve discussão, nem pensámos em alternativas possíveis." Como é possível crer e legitimar sem qualquer objecção uma experiência inédita no universo financeiro? Foi, e essa irresponsabilidade fica como marca de um Governo que, em certas circunstâncias, parece ter querido alhear-se da realidade.
Por este exemplo trágico na forma como foi assumido, percebe-se a natureza de um Governo que fez o que tinha de ser feito, mas subjugou nesse princípio todo um resto que, em determinadas circunstâncias como a implosão do BES, era quase tudo. O Governo Passos/Portas quis uma saída limpa e nesse objectivo esgotou toda a sua determinação política. Fez mal.
E de pouco vale a flor na lapela de terem deixado Ricardo Salgado à porta do Conselho de Ministros. Agora percebe-se porquê: eles não queriam outros problemas e outras dores de cabeça. Foi pena Assunção ter ido de férias…
P.S.: O Montepio cheira a BES. Já vimos a mudança de nome servir para tentar travar o contágio. Será que desta vez é suficiente?
Apenas, na memória de Assunção que não trai o perceptível. Sigamos, então, o que nos pode ajudar a entender o inatingível. Explica a ex-ministra: "A banca e o pilar financeiro do resgate eram tratados pelo Banco de Portugal (…), o Governo não deveria meter-se nessas questões. Essa foi sempre a visão do primeiro-ministro. Portanto, o Conselho de Ministros nunca foi envolvido nas questões da banca." É uma explicação.
Assim, sem mais, porque como se "pode imaginar, de férias e à distância, a única coisa que podemos fazer é confiar". Eis o nosso azar, o de um país todo que está e vai pagar milhões por uma ministra (e outros, certamente) ter estado ausente num momento crucial de decisão.
É legítima a dúvida. Teria sido assim se Assunção Cristas não estivesse de férias? E, tesa como parece ser, levantasse a questão que a própria agora sugere: "Não houve discussão, nem pensámos em alternativas possíveis." Como é possível crer e legitimar sem qualquer objecção uma experiência inédita no universo financeiro? Foi, e essa irresponsabilidade fica como marca de um Governo que, em certas circunstâncias, parece ter querido alhear-se da realidade.
Por este exemplo trágico na forma como foi assumido, percebe-se a natureza de um Governo que fez o que tinha de ser feito, mas subjugou nesse princípio todo um resto que, em determinadas circunstâncias como a implosão do BES, era quase tudo. O Governo Passos/Portas quis uma saída limpa e nesse objectivo esgotou toda a sua determinação política. Fez mal.
E de pouco vale a flor na lapela de terem deixado Ricardo Salgado à porta do Conselho de Ministros. Agora percebe-se porquê: eles não queriam outros problemas e outras dores de cabeça. Foi pena Assunção ter ido de férias…
P.S.: O Montepio cheira a BES. Já vimos a mudança de nome servir para tentar travar o contágio. Será que desta vez é suficiente?
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